Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 29 de setembro de 2021

MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO
 
MARIA RODRIGUES, NOSSO ANGELITO NEGRO

(29.09.1929 – 09.11.2013)

Raimundo Floriano

 

 Maria Rodrigues

 

                        Maria Rodrigues da Silva nasceu em Floriano (PI), no dia 29.09.1929, filha de Laurindo Rodrigues da Silva e Cesária Maria da Conceição. Aos três anos de idade, ficou órfã de pai e mãe. Dona Cesária morreu em decorrência de males oriundos de sua intensa exposição ao calor nas bocas dos fornos das olarias onde trabalhava. Seu Laurindo, também, vítima de infecção no calcanhar, provocada pela mordida de um gato, no rabo do qual pisara.

 

                        Seu irmão mais velho, num total de sete, Fernando, já casado e com três filhos, residente em Uruçuí (PI), ciente dos demais irmãos desamparados, foi buscá-los. A viagem de volta, num percurso de 208 km, foi feita a pé, levando seis dias na caminhada. Um dos pousos foi a Fazenda Brejo, antiga propriedade do meu avô paterno, Capitão Pedro José da Silva, hoje em poder do meu primo Airton, médico residente em Teresina, filho do Comandante João Clímaco, o Tio Joãozinho.

 

 Maria Rodrigues e Comandante Puçá

 

                        Maria Rodrigues era irmã de José Rodrigues dos Santos, o Comandante Puçá, que a trouxe para Balsas na Década de 1940, quando começou a tripular embarcações pertencentes a armadores de nossa cidade.

 

                        Sua família está, desde o início da Década de 1950, intimamente ligada à minha. Fernando é o pai da Maria Júlia, que foi morar conosco em 1951, ainda menina, sendo, praticamente, criada por Dona Maria Bezerra, minha mãe. Seguiu ela com minha irmã Maria Alice para Engenheiro Dolabela (MG), quando esta se casou, acompanhando-a nas mudanças para Brotas (SP), Anápolis (GO), e, finalmente, Balsas. Em 1974, veio cuidar de minha residência aqui em Brasília. Mais tarde, casou-se com Odílio Silva, seu primo, antigo craque da Seleção Balsense de Futebol, com o qual teve um filho, o Reinaldo, meu afilhado, hoje Engenheiro da Computação, todos residentes em Anápolis, Odílio já falecido, e ela aposentada pelo INSS.

 

                        Maria Rodrigues, a Maria, como sempre a chamei, veio a ser um forte esteio para minha gente em Balsas, nas ocasiões mais delicadas. Fechou os olhos de minha mãe, em seu último suspiro, tendo-a velado como se parente fosse. Igualmente, esteve à cabeceira de Seu Rosa Ribeiro, meu pai, até que expirasse. Desde 1969, constituiu-se em amiga, conselheira, companheira, praticamente mãe de minha irmã Maria Alice, falecida de mal súbito em 2002.

 

                        Lembram-se daquele filme Mary Poppins, em que uma fada apareceu do espaço sideral, navegando em seu guarda-chuva, para dar jeito numa família inglesa toda desnorteada? Pois bem assim aconteceu conosco!

 

                        Na madrugada de 17 de fevereiro de 1969, estávamos todos os irmãos perplexos, apavorados, inertes, diante do leito de morte de nossa mãe – era o primeiro ente querido que perdíamos na família –, quando se materializou no quarto, enviado pelo firmamento celeste, aquele angelito negro, que se impôs perante nós e os demais presentes, encomendando a alma de Maria Bezerra aos braços do Senhor, fechando-lhe os olhos, dando-lhe banho, amortalhando-a, colocando-a no caixão e passando, desde então, a cuidar de todos nós.

 

                        Depois da Missa do Sétimo Dia, retornamos às cidades onde morávamos, ficando em Balsas apenas a Maria Alice, que lá exercia o cargo de Tabeliã do 2° Ofício.

 

                        Maria Bezerra deixou-nos para sempre, mas sua partida legou-nos outra Maria que passou a substituí-la no papel de nossa mãe. Aos 40 anos de idade, Maria Rodrigues assim se impunha pelo carisma e pela dedicação demonstrada até seus momentos finais.

 

                        Maria Alice, desde o início dessa maravilhosa simbiose, teve a premonição de que um dia deixaria o mundo antes de Maria Rodrigues. Por isso, a partir de quando foi por ela perfilhada, passou a contribuir para o INSS em seu nome, garantindo-lhe futura aposentadoria. E mais, ao constatar que o valor de seus proventos seria ínfimo, conseguiu, com o prestígio de que gozava, sua nomeação como funcionária pública do Estado do Maranhão. Dessa forma, ao completar 70 anos, Maria se aposentou com duas fontes de renda.

 

                        Há muito, Maria se constituíra como arrimo de Raimunda, sua irmã, e de grande quantidade de sobrinhos e parentes afins que ainda batalhavam na luta pela subsistência.

 

                        Nesse tempo, residia na Rua Nova, em casa alugada, bem distante da Rua do Frito, hoje 11 de Julho, onde Maria Alice morava. Esta, visando a garantir uma velhice tranquila para Maria e sua irmã, mandou construir, na metade do terreno onde morava, belíssima casa de esquina, na Rua Isaac Martins, que lhe foi entregue com escritura passada em cartório. Adiante, a frente da simpática moradia, escondida por um muro, exigência de segurança no modernismo balsense:

  

                        Pelos arbustos floridos que a enfeitam, pode-se avaliar como seria o jardim, entre sua casa e a de Maria Alice, do qual Maria cuidava com esmero, sendo o local preferido para a foto oficial dos casais menos apercebidos que contraíam matrimônio no Cartório, situado na esquina da Rua do Frito.

 

 Maria Rodrigues em seu impecável jardim 

                        Maria era pessoa antenada com os acontecimentos da cidade e com a sociedade balsense. Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, como foram Maria Bezerra e Maria Alice, participava, anualmente, da Comissão Organizadora dos Festejos de Santo Antônio.

 

                        Maria viveu num tempo em que não havia esse negócio chamado selfie, e as raras fotografias que temos dela são todas esmaecidas, razão pela qual pedi ao amigo Juarez Leite, artista plástico, que as reproduzisse, dando-lhes mais vigor.

 

                        Maria Alice, como previra, foi embora primeiro. No dia 3 de março de 2002, partiu mansamente, como dito acima. Maria, que já desempenhara competentemente o papel de sua mãe, irmã e amiga, assumia, tacitamente, esse mesmo papel junto a seus filhos. A seguir, vêmo-la, já em idade avançada, em companhia do Doutor Raimundinho, filho da Maria Alice, que, diariamente, tomava refeições em sua casa.

 

 Maria Rodrigues e Raimundinho 

                        Maria teve um grande amor na vida. Chamava-se Camilo. Durante a construção de Brasília, ele para aqui arribou, com a promessa de mandar buscá-la tão logo se ajeitasse financeiramente, porém jamais deu notícia. Por essa razão, Maria nunca mais quis saber de homem.

 

                        No dia 9 de novembro de 2013, aos 84 anos de idade, nosso angelito negro encantou-se, voltando à Casa do Pai, de onde viera para cuidar de todos nós.

 

                        Hoje, 29 de setembro, Maria Rodrigues comemora mais um aniversário. Desta vez no Paraíso, juntamente com sua grande amiga, como todos os anos acontecia em sua vida terrena. Lá no Céu, em singelo congraçamento, enquanto ela corta o bolo, Maria Alice canta-lhe “Parabéns pra você”.

 

 O Angelito e Maria Alice: Festa no Céu 

                        Para musicar essa festa, nada melhor que um bolerão das antigas, como Angelitos Negros, poema do venezuelano Adrés Eloy Blanco, com letra do mexicano Manuel Álvarez Macisto, na interpretação da madrilenha Nati Mistral. Vamos ouvi-lo:

 


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