Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo segunda, 16 de dezembro de 2019

MARCOS PALMEIRA: O BRASIL TEM A CULTURA DE PULSEIRINHA VIP

 

Marcos Palmeira: 'O Brasil tem a cultura da pulserinha vip'

Único ator a protagonizar três longas neste Festival do Rio, ele vai estrear na direção de cinema ao lado do pai, diz que o Brasil vive o reflexo da falta de educação dos últimos 40 anos e revela: ‘Sempre carreguei a culpa de não ser um intelectual’
 
 
Aos 56 anos, Marcos Palmeira é protagonista de filmes inéditos Foto: LEO AVERSA / Divulgação
Aos 56 anos, Marcos Palmeira é protagonista de filmes inéditos Foto: LEO AVERSA / Divulgação
 
 

Marcos Palmeira protagoniza três filmes no Festival do Rio. É o personagem-título de “Boca de ouro” (hoje às 18h45, no Roxy), um delegado em “A divisão”, e um major da PM em “Intervenção”.

— Nunca imaginei que, aos 56 anos, trabalharia tanto — diz ele, prestes a estrear em outra função. Ao lado do pai, o cineasta Zelito Viana, codirigirá o longa “Sedução”, do qual também será protagonista (deve ser rodado em maio).

Foi, aliás, por causa de um filme do pai, “Terra dos índios” (1979), que tomou contato com a causa indígena que defenderia ao longo da vida. Batizado pelos Xavante de “Tsiwari” (sem medo), lembra, rindo, da temporada numa aldeia, comendo arroz. Ardendo em febre por causa de uma pneumonia, delirava pedindo hambúrguer e batata frita. Hoje, produtor de alimentos orgânicos, acabou de encarar dieta que o fez perder 18 quilos.

— Percebi que precisava quando me vi apoiando o braço na barriga — ri o ator, nascido e criado nas areias de Copacabana e famoso por ser bom de bola. — Se jogo bem não sei, mas quando batem par ou ímpar me chamam rápido.

Em seu apartamento, no Jardim Botânico, ele também falou sobre política, casamento e sexo, numa conversa regada à água com limão.

Como os três filmes mostram a realidade brasileira?

Em "Boca de Ouro" há o paternalismo com que o bicheiro lida com a comunidade e a ligação com a milícia. Em "A divisão", o delegado está no meio de um esquema corruto, mas seu discurso é “vamos mudar”. “Intervenção” é a polícia fingindo que protege e a população fingindo que é protegida. Quem se dá bem são milícia e políticos corruptos. É sempre assim no Brasil: todos dizem não roubar e têm o discurso do “vou acabar com a mamata”.

 

E nunca acabam...

Da ditadura para cá, não construímos projeto de governo. Foi tudo paliativo. Por isso, defendo o discurso da Marina (Silva), que incomoda porque não traz solução. Diz que todos somos responsáveis, que precisamos caminhar juntos. Mas ainda queremos um Ciro Gomes, que bate na mesa e diz “vou resolver este país”. Estamos sempre botando para o outro resolver, é a coisa do herói. Quero saber quem vai construir pontes.

A sociedade é omissa?

No Bope, um policial me falou: "A polícia está doente". A polícia está corrompida porque é um reflexo do político que está do lado dela, bancando, e do eleitor que o elegeu esse cara. Quem está disposto a abrir mão das corrupções nossas do dia a dia? Não furar fila... É o lixo jogado do carro, o peteleco na guimba para o chão. Fomos criados comprando carteira de motorista. O Brasil tem a cultura da pulserinha vip. O governo atual é o reflexo da falta de educação dos últimos 30, 40 anos. Construímos essa figura (Jair Bolsonaro). O cara foi eleito durante 28 anos e não fez nada. É um governo que governa pra si, para ele e para os filhos. Foi multado porque pescou em áea de proteção ambiental? Vai lá e demite o cara que o multou. Tira o radar porque não quer levar multa, a cadeirinha de bebê... É o brasileirão, o miliciano. A gente está sempre atrás do "meu corrupto favorito", isso é que tem que acabar. Estamos expurgando o que há de mais podre na nossa sociedade. Talvez, precisássemos mergulhar no lodo. É da merda que nasce a flor.

 

Como vê os governos anteriores?

Foram 14 anos de PT, oito de Fernando Henrique. Acreditei em todos. Até no Collor, o tal “caçador de marajá” (risos). Fui fiscal do Sarney (neto do advogado e deputado estadual Sinval Palmeira, cassado pela ditadura, o ator cresceu ouvindo a família falar de política e promovendo encontros com candidatos em casa). Acho a reeleição o grande bode. Se pudesse, não reelegeria ninguém. Tem gente há 20 anos no cargo!  É difícil separar o joio do trigo, quem é honesto de verdade? O povo ainda prefere o Collor à Heloisa Helena! A esquerda continua elegendo a direita. Tem que acabar com ideologia, política é gestão.

Tem vontade de exercer um cargo público?

Não tenho temperamento. Não conseguiria ficar num debate com o Garotinho... Marina queria que eu fosse Senador, candidato à governador. Eu ficaria aflito. O que sei é que falta uma política de verdade, a gente ainda vive com o espírito da colônia, de exploração e esse governo atual escancara isso.

Sua fazenda, Vale das Palmeiras, é a maior produtora de laticícios orgânicos do estado do Rio e produz hortaliças. Como vê a liberação de tantos agrotóxicos?

O interesse é financeiro. O produtor do agrotóxico é o mesmo do remédio. Agora, o caminho é o consumidor recusar. A Europa já não está aceitando. Os produtores de grãos brasileiros estão sendo recusados pelo mundo.

 

Como avalia o tratamento dado à questão indígena pelo governo atual?

Todas as lideranças que aparecem no filme "Terra dos índios" (dirigido por seu pai, Zelito Viana, em 1979), foram assassinadas. Os índios estão sendo assassinados há muitos anos. Marina no Ministério do Meio Ambiente fez coisa para caramba, mas percebeu que Lula não entendia nada desse assunto, não tinha nenhuma preocupação. A gente vem de muitos anos sob uma cortina de fumaça, agora escancarou. O índio e o desmatamento da Amazônica nunca estiveram tão em evidência. O Bolsonaro fala mal de (Leonardo) Di Caprio (ator) e (da ativista ambiental sueca) Greta (Thunberg) e o foco vira ele.

Você interpreta playboy, policial, mas faz sucesso mesmo com os capiaus. Por quê?

Sempre que me vejo em algum trabalho, falo: "olha lá o brasileirinho". Eu sou o brasileirinho típico. Nunca achei que fosse ser protagonista, não me vejo com glamour. Quando vou para esse lugar do peão pé no chão, funciona. Talve pelo Brasil ser um país rural, a identificação seja maior. Adoro ir para um sotaque, ajuda na composição. Quando comecei, fiz filmes como "Dedé Mamata". Aí, me falaram: "cuidado para não ficar marcado como playboy carioca". Depois, "como galã rural", agora "com policia". Tem um teflon que não deixa pegar. Não me preocupa repetir papel, quero bons personagens.

 

Se arredendeu de ter aceitado algum personagem ou projeto?

Já errei muito por culpa minha, personagens que não achei. A gente tem mania de classificar, né? Agora, Wagner Moura é o melhor ator do Brasil. É mesmo, mas já foi o Lázaro (Ramos) também... Quando o Rodrigo Santoro começou lá fora, todo mundo dizia: "ah, não vai dar certo". E ele está provando que deu. Para mim, nesse momento da vida estar com três filmes em cartaz é maravilhoso. Nunca imaginei que, aos 56 anos, estaria trabalhando tanto.

Você fez o filme "E aí comeu?". Acha machista? O nome é triste...

É de uma época. Se você olhar, são três idiotas inseguros no bar, mas ninguém faz merda com mulher, estão todos querendo se apaixonar. É um discurso machista na mesa de bar, mas a atitude é de amor à mulher. Talvez o nome não ajude mesmo... Mas queria fazer esse filme hoje.

Como deve se comportar o homem contemporâno?
O homem tem que se repensar mesmo. O machismo foi cômodo, coloca a mulher num lugar e ponto. Fez a gente não refletir. Cadê a sensibilidade, o afeto? A mulher sempre precisou de espaço e era oprimida. Agora, caça às bruxas também é complicado. O caso do José Mayer foi muito triste. Ele pediu desculpas, pagou, não pode virar o mártir desse lugar. Pô, o cara não é o João de Deus.
 

 

Como foi ser dirigido por sua ex-mulher, Amora Mautner (na novela "A dona do pedaço"), com quem você tem uma filha (Júlia, de 12 anos)? Aliás, você disse que seu personagem era "meio bobo"...

Walcyr (Carrasco, autor da novela) não me prometeu nada, só que ia fazer uma novela de sucesso para todo mundo. Então, não tenho como cobrar do personagem. Era um super papel? Não, mas estava dentro de um contexto que aconteceu. Ser dirigido pela Amora agora foi bom para a gente selar uma fase. Ex é sempre difícil. Ali, quebramos uma bolha, aproximou a relação. Tinha um prazer de estar junto, um carinho e a Júlia ficou feliz de nos ver trabalhando juntos, entendeu que a vida continua. Foi importante. Saí aliviado e hoje temos um diálogo melhor. Mesmo quando a gente discute, é mais maduro, não vai para aquele lugar infantilizado ou histérico do ex.

Você é a personaficação do carioca gente boa, do cara do bem. O que faz de errado?Tem algum podre?

(Gargalha) Faço várias coisas erradas, não sou exemplo para ninguém. Sempre fui de agregar, bebo cerveja, como carne, sou vascaíno... Meus pais dizem que sou compreensivo desde criança. Fizemos sete anos de análise em família, o que ajudou muito. O problema era eu, que não estudava. Sempre fui um vagabundo na escola, pronto, falei (risos). Isso incomodava a minha mãe, que é pedagoga. Meu pai é cineasta, mas se formou em engenharia, minha irmã (a cineasta Betse de Paula, um ano mais velha do que Marcos) se formou em sociologia com 18 anos. Eu só tenho o segundo grau completo.

Isso te incomoda?

Sempre carreguei essa culpa de não ser um intelectual, de não ter lido tantos livros. Por outro lado, vivo as experiências intensamente. Tenho a agenda lotada de coisas. Sempre fui mais das artes, do teatro, da curtição. Prezo o prazer. Sempre fui o último a sair das festas. Sou esse brasilerinho que desenrola, meio Macunaíma. Tem um lado complexo em ir para esse lugar... trabalha pouco a agressividade. Então, a terapia me ajuda, o futebol descarrega. Não gosto de discutir, mas às vezes, é preciso pôr o pau na mesa. É um exercício, para mim, dizer não. Mas é isso, não dá para ficar no comodismo, querer ser o queridinho o tempo todo.

Como se enxerga aos 56 anos?

O pilates me ajuda a ter energia, mas já estou no segundo tempo, o primeiro, eu já joguei. Mas ainda tenho um tempo. Olha aí a Fernanda Montenegro, o Barretão... A crise não bateu na porta claramente, mas o cabelo começa a ficar mais ralo. Emagrecer ajudou na autoetima.

Como está o casamento atual (ele vive há quatro anos com a diretora Gabriela Gastal)? Acha que sexo tem toda essa importância?

Casamento é um exercício, né? A parte boa é a parceria e Gabriela é parceiraça. Sexo é fundamental na vida, todo mundo tem que praticar. Às vezes, o casal está em crise, e percebe que tem dias que não transa. Aí, quando rola tudo fica maravilhoso, relaxa. O exercício do cotidiano é complicado, dividir... Mas também não tem o compromisso com a eternidade. É enquanto está bom. Tá bom hoje? Então continua. Só por hoje. O AA (Alcoólicos Anônimos) não é isso? O amor é meio assim: só por hoje (risos).


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