Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 19 de junho de 2021

MARIETA SEVERO: AOS 65 ANOS, NO BRASIL, A GENTE PERDE MUITO CONTATO COM ESSAS FICÇÕES DA VIDA

 

Marieta Severo: 'Aos 65 anos, no Brasil, a gente perde muito contato com essas ficções da vida'

Atriz lança "Noites de alface", que chega aos cinemas no próximo dia 24, e defende que 'as pessoas precisam de ficção para viver'
Marieta Severo e Everaldo Pontes Foto: Divulgação
Marieta Severo e Everaldo Pontes Foto: Divulgação
 

RIO — As doses de ficção que colocamos em nosso cotidiano nos mantém sãos, acredita a atriz Marieta Severo. E é por isso que a trama de "Noites de Alface", filme estrelado por ela e Everaldo Pontes e que chega aos cinemas no próximo dia 24, é tão necessária no Brasil atual, um país que passou a "asfixiar a imaginação":

— As pessoas precisam de ficção para viver, elas sucumbem sem ela. E esse filme tão delicado, tão poético, que coloca a necessidade absoluta da ficção na vida das pessoas, é importante pois chega no terreno de um Brasil absolutamente avesso e contrário a isso, onde todos os valores são de asfixiar a cultura, a imaginação e a poesia e enaltecer o oposto, que é a violência, o autoritarismo e o obscurantismo — afirmou a atriz em coletiva de imprensa realizada nesta quinta (17) para divulgação do longa.

O filme, escrito e dirigido por Zeca Ferreira, é uma adaptação do livro homônimo de Vanessa Bárbara. Na pacata ilha de Paquetá, o casal Ada (Marieta Severo) e Otto (Everaldo Pontes) vive há anos em uma rotina praticamente imutável. Recluso, ele passa a maior parte do dia entre espiadas na janela e a leitura de livros de suspense, enquanto tenta vencer a insônia com o chá de alface preparado pela mulher.

"Noites de Alface" Foto: Divulgação
"Noites de Alface" Foto: Divulgação

Porém, o sumiço repentino do carteiro local, Aidan (Pedro Monteiro) muda a rotina de Otto: na investigação para descobrir o que de fato aconteceu, ele encontra em sua imaginação e na ficção elementos para entender uma nova realidade pessoal e a que está à sua volta.

Neste caminho, Otto se depara com os outros excêntricos moradores desta Paquetá fictícia: Nico (João Pedro Zappa), o incoveniente farmacêutico, a excêntrica Dona Iolanda (Teuda Bara), Teresa (Inês Peixoto) e seus cachorros barulhentos, Mayu (Lumi Kim) e seu avô, o velho Taniguchi (Antônio Sakatsume), um japonês ex-combatente de guerra que sofre de Alzheimer e o carteiro principal da cidade, Aníbal (Romeu Evaristo).

— É um personagem de um homem comum, solitário mas apaixonante. Quando fui lendo o roteiro, me vi muito naquele universo: o da solidão, da velhice, do tempo. Aos 65 anos, no Brasil, a gente perde muito contato com esssas ficções da vida. E agora principalmente, enquanto formos governados por pseudo-fascistas, vamos perder ainda mais — conta Everaldo.

Já Ada, avalia Marieta, é a ponte do recluso Otto com o mundo ao seu redor: é ela quem leva ao marido as novidades e informações do que acontece no pequeno mundo onde existem.

— Quando eu li o roteiro, eu falei: quero contar essa história, eu quero ajudar a contá-la através da Ada. Às vezes você quer fazer o personagem, mas eu nem fui assim com a Ada, eu me apaixonei mesmo pela história.  De cara, ela não é um personagem que tenha características psicológicas fortes. Ela é uma peça dessa engrenagem misteriosa, amorosa e poética. E a fotografia do filme mostra bem esse papel dela, sempre que está em cena, há luz.

Além de Marieta e Everaldo, o elenco é composto por membros do Grupo Galpão, do qual Zeca afirma ser "fã declarado":

—  Os personagens de apoio, digamos assim, são tipos que existem a partir da lente do Otto, do que ele está passando. Então eu queria que esse elenco tivesse uma unidade sobre o que é esse tom. Aí, imediatamente pensei em um elenco que já tivesse esse entendimento, o que me levou para o Galpão, que sou devoto, estou sempre indo ver o grupo, desde que sou adolescente.

Este e o primeiro longa de Zeca, que já dirigiu diversos documentários premiados, como "Terreiro Grande" e "Áurea", este último exibido em mais de 60 festivais pelo mundo e que conquistou 25 prêmios em festivais. A escolha pela adaptação do livro veio naturalmente: "antes mesmo de terminar de ler, eu já queria fazer o roteiro", contou:

— O que eu gosto muito nesse livro é como ele trata de temas densos e profundos, de forma leve, até engraçada. Tem uma cena em que os moradores se reúnem no filme para tratar de um assunto banal, que era a compra de uma lona, que acho muito engraçada, por exemplo. A Vanessa demorou seis meses para me responder depois que entrei com contato por uma rede social, e a partir daí fomos conversando, mas a gente só se viu uma vez.

Apesar de trazer uma mensagem tão importante para o Brasil de agora, como diz Marieta, o longa foi rodado em 2018, muito antes da pandemia. O que só demonstra, segundo ela, a capacidade que a arte tem de antecipar fatos:

“A arte tem essa capacidade infinita de prever e de olhar para o passado com outras lentes", afirma.

Lançamento adiado em um ano

Com um "orçamento enxuto", o filme, conta Zeca, teve o lançamento adiado algumas vezes por conta do coronavírus. Colocar ele em cartaz 2021, segundo o diretor, é uma verdadeira vitória. Para ele, apesar de uma realidade de cortes de verbas públicas para as artes, esse é um dos melhores momentos da produção cinematográfica brasileira:

 
 

— Estamos lançando com um ano de atraso da ideia original, e vou sentir falta de não ser em um cinema, uma experiência coletiva, mas tem uma hora que o filme tem que ir para a rua. Eu li uma frase em um debate que concordo, e dizia: a gente tá vivendo o pior momento do melhor momento do cinema brasileiro. Nunca produzimos tanto e vimos tão pouco. Mas eu diria que a gente nunca produziu tão bem também, com um cinema vindo de periferia muito bom. Tem muita coisa boa sendo feita, apesar de tudo.


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