Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita terça, 23 de outubro de 2018

MÁRIO LIMA

 

 
 
MÁRIO LIMA

Nesse mês de outubro de 2018 meu pai faria 110 anos. Eu o amava, eu o admirava. O general Mário Lima educou os filhos pelo exemplo, por suas atitudes. Homem de pouco falar, de muito agir, dedicou sua vida à família, aos amigos e principalmente à sua terra. Foi um homem íntegro, capaz, corajoso; uma das grandes figuras do século XX das Alagoas.

Iniciou sua vida adulta muito cedo, fez concurso para a Escola Militar de Realengo. Ao sair aspirante em 1930 foi servir no 5º Regimento de Infantaria em Lorena, interior de São Paulo. No início de 1932 conseguiu transferência para o 20º Batalhão de Caçadores em Maceió. O destino foi cruel, em julho de 1932 rebentou a Revolução Constitucionalista (ou separatista) de São Paulo. O 20º BC foi uma das tropas legalistas designada para lutar contra os revoltosos paulistas. O tenente Mário Lima embarcou como comandante da 1ª Companhia de Fuzileiros do 20º BC no porto de Maceió para combater os paulistas, combater seus amigos do 5º RI, cujo comandante era destacado revoltoso. A revolução de 1932 foi o maior genocídio do Brasil, morreram milhares de brasileiros. Recentemente fiquei com maior orgulho quando li um livro sobre a Revolução de 1932, o tenente Mário Lima aparece como herói daquela guerra. Arriscou sua vida no meio do tiroteio arrastando para trincheira um capitão e um soldado, feridos, no campo de batalha. No livro tem o depoimento de um soldado do 5º Regimento de Infantaria que recusou atirar contra a tropa do 20º BC, pois seu ex chefe, tenente Mário Lima, estava naquela tropa. Os paulistas perderam a guerra. O Vale do Paraíba foi ocupado pelas tropas legalistas, o mais sangrento campo de batalha da História do Brasil, brasileiros contra brasileiros. O tenente Mário Lima foi designado como “prefeito de ocupação” do Vale do Paraíba, teve uma atuação humanitária com os irmãos brasileiros revoltosos que perderam a guerra. Essas e outras histórias constam no livro dos próprios paulistas, do historiador Wanderley Gomes Sardinha.

Mário Lima serviu por muitos anos em Maceió. Seu trabalho extrapolava as atividades militares. Desportista, meteu-se em futebol, equitação, foi até juiz de históricas partidas de futebol. Quando havia um CRB x CSA era juiz de fora ou o tenente Mário Lima para apitar, embora ele fosse notório torcedor do CRB a diretoria do CSA aprovava sua atuação como juiz da partida. Foi presidente da FAD, do CRB, Fênix. Até recentemente, o campeão do primeiro turno do campeonato alagoano ganhava a Taça Mário Lima.

Serviu quase toda vida no 20º BC, ele chamava com muito orgulho de “Meu Batalhão”. Sua vida social dentro da comunidade foi intensa. Quando coronel comandante do 20º BC, no início dos nos 50, Alagoas passava uma fase política conturbada, Mário Lima teve uma atuação destemida, evitou um grande derramamento de sangue, garantiu com a tropa do Exército a eleição. Foi um homem que soube diferençar exageros. Amenizou a cadeia de muitos comunistas. Ao se reformar do Exército dedicou-se ao trabalho na Santa Casa, no Orfanato São Domingos, na TELASA e tornou-se professor de matemática, para ajudar a criar os filhos.

No domingo anterior ao carnaval havia o banho de mar à fantasia na Avenida da Paz. Mário Lima, cedo, preparava dois caldeirões de laco-paco, batida de maracujá e mel de abelha, para servir aos blocos que visitavam sua casa. Após o desfile defronte à Fênix, todos os blocos, Vulcão, Bomba Atômica, Cavaleiro dos Montes, Vou Botar Fora, entre outros, dirigiam-se à nossa casa. Os músicos eram servidos com laco-paco, cerveja, tira-gosto. Em seguida tocavam frevos rasgados e nós caíamos no passo naquele enorme terraço. Quando o bloco saía, acompanhávamos até a Avenida, retornando correndo para pegar outro bloco que já esquentava a garganta. Tornou-se tradição a visita de blocos durante o banho de mar à fantasia na casa da Silvério Jorge. Os amigos caíam no passo com muita alegria, não perdiam o carnaval improvisado.

Hoje, domingo sem festa e sem fantasia, lembro os carnavais passados e meu velho amigo, meu pai, meu herói, Mário Lima. Ele ainda habita nossas recordações, nossas mentes e corações. Estaria preocupado com a situação do país, era um democrata. Semana passada encontrei uma carta que meu pai enviou em 1956 quando eu cursava a Escola Preparatória de Cadetes do Exército, me aconselhava:

“..Pensa sempre no bem do Brasil. Sirva mesmo de rumo aos teus atos e ações o pensamento constante na grandeza da Pátria querida. Porém jamais te cumplicies aos aventureiros da política malsã que infelizmente ainda infesta o Brasil. Seja sempre digno, mantenha sempre bem alto o alvo de tuas ambições e afetos; porém também sempre te lembres que são injustificáveis as “quarteladas” e a “ditadura”…

Guardo essa carta há 62 anos, minha bíblia.


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