RIO — Durante sua carreira, Itamar Assumpção (1949-2003) construiu uma obra bastante particular, sem abrir concessões em sua música, que abrigava uma vasta gama de gêneros, indo do romantismo exacerbado a experimentações harmônicas e poéticas. Oriundo do movimento que ficou conhecido como Vanguarda Paulista, entre o final dos anos 1970 e início dos 1980, o artista acabou tachado como “maldito”, por não se encaixar em qualquer rótulo ou nicho de mercado, sempre à margem das rádios e das paradas de sucesso.
Itamar Assumpção
Dos trabalhos lançados agora nos serviços on-line, completando a sua obra, estão “Às próprias custas S.A.” (1983), “Sampa Midnight — Isso não vai ficar assim” (1986), “Ataulfo Alves por Itamar Assumpção — Pra sempre agora" (1995) e os tributos póstumos “Pretobrás II — Maldito vírgula” e “Pretobrás III — Devia ser proibido” (2010), com participações de Ney Matogrosso, BNegão, Elza Soares, Seu Jorge e outros.
Jards Macalé
Cantor, compositor, violonista, produtor, arranjador e ator, Macalé fez de tudo um pouco no campo das artes. Original e polêmico, ele já disse ter sofrido “boicote pela produção musical” brasileira. De seu trabalho, 13 discos estão no streaming, do LP de estreia, “Jards Macalé” (1972), a seu CD mais recente, “Besta fera”, lançado no último ano.
Destaque também para “Let’s play that” (1983), gravado com o percussionista Naná Vasconcelos, e o pouco lembrado “4 batutas & 1 coringa”, no qual interpreta temas de Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Lupicínio Rodrigues.
Outro músico que sempre trilhou seu próprio caminho foi Luiz Melodia (1951-2017). Em entrevista recente ao GLOBO, Toninho Vaz, seu biógrafo, explicou a fama de rebelde: “Ele era um pouco arredio, por isso foi tachado de maldito”. De sua obra, quase 30 álbuns estão no Spotify, entre projetos de estúdio, gravações ao vivo e coletâneas.
Além do clássico “Pérola negra” (1973), com standards como “Estácio, eu e você”, “Vale quanto pesa”, “Estácio, Holly Estácio” e a faixa-título”, outros imperdíveis são “Maravilhas contemporâneas” (1976) e “Pintando o sete” (1991), cuja versão para “Codinome beija-flor” (Cazuza/Ezequiel Neves/Reinaldo Arias) o levou de volta às paradas de sucesso.
Sérgio Sampaio
Efeito ou causa de sua fama de ter “temperamento difícil”, o consumo excessivo de drogas e álcool ajudou a levar Sampaio a uma morte prematura, aos 47 anos, em 1994. Os três discos lançados em vida pelo cantor e compositor estão no streaming: “Eu quero é botar meu bloco na rua” (1973) — a canção que dá título ao LP se tornou um grande sucesso quando surgiu, um ano antes, no Festival Internacional da Canção —, “Tem que acontecer (1976)” e “Sinceramente” (1982). Ainda há nas plataformas o álbum póstumo “Cruel”, gravado pouco antes de sua morte.
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Jorge Mautner
Assim como Luiz Melodia, Mautner foi outro “maldito” que participou do show-manifesto “Banquete dos mendigos”, em 1973, espetáculo idealizado por Jards Macalé em plena ditadura militar para comemorar os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Inquieto, instigante e livre de amarras, o artista carioca também trafegou por diversos gêneros e estilos.
Dos seus dez trabalhos de estúdio, sete estão no streaming. Entre eles, “Para iluminar a cidade” (1972), “Jorge Mautner” (1974), “Mil e uma noites em Bagdá” (1976) e “Eu não peço desculpa”(2002), com Caetano Veloso. Sem contar o atualíssimo “Não há abismo em que o Brasil caiba”, do ano passado.
Bastante influente na geração contemporânea, ele teve sua “Samba jambo”, parceria com Nelson Jacobina, regravada por Júlia Vargas no álbum “Pop banana”, de 2017.
Tom Zé
Apesar de seu jeito meio maluco beleza, o baiano é dos mais lúcidos e sagazes pensadores da música brasileira. Em mais de 50 anos de carreira, o artista criou uma discografia inclassificável e livre de amarras, desde os seminais “Grande liquidação” e “Tropicália ou panis et circenses”, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão e Os Mutantes — ambos de 1968 —, passando por “Estudando o samba” (1976), até seu último CD, “Sem você não A” (2017), todos disponíveis no streaming.
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Walter Franco
Morto no fim do ano passado, aos 74 anos, o cantor e compositor é um dos expoentes da vanguarda da MPB. Entre o folk, o rock e o experimentalismo, ora calmaria ora tempestade, Franco chocou muita gente quando lançou seu primeiro disco, “Ou não” (1973), com temas como a anticanção “Cabeça” e “Me deixe mudo”, regravada por Chico Buarque no ano seguinte, no álbum “Sinal fechado”. Além do clássico, encontram-se nas plataformas “Revólver” (1975), “Respire fundo” (1978), “Vela aberta” (1980) e “Tutano” (2001).
Maurício Pereira
De uma geração mais nova, Pereira não foi tachado de "maldito", mas também fez uma trajetória à margem do sucesso, trilhando seu próprio caminho experimental, cultuado por muitos músicos de hoje. O cantor e compositor paulistano iniciou sua carreira ao lado de André Abujamra na banda Os Mulheres Negras, nos anos 1980, com quem lançou os discos "Música e ciência" (1988) e "Música serve pra isso" (1990), ambos nas plataformas. Graças a seu filho, Tim Bernardes, da banda O Terno, um dos principais nomes da MPB contemporânea, uma nova geração passou a conhecer a obra de Pereira.