Alguns estudiosos do Primeiro Mundo demonstram, nesta pandemia assassina, uma crescente preocupação com os espertíssimos embromadores que estão vitimando uma imensa maioria populacional, nos diferenciados níveis de escolaridade. Os fundamentalismos religiosos negativistas estão se expandindo, nos quatro cantos do planeta, através dos modernos meios de comunicação, enquanto alguns sabidos ganham fortunas com anjos, ETs, tarôs, cristais, satanismos, continentes perdidos, OVNIs, horóscopos, aparições, cristais pelos olhos, baralhos, fitinhas e penduricalhos que dão sorte, acuando, para terrenos movediços, os salutares valores da racionalidade, de decrescente notoriedade entre incautos e abobados, deteriorando gigantescamente os avanços científicos mais consistentes e fecundantes.
As novas crendices e superstições estão substituindo, nos centros urbanos metropolitanos brasileiros, as mulas sem cabeça, as pernas cabeludas, a comadre Fulôzinha, o boi da cara preta e os demais engana-bestas que povoavam a imaginação dos jecas em passados não muito remotos.
Num livro não muito recente, embora sempre dotado de notáveis insights, O Mundo Assombrado pelos Demônios, editado no Brasil pela Companhia das Letras, magistralmente escrito para todos os pensantes não negativistas, o notável Carl Sagan divulgou dados percentuais assustadores: 95% dos americanos são “cientificamente analfabetos”, prevalecendo, nas terras do Tio Sam, uma lei similar à de Gresham, segundo a qual “a ciência ruim expulsa a boa”. Ele alerta com muita acuidade: “As consequências do analfabetismo científico são muito mais perigosas em nossa época do que em qualquer outro período anterior”. E acrescenta sem disfarce: “Dos membros do Congresso dos Estados Unidos, raramente 1% chegou a ter alguma formação científica significativa no século XX”.
No seu livro, Carl Sagan revela que, recentemente, a diretoria de uma grande companhia de produtos eletrônicos inquietou-se com o seu derredor social, ao constatar que 80% dos inscritos numa seleção não conseguiram aprovação num teste de matemática elementar. Ele denuncia: os colegiais norte-americanos não estão estudando o suficiente, apesar do desempenho extraordinário de uma reduzida minoria. Enquanto o ano escolar dos Estados Unidos tem 180 dias letivos, a Coreia do Sul tem 220 dias, a Alemanha tem 230 e o Japão lidera com 243 dias. E no Brasil, a merdalidade educacional se amplia em todos os níveis de escolaridade.
Com dados comprovados, Sagan faz comparações: enquanto o aluno norte-americano médio, de escola secundária, utiliza 3,5 horas por semana nos deveres de casa, o aluno japonês da quinta série estuda, em média, 33 horas semanais. E aponta a consequência: com metade da população dos Estados Unidos, o Japão forma anualmente duas vezes mais cientistas e engenheiros com diplomas de nível superior!
Para todos os leitores deste JBF sempre crítico-edificante, uma leitura que poderá render muitas iniciativas promissoras: Lições de um século de vida, Edgar Morin, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2021, 110 p. Páginas de um sempre pesquisador senhor de 100 anos que continua preocupado com os tormentos de nossa contemporaneidade.
Um presidente norte-americano, George Washington, já dizia em 1790: “Nada é mais digno de nosso patrocínio que o fomento da ciência e da literatura. O conhecimento é, em todo e qualquer país, a base mais segura da felicidade pública”.