Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo segunda, 16 de setembro de 2019

MAITÊ PROENÇA: SOU UM POÇO DE CARÊNCIA

 

'Sou um poço de carência', diz Maitê Proença

Atriz planeja transformar sua casa em espaço cultural, se dedica a vídeos no Instagram e comenta ataques às suas posições políticas
 
 
Maitê Proença Foto: Ana Branco / Agência O Globo
Maitê Proença Foto: Ana Branco / Agência O Globo
 
 

Maitê Proença quer transformar um de seus dois apartamentos no Edíficio Chopin, endereço elegante ao lado do Copacabana Palace, num "centro cultural de resistência", como define. Maria, sua filha de 28 anos, saiu de casa há sete meses para morar com o namorado, e a atriz, de 61 anos, está cheia de ideias para ocupar o "ninho vazio", agora compartilhado apenas com Isadora Duncan, uma schnauzer branca de 16 anos.

 

 

A estreia será em outubro, com Amir Haddad encenando sua adaptação teatral de “Assim falou Zaratustra” na sala com vista para o mar, decorada com obras de Tomie Ohtake e Cristina Canale. Ali, onde Maitê também grava os vídeos sobre mulheres históricas que tem postado no Instagram, só se pisa depois de "calçar" um saco de algodão sobre os sapatos. Eles ficam à disposição do visitante num vidro em frente à porta de entrada.

Adepta de uma vida saudável, Maitê não come carne há 18 anos, faz os próprios xampu, pasta de dente e sabão de lavar roupa. Colocou até um filtro na pia de seu banheiro para melhorar a água com a qual lava o rosto. No lavabo, porém, o que chama atenção é a frase escrita na parede dedicada a recados de amigos: "Todos contra a corrupção".

Foi por causa de política que a atriz esteve recentemente na berlinda. Depois de sair em defesa de Regina Duarte, que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro, em 2018, foi bastante criticada nas redes sociais. Ela também foi atacada por quase ter virado ministra do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro . O nome da atriz foi sugerido por um grupo de ambientalistas, mas a ideia acabou não indo para frente. No mês passado, se viu novamente no alvo após de aparecer num protesto pró-Amazônia ao lado de artistas que erguiam cartazes contra o governo e sua política ambiental.

 

Como é a ideia do centro cultural em casa?

Quero fazer um polo de cultura, um centro cultural de resistência. Um lugar para as pessoas ensaiarem e darem uma contribuição para pagar a faxineira, com pré-estreias em que se passe o chapéu. Coisas que a gente faz na velhice, quando começa a querer fazer mais para o coletivo. Imagina, aos 100 anos, eu ficar uma velha sábia, generosa, com gente criando em volta e cheia de bisneto?

Está com vontade de ser avó?

Estou louca para ser avó. O namorido da Maria tem duas filhas. A que tem 4 anos é igualzinha a mim. Divertida, aventureira, destemida. A gente vai à praia e ela quer se enfiar na onda. Maria diz que tem mais medo de deixá-la comigo do que com a Isadora, a cachorra ( risos ). O que é injusto porque a Maria nunca quebrou um osso.

Aos 40 anos de carreira, como enxerga sua trajetória?

Não sei. Poderia ter sido melhor se soubesse o que sei hoje. Eu tinha perrengues emocionais com os quais não estava preparada para lidar publicamente, abrir meu coração e me dilacerar ( em 2005, Faustão pegou a atriz de surpresa ao revelar no "Arquivo confidencial", detalhes da história familiar de Maitê, que, aos 12 anos, teve a mãe assassinada a facadas pelo pai por ciúmes. Ele foi julgado duas vezes e absolvido com ajuda do depoimento dela ). Achava que podia morrer daquilo. Hoje, tenho instrumental para lidar com eles. Tenho dores, mas não tomo remédio. Nunca tomei um Rivotril.

 

Como eram seus pais?

Meus pais eram complexos, tinham defeitos terríveis, avassaladores. Mas qualidades também. Minha mãe era uma hedonista, amava a vida acima de todas as coisas. Estudou em colégio interno, não teve mãe nem pai, precisava seduzir o mundo. Era professora de filosofia, foi secretária de cultura de Campinas ( Maitê nesceu em São Paulo e foi criada em Campinas ), minha casa vivia cheia de artistas. Contrariava o que os médicos mandavam, inclusive, para os filhos.

Era encantadora, divertida e irresponsável. Eu não botei roupa até os 12 anos de idade, andava pelada em casa. Não me lembro de ter saído com ela para comprar roupa. Quando a gente morou em Ubatuba, eu andava com umas tangas, uns trapos amarrados. Meu pai era honesto, justo, duro inflexível, o oposto da minha mãe. Quando fui morar na Europa ( aos 16 anos, em Paris, para terminar os estudos ), escrevia cartas para ele, que voltavam marcadas com os erros de português. Eu tinha que ser perfeita, era impossível agradar.

