Raimundo Floriano
Marinalva no começo da carreira
No dia 07.05.12, quando lancei aqui no JBF o perfil de Marivalda, a Forrozeira da Amazônia, muitos estranharam, achando que eu me confundira, trocando o nome da Marinalva, de quem eu nunca ouvira. Só se convenceram diante das evidências comprobatórias, ou seja, das imagens de vários registros fonográficos de Marivalda. Houve um, o Augusto TM, que postara em seu blog Toque Musical matéria falando sobre uma, mas pensando que ela fosse a outra, com a única informação concreta: Marinalva era irmã de Marinês.
Depois disso, entrei em contato com alguns curtidores do Forró, e a maioria, ou também nunca ouvira falar de Marinalva, ou escutara o canto da cigarra não se sabia onde, e a informação era samba de uma nota só: Marinalva era irmã de Marinês.
Senti-me, então, desafiado a produzir algo que resgatasse a memória dessa forrozeira, postando aqui o resultado de minha pesquisa, à disposição de todos.
Raciocinando que Marinês nascera na cidade pernambucana de São Vicente Ferrer, procurei entrar em contato com o Cartório do Registro Civil daquela cidade, no intuito de conseguir qualquer documento referente a Marinalva: certidão de nascimento ou de óbito, caso ali existissem. Não foi fácil.
De cara, o número telefônico da referida repartição não consta da Telelista.net. Assim, apelei aos leitores do JBF, sendo orientado pala redação a dirigir-me ao número de um celular que obtivera não sei de que modo. Viva! Hip, hurra! Até enfim, consegui falar com alguém de lá, não sei se serventuário ou titular do órgão. Expus o problema e solicitei uma busca, mediante pagamento das custas, evidentemente. Mandaram que eu ligasse dali a uma semana.
No prazo estipulado, entrei em contato, mas o pessoal de lá havia se esquecido de minha solicitação. Alguém marcou para que eu ligasse na outra semana. O que fiz. Novamente, pediram mais prazo. Resumo da ópera: passado quase um mês, fui informado de que ali nada consta sobre Marinalva, nem sobre Marinês.
Abro aqui um parêntese para elogiar o Cartório do 2º Ofício de Balsas, Maranhão, minha cidade natal, e Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural, que o informatizou. Seu Rosa Ribeiro, meu saudoso pai, foi o Tabelião até aposentar-se, passando a titularidade para Maria Alice, minha irmã, que admitiu a Socorro, em 1977, como escrevente. Em 1978, Socorro galgou, por seus méritos, a posição de Tabeliã Substituta. Com o falecimento de minha irmã, em 2002, Socorro assumiu o posto de Tabelião Titular e uma de suas primeiras providências foi a informatização do Cartório, onde qualquer busca, atualmente, é atendida no ato, com resposta em cima do laço.
Nessa minha mania de fuçar em Cartórios do Brasil para dar veracidade aos dados biográficos constantes dos trabalhos que lhes disponibilizo, posso dizer que são poucos, pouquíssimos mesmo, aqueles em todo o Território Nacional que dispõem dessa ferramenta, tão indispensável à correria que caracteriza o século atual.
Ironia do destino: no final de 2002, Socorro teve de entregar o Cartório, no qual empregou todos os recursos de modernização, a um Bacharel nomeado pelas autoridades da Capital, vez que ela não era concursada. Assim mesmo, com 32 anos de bons serviços, sem tchau nem bença! Fecho o parêntese.
Retomando o fio da meada, ocupemo-nos de Marinalva. Os dados biográficos de que disponho foram colhidos em duas fontes altamente confiáveis: Abílio Neto, Membro da Academia Passa Disco da Música Nordestina, pessoa altamente qualificada em assuntos pertinentes à Cultura Nacional; e Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
Maria Caetana de Oliveira, mais conhecida como Marinalva, nasceu em São Vicente Ferrer, Agreste de Pernambuco, em 1950. Era irmã da também da forrozeira Marinês, conhecida nacionalmente.
Durante sua carreira, Marinalva gravou 26 elepês, sempre tendo a música nordestina como temática. Outra característica em sua carreira foram canções de duplo sentido. A cantora veio a falecer em 11 de setembro de 2008, no Hospital da Restauração, no Recife, vítima de uma parada cardiorrespiratória.
Alguns vinis que deixou ainda se encontram à venda em sebos virtuais:
Na falta de textos relativos a Marinalva, transcrevo a apresentação constante do LP acima, De Rolha na Boca, de 1980, assinada por J. Garcia:
“O Nordeste, com seu povo sofrido, suas tradições imorredouras, seu fabuloso folclore, tem se constituído numa fonte inesgotável de inspiração poética.
Muitos são os que cantam o Nordeste, mas só aqueles – filhos da terra – íntimos de sua realidade, seus problemas e aspirações, podem fazê-lo com propriedade e autenticidade.
Seguindo as pegadas de sua famosa irmã Marinês, Marinalva vem se firmando, dia a dia, como grande intérprete que é, assumindo, com justiça, uma posição destacada dentro de nossa música.
Este é seu 7º LP. Nele, iremos encontrar somente músicas de compositores paraibanos, alguns veteranos famosos, como Luiz Ramalho e João Gonçalves, ao lado do estreante Calazans Sabury. As músicas escolhidas abrangem uma larga faixa da temática nordestina que vai, desde o picante De Rolha na Boca, até a religiosidade do sertanejo, tão bem retratada em Frei Damião, sem esquecer a tradicional e ingênua marchinha junina.”
Com tantos itens constantes de sua discografia, é incompreensível o fato de Marinalva ser completamente desconhecida no Nordeste, em particular, e no Brasil, em geral. O aspecto de ser irmã de Marinês, em meu entender, era mais um detalhe para dar-lhe visibilidade, como aconteceu com Zé Gonzaga, irmão de Luiz Gonzaga.
Como pequena amostra do talento de Marinalva, escolhi para vocês, escolhi estas cinco faixas de e seu repertório:
Forró de Cabra Macho, rojão de Cecéu:
Jacaré dos Homens, rojão de Elino Julião:
Frei Damião, toada de Calazans Sabugy:
Tudo Que Eu Quero, arrasta-pé de Marinalva, Arcílio e Hélia Mendonça:
De Rolha na Boca, rojão de João Gonçalves e Micena do Forró: