Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carlito Lima - Histórias do Velho Capita sábado, 29 de setembro de 2018

MANGA ROSA

 

 
MANGA ROSA

– “Delícia!” Exclamou Albérico chupando a terceira manga rosa na varanda do sítio do amigo Alfredo. Estavam sentados à mesa conversando enquanto as esposas catavam frutas no bem cuidado sítio.

– “É daquela mangueira, a mais cheia, mais viçosa, maior que as outras e plantadas na mesma época.” Apontou Alfredo.

– “Que adubo você colocou nessa mangueira? meu amigo!”

– “Uma história inacreditável, não contei a ninguém, apenas Severino, meu caseiro, sabe. Se você tiver paciência conto a história. É segredo, nem sua esposa, ninguém pode saber, promete?”

-“Prometo e escuto, desde que me traga mais manga”.

Alfredo trouxe um prato de manga rosa colocou-o na mesa. Iniciou o relato.

– “Há dez anos, quando estava me separei de Rita, todos os dias eu almoçava num restaurante na Rua da Praia. A garçonete de nome Rosa chamou-me a atenção, beleza singela, loura, pele branca rosada pelo sol. Simpática, eu lhe dava boas gorjetas, ficamos amigos. Certo dia me assustei quando perguntou se eu queria transar com ela. Claro que sim, partimos para um motel. Três meses de encontros, contou-me sua história, polonesa, seu nome verdadeiro, Rozowe Komorowski, os pais vieram para o Brasil quando ela tinha 5 anos, moraram em Santa Catarina. Rosa tinha um problema no coração, não podia fazer esforço, cansava, um médico afirmou, não chegaria aos 18 anos, já estava com 26; mais nova que eu 31 anos. Seus pais morreram num desastre, sozinha no mundo, Rosa resolveu morar no Nordeste, terra de sol, povo alegre. Estava em Maceió há nove meses, ficou encantada com tanta luz, céu e mar azul esverdeado, terra bonita para viver e morrer. Arranjou um modesto emprego, sua vida tão finita, não dava valor a dinheiro, emprego, apenas para se sustentar, comprar remédios, não tinha envolvimento sério com namorado, agora se apegava a um homem maduro, estava passando uma fase feliz em sua vida, aproveitava todos os momentos.”

Alfredo apertou os olhos marejados, respirou, continuou a contar.

-“Naquela época apareceu esse sítio em Marechal Deodoro margeando a Lagoa Manguaba, Rosa se apaixonou pelo local, deu maior força. Comprei o sítio, tomei gosto, iniciei plantação, adoro frutas. Passava o fim de semana no sítio com Rosa, discretamente, eu não aparecia em público com a namorada, me sentia ridículo, mais velho. Ela não se importava, queria apenas ficar comigo. Seus olhos brilhavam de felicidade ao chegar aqui, amava esse lugar.

Viajamos a São Paulo, levei-a a um cardiologista famoso, diagnosticou o mesmo problema, deixei seu nome na fila de espera de transplante do coração. Rosa não mais trabalhou, a meu pedido, aluguei um pequeno apartamento beira mar na Jatiúca, toda manhã minha namorada ia à praia, à noite eu lhe visitava. Assim passei dois anos vivendo, amando aquela jovem alegre, cheia de vida, mesmo sabendo que poderia morrer a qualquer instante.

Rosa adorava manga. Certo dia fiz-lhe uma surpresa, comprei oito enormes mudas, tipos variados de mangueiras. Num sábado entulhamos o carro, Rosa feliz da vida acompanhou a abertura dos buracos, plantio das mudas. Sorriu-me pedindo, “quando eu morrer me enterre nesse sítio e plante por cima uma mangueira”. Levei na brincadeira. À noite nos amamos, pela madrugada ouvi um ronco, acendi o abajur, olhei de lado, Rosa de boca aberta, olhos semicerrados, balancei-a, havia morrido. Fiquei inerte, pensando na vida, na namorada morta. Ao amanhecer contei a história a Severino, ele concordou, abrimos uma cova, enterramos Rosa, plantamos uma mangueira por cima.

Jamais, nesses dez anos, alguém desconfiou ou procurou por Rosa. Todo sábado venho vê-la. Casei-me novamente, nunca contarei à minha esposa e a mais ninguém a história dessa mangueira florida, viçosa e bela, plantada por cima de Rosa.”

Enternecido Albérico colocou o braço por cima de Alfredo, disse apenas. “Por favor, é segredo sagrado.”


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