O aumento do preço da massa na Itália, um dos principais alimentos da culinária do país, tem acendido um alerta até mesmo no governo. O ministro italiano de Empresas e Made in Italy (Feito na Itália, em tradução livre), Adolfo Urso, convocou uma reunião na última quinta-feira de uma nova comissão para discutir o preço do macarrão.
As informações são de um funcionário da pasta, que falou sob condição de anonimato ao jornal americano The Washington Post. O preço das massas subiu 17,5% em março em comparação com o ano anterior, relatou a mídia local citando dados do ministério.
Para comparação, o salto é mais do que o dobro da inflação total de preços ao consumidor no período, que foi de 8,1% em março, segundo o Banco Central Europeu. O preço do trigo, no entanto, caiu, o que tem provocado uma reação dos consumidores.
Os produtores defendem que custos mais altos de energia, interrupções na cadeia de suprimentos e inflação de outros produtos têm elevado o preço das massas, mas o governo recebeu uma queixa oficial de consumidores do país que acusam os responsáveis pelo macarrão de especulação.
“Não há justificativa para os aumentos além da pura especulação por parte dos grandes grupos alimentícios que também querem complementar seus orçamentos com lucros extras”, disse Furio Truzzi, presidente da Assoutenti, um grupo de direitos do consumidor que publicou uma pesquisa sobre preços de massas regionais em abril, ao jornal por e-mail.
Macarrão: mil e uma possibilidades de preparar a boa e velha massa
O relatório do grupo constatou que os preços das massas aumentaram em média 25% em relação ao ano passado, com algumas cidades vivendo um crescimento de quase 50%.
Os produtores de massas, porém, apontam para um aumento nos custos de produção, como energia, embalagem e logística. É o que defende Ivana Calò, porta-voz da Unione Italiana Food, um órgão da indústria, ao Washington Post.
“O impacto da inflação do macarrão no orçamento das famílias italianas será limitado”, já que custa apenas alguns euros, ela escreveu em um e-mail ao jornal. “A massa nas prateleiras hoje foi produzida meses atrás, quando o trigo duro [era] comprado a preços altos e com custos de energia no auge da crise”, acrescentou Michele Crippa, professora italiana de ciência gastronômica.
Segundo o Washington Post, a reunião da última quinta foi liderada pelo garantidor de Vigilância de Preços, Benedetto Mineo, que disse em um comunicado após o encontro que “uma queda significativa no custo das massas é esperada em breve” e que as autoridades continuarão monitorando os preços “para proteger os consumidores”.
O macarrão, que custa cerca de US$ 2 a caixa (aproximadamente R$ 11), ainda é relativamente barato, porém uma disputa envolvendo massas na Itália sempre toma proporções maiores devido ao quão intimamente ligadas ela são à identidade nacional.
A reação do governo mostra o “valor simbólico, emocional e cultural que a massa tem para os italianos”, disse Fabio Parasecoli, professor de estudos alimentares da Universidade de Nova York, ao Post.