A mastologista do grupo Oncoclínicas e integrante da Sociedade Brasileira de Mastologia — regional DF, Lucimara Veras foi a entrevistada de ontem do CB.Saúde — programa do Correio Braziliense, em parceria com a TV Brasília. No Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama, ela conversou com a jornalista Carmen Souza sobre a doença que é a segunda em incidência mundial entre as mulheres e a maior responsável por mortes. A especialista alertou para os sinais que mulheres e homens devem ficar atentos, destacou a importância da prevenção por meio de exames de controle de bons hábitos alimentares e de cuidados com a saúde. A mastologista foi enfática ao afirmar que o único meio de rastreamento do câncer de mama é a mamografia.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima dois novos casos por dia no DF, neste ano, chegando a 730. Essa é uma realidade que a senhora percebe nos consultórios?Realmente, vemos uma incidência bastante elevada. Nos atendimentos na rede pública, acompanhamos pacientes em estágio mais avançado. Por outro lado, na rede privada, vemos mais pacientes com o diagnóstico precoce, o que é o recomendável.
Nacionalmente, a média é de 181 ocorrências por dia. Trata-se de um índice global ou o Brasil tem alguma especificidade?Corresponde a um índice geral. Eu acredito que este ano, inclusive, registraremos um aumento, em relação aos anos anteriores, por conta da pandemia. E essa é a realidade que a gente vê nos hospitais. O câncer de mama é o segundo tipo mais comum em mulheres, no mundo — superado apenas pelo de pele — e é o câncer que mais mata. Então, por isso, é importante a gente se cuidar e tentar prevenir.
Ao que a mulher e o homem têm que ficar atentos em relação aos sintomas do câncer de mama?Ele pode aparecer por meio de diversos sinais e sintomas. O principal sinal de alerta é o surgimento de um nódulo, que é um caroço na mama. Esse nódulo está presente em 90% das pacientes com câncer de mama. Se você apalpou algum nódulo, algum caroço na mama, procure um especialista para te examinar. Além do nódulo e do caroço, é possível alguma retração na mama, alteração no mamilo, da mulher ou do homem. Não podemos esquecer que uma parcela masculina é acometida pela doença. Essa mama também pode estar avermelhada, apresentar prurido, ter um aspecto que a gente chama de casca de laranja. Outro sintoma importante é o surgimento de nódulo na axila ou no pescoço, que seria os linfonodos.
Muitas pessoas não se conhecem, não conhecem seu corpo e aí entra a importância do autoconhecimento físico. Antigamente, era preconizado um autoexame na frente do espelho, no banho, em uma posição específica, hoje, orientamos que a paciente conheça como é a sua mama. Então, ela tem que saber como essa mama vai se comportar no decorrer do seu ciclo.
Quais são as condições que podem indicar a maior vulnerabilidade?Sobrepeso, obesidade e sedentarismo são fatores de risco importante. O câncer de mama está muito ligado com alteração hormonal e a gente sabe que parte da gordura do nosso organismo é convertida em estrogênio, que é um hormônio feminino, então isso eleva as chances da paciente vir a ter um câncer de mama. A ingestão de bebidas alcoólicas também, a exposição frequente a radiação. Pacientes que menstruam muito cedo — antes dos doze anos — ou que entram na menopausa muito tarde, porque se ela menstrua muito cedo, e vai parar de menstruar muito tarde, ela tem um período de vida maior exposta a ação do hormônio, são todos fatores possíveis. Além das questões genéticas, de maneira mais esporádica, porque 90%, 95% dos cânceres são decorrentes dessas outras causas que a gente falou. No caso das mulheres, é importante destacar que o aleitamento materno é um fator protetor do câncer de mama.
Quais são os principais exames para fazer esse rastreamento e o diagnóstico da doença?Falando de rastreamento, hoje existe um exame que serve para rastreamento que é a mamografia. Não existe nenhum exame que o substitua. Somado a ele, a gente tem alguns exames que vão somar, que vão adicionar informações. Então a mamografia a gente recomenda que a paciente faça e a depender do resultado, complementamos. Normalmente, o exame é recomendado a partir dos 40 anos, nas pacientes de baixo risco.
Como a crise sanitária tem atingido o enfrentamento ao câncer de mama?O número de pacientes no consultório diminuiu bastante. Os hospitais tiveram que se voltar para o enfrentamento da covid-19, então, houve restrição de cirurgias no período. O que a gente observa é que com a redução dos pacientes, houve a