Em que momento da sua vida sentiu mais falta da sua mãe?

Hoje. Antes, eu negava isso. Não aguentava pensar em tudo que a levou, era insuportável. Quando tive estrutura para ir dentro de mim, comecei a sentir muita falta. De ela saber que eu sabia quem era ela. Queria que ela tivesse espaço para poder ser comigo o que não podia ser com ele ( o pai ). Muito da minha vida fiz em homenagem a ela ( chora ). Ela não pôde viver plenamente. Então, fui louca para ela, tive os namorados para ela, fui amar enlouquecidamente para ela, fazer sexo para ela.

 

Você se considera liberada no sexo? Em 2004, escreveu uma crônica sobre 69 para a revista "Época"...

A vida inteira achei complexo fazer 69. Pensava: "Nossa, tenho que fingir que estou achando isso bom? Tenho que estar relaxada embaixo e, em cima, ativa e hábil. Dando e recebendo ao mesmo tempo". Parece culpa católica ( risos ). Não sei se sou liberada, mas não acho que sexo seja tudo isso que as pessoas dizem. 

Você interpretou muitos personagens sensuais, tinha essa consciência?

Não tinha consciência de nada. Nem que as mulheres não gostavam quando eu entrava num lugar. Os homens ficavam mexidos porque pensam com a cabeça de baixo e ficam menos inteligentes. Então, vivi num mundo imbecilizado. Me achava esperta pra sacar o comportamento das pessoas, mas descobri que sou uma tonta, uma ingênua enganável.

Descobri que fui traída pelas minhas melhores amigas. Tive uma secretária que ficou 25 anos comigo e me roubou muito. Eu não sabia nem assinar um cheque. Uma outra amiga roubou de dentro da minha bolsa quando fui ao banheiro no restaurante. Os psicopatas têm atração profunda por mim. Por causa dessa carência. Eu sou um poço de carência. Olha que coisa imbecil de se dizer! Uma mulher adulta de 60 anos de idade falar que ainda está mal resolvida nessa área... Mas é verdade! É uma ilusão achar que você amadurece e se cura. A gente aprende a lidar com quem é, mas o buraco fica.

 

Sofreu assédio? Como lidou?

Sofri, com força física, inclusive. Fora todas as ameaças de ser humilhada, colocada para escanteio. Mas essa postura de vítima com quem não é me incomoda. Temos que dar voz a mulheres obrigadas a casar com homens que não escolheram, impedidas de estudar e trabalhar. Mas, você, toda inteligente, com confortos e instrumental para colocar aquele homem no lugar dele? Em último caso, dê-lhe um safanão físico.

Você já disse ter aprendido que, se ficasse inteligente, faria inimigos. Se escondeu atrás da beleza?

A beleza é avassaladora e vira um estigma. Quando junta outros atributos, fica mais complicado. Quando vim morar no Rio ( aos 19 anos, depois de estudar em Paris ), a beleza era mais valorizada do que em todos os lugares em que tinha pisado. Havia uma herança da corte, códigos que eu não entendia. Quanto mais me fechava, mais parecia metida, que estava me achando. Uma hora achei que tinha conseguido agradar, mas aí cansei de ter um personagem. Acho que até hoje sou inábil, um pouco desagradável. Sempre fui desastrada como bicho social. Algo em mim é incômodo para o outro.

 

Como é envelhecer?

Muda a forma como o mundo olha para você. Essa história com a Brigitte Macron ( Bolsonaro endossou um comentário que zombava dela ) foi preconceito de idade. Na época do Sarkozy ( ex-presidente da França ) com a ( cantora ) Carla Bruni ninguém comentava a diferença de idade ( de 13 anos ). Agora, como a mulher é a mais velha... O mundo faz você perceber que agora representa outra coisa, talvez as pessoas te queiram menos.

De onde veio a ideia da série de vídeos "Mulheres de fibra", em que fala de Dercy Gonçalves, Ada Rogato, Florence Nightingale e Nair de Teffé no Instagram?

É um bom jeito de falar da mulher sem ficar levantando bandeiras bobas, de contar quem abriu caminho para a gente hoje poder falar. Qualquer movimento que se torne forte por motivos justos depois tem desvios, né? Está cheio de gente que fala sem conhecer a história do feminismo só para pertencer ao grupo.

E as peças que estava encenando no ano passado (" A mulher de Bath" e "À beira do abismo me cresceram asas"), vão voltar?

Como ficou muito difícil fazer teatro, fui para as redes. Hoje, se você é uma pessoa pública e não está nas redes, desaparece. Preciso delas para promover minhas peças. Não tenho dinheiro nem patrocinador. Levei trambique dos produtores, que não me pagaram. Estava em cena há três anos e parei para acertar as contas. Fiz tudo sem lei de incentivo e queria levar para comunidades, aldeias, quilombos. Eu estava na Rouanet, mas agora, com todo esse mau humor com a lei, meu patrocinador recuou...

 

Acha que há má vontade com a cultura e com os artistas?

É ignorância, as pessoas não sabem o que é Lei Rouanet. O que torna o Brasil conhecido é a sua cultura: o carnaval, o samba, a bossa nova. Não se ama o Brasil pelos bifes, as galinhas das granjas, ou a soja transgênica. O país está deprimido e isso torna as pessoas odientas, falando barbaridades. E quem está no poder mente e desmente dados do Inpe Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ), por exemplo...

Você está falando da Amazônia?

Existe um vazio imenso e irresponsável, um desmonte do que se construiu durante 30 anos por revanchismo com o governo do PT. Hoje, com satélite, dá para ver o desmatamento e multar. Mas o presidente não acredita em satélite. Tá cheio de terra abandonada pelo agronegócio que pode ser reutilizada. Não precisa fazer isso com a Amazônia.

Você foi cotada para ser ministra do meio ambiente do governo Bolsonaro?

Não fui chamada pelo grupo do Bolsonaro, mas por ambientalistas que sugeriram o meu nome. Eu não estava preparada, mas conversei com pessoas que acharam uma boa ideia. Sou ativista ambiental há anos, conselheira da Conservation Internacional ( ong ambiental criada em 1990 ). Eles ( o governo ) não queriam alguém do Ibama, achavam que era órgão de comunista. Eu sabia que ia levar paulada da minha classe. Ficam pensando "ah, bolsimínia". Eu, no desespero, me ofereci em sacrifício. Pela Amazônia, era para todo mundo dar as mãos e deixar a ideologia de lado.

 

Também foi criticada por defender Regina Duarte, que apoiou Bolsonaro...

Acho feio, agressivo e malvado a minha classe, que conhece a Regina e sabe de sua honestidade, jogar pedra porque ela pensa diferente. Onde é que nós estamos? Em 1964? Me coloquei não porque concordo com ela, mas porque quero que preservem o direito de pensar diferente. Fiquei com vergonha da minha classe, da mesma forma quando destruíram a carreira do José Mayer. Em nome de que? De um feminismo torto?

Muitas atrizes saíram em defesa da figurinista Su Tonani, que o acusou de assédio. Acha mesmo que houve um exagero?

Já trabalhei com o Zé, ele nunca avançou em mim. Aquela história foi caluniosa e oportunista. Não deveria ter vindo a público. Era pra ser resolvida com a namorada, eles tinham uma relação. A gente não deve se meter no que não conhece. Feminismo é coisa séria demais pra virar instrumento de maldade!

Em quem votou na última eleição? Se arrepende?

Votei na Marina ( Silva ) e, no segundo turno, não votei porque estava fazendo minha peça em Porto Alegre. Simplesmente não fui votar. Foda-se. Não tive vontade, não tinha opção. Então, fui lá e fiz a minha arte, política à minha maneira. O teatro me salvou.

Você viveu com o empresário Paulo Marinho, pai da sua filha e que esteve diretamente envolvido na campanha de Bolsonaro (o “quartel-general” da campanha bolsonarista ficava na casa do empresário, no Rio). Vocês conversaram sobre política?

No momento da campanha, houve um afastamento, uma tensão entre a Maria e o pai. Comigo também. Não dava pra conversar, falei: "Tem limite, né, Paulo?". Eu e ele nunca pensamos igual. Rio com ele, mas às vezes não levo a sério determinadas coisas. Ainda que ele seja articulado, inteligente, engraçado, me parece que tem uma pitada de loucura quando bota o Bolsonaro para morar, praticamente, dentro da casa dele. Não posso falar pelo Paulo, evito esse assunto com ele, mas suponho que tenha havido um desencantamento.

Uma crítica que fazem a você é o fato de nunca ter se casado oficialmente para não perder a pensão deixada por seu pai...

As pessoas falam demais, dizem que meu pai era militar, mas ele nunca foi ( era desembargador e foi  procurador de Justiça de São Paulo ). Aos 20 anos, quando conheci o Paulo, não tinha conhecimento do benefício, e tampouco podia imaginar que meu pai fosse se matar anos depois ( o pai de Maitê, assim como um de seus dois irmãos, se suicidou ).

 

Mas, sobretudo, não acredito na instituição. A minha experiência era de que os casamentos acabam em sofrimento, por isso não me casei. Mas isso ( a pensão ) já tramitou em juízo, é um direito adquirido. Porque aquele funcionário público ( o pai ) pagou impostos durante toda a vida  para que a pensão acontecesse. Se não concordam com a lei, que é de 1940 e talvez seja anacrônica, devem mudá-la de agora para a frente. Não podem fazer isso com as pessoas.


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