Rosana com seus 16 anos, corpo de mulher, morena, vestido de chita, e a euforia de menina travessa, depois de algumas cervejas e muita conversa entregou-se ao namorado nas areias das Dunas da praia do Trapiche da Barra, numa bela noite de um milhão de estrelas cintilantes. Deu sua virgindade a Mané das Cabras, amigo de infância e namorado. Nove meses depois nasceu Maria, menina rechonchuda, sorridente, com ar matreiro irradiando alegria.
Mané das Cabras era apelido de Manoel da Silva por ter sido apanhado em flagrante com uma cabra. Quando Maria nasceu ele já havia se arribado para o sul do país. Tocava violão e cantava, queria ser músico famoso da Rede Globo. Maria foi registrada com pai desconhecido. Ela teve uma infância intensa, divertida no bairro do Pontal da Barra, andava pela praia, nadava na lagoa, roubava coco e melancia nos sítios da vizinhança, jogava futebol, ximbra e pião com os meninos. Era conhecida em toda redondeza por sua sapequice e simpatia, como Maria do Pontal. Quando tomou corpo de mulher, aos 15 anos, sua sensualidade cava a atenção. Tornou-se uma morena bonita, rosto arredondado, cabelos negros e crespos, nariz meio achatado, olhos amendoados de uma vivacidade incontrolável, e os lábios grossos pareciam constantemente molhados. Estudou na Escola Silvestre Péricles e teve a inclinação de ler romances, contos, poesias. Moça romântica apaixonou-se por um belo rapaz, filho de um rico comerciante. Gustavo, louro, olhos azuis contrastava com a beleza morena de Maria. A atração entre os dois terminou num quarto da mansão de praia da família. Quando souberam do desvirginamento de uma menor de idade, os pais receosos mandaram o galeguinho dos olhos azuis estudar em São Paulo. Foi a primeira decepção amorosa. Maria prometeu-se jamais se apaixonar.
Levou uma juventude livre, cuidou-se para não engravidar. Namoradeira, os homens se encantavam com seu o corpo, a beleza, a sabedoria na cama. Os sortudos que tiveram a ventura de passar uma noite em seus braços nunca esqueceram a desbragada noitada de amor. O frescor da boca de Maria ficava impregnado na mente, no âmago de quem experimentou. Ninguém, jamais esqueceu um simples beijo de Maria do Pontal.
Nessa época Lúcio, famoso arquiteto, separou-se da mulher. Deixou-a com o filho no apartamento e foi morar com um amigo de infância. Bruno, solteiro, morava no bairro das mulheres rendeiras, Pontal da Barra, numa casa discreta em frente à lagoa, preservava sua intimidade de homossexual. Lúcio, apesar da amizade, nunca teve relacionamento sexual com Bruno, se respeitavam, eram amigos, muito amigos, quase irmãos.
Certa tarde de sábado Lúcio tomava cerveja com convidados na varanda da casa de Bruno. Teve uma alegre surpresa quando entrou aquela jovem com trouxa de roupa na cabeça. Maria abriu a portinhola da frente sorrindo:
– Bruno!!!!!!Brunoca olha a roupa limpinha pra você sujar de novo!!!!
Seu sorriso enfeitiçou o novo morador. Lúcio acompanhou Maria e ajudou a colocar a trouxa na cama. Ela ficou encantada com a gentileza daquele homem educado, bonito, e gentil; uma raridade entre os homens conhecidos. O arquiteto acertou também com Maria, a lavagem de suas roupas.
Três semanas depois desse fato, Lúcio e Maria já dormiam juntos nos alvíssimos lençóis lavados e passados por Rosana, a melhor lavadeira da região. Foi a melhor fase de felicidade da vida Lúcio. Toda manhã ele ia trabalhar no seu escritório de arquitetura no centro da cidade, só chegava à noite em casa, cansado, mas no fundo, na maior ansiedade de ter Maria em seus braços. Vida encantadora, sem preconceitos, sem temores ou disputa de uma esposa impertinente e cobradora. Aliás, houve um bendito preconceito. Lúcio certa vez quis virar o disco, fazer sexo anal, porém, Maria tinha verdadeiro pavor, faria tudo que ele quisesse, menos isso. Ele respeitou sua opinião, sua determinação. Maria percebeu frustração em Júlio pela recusa. Na sexta-feira quando o arquiteto chegou do trabalho ávido em carinhos de seu amor, Rosa estava acompanhada de uma morena bonita tomando cerveja na varanda da casa. Apresentou Gal com um sorriso maroto. Quando pôde, cochichou no ouvido:
– Você não gosta de ir por trás? A Graça adora essa safadeza. Eu lhe trouxe de presente. Não me importo.
A partir desse dia Lúcio dormiu com as duas. Passou mais de um ano bígamo, aliás, ele dizia estar num paraíso, num sonho; interrompido quando viajou para um curso de seis meses na França. Como quem vai para o ar perde o lugar, ao voltar, Maria havia se casado, já morava em Munique.
O romance de Maria iniciou num dia de festa, ela acompanhou amigos à casa de um simpático alemão apaixonado por Alagoas, morador e curtidor da praia do Francês, era também festa de despedida, o alemão estava voltando para sua terra. Clemens quando foi apresentado à Maria não só ficou fascinado, disse para si mesmo que aquela jovem era o amor de sua vida, apesar da diferença de idade. Dois meses depois ela viajou de mala e cuia para Munique; casaram-se.
Hoje Lúcio, casado com uma colega arquiteta, vez em quando visita Bruno na mesma casa. Nunca esqueceu os melhores momentos de sua vida, quando era livre, sem maiores compromissos e tinha o amor e carinho de Maria do Pontal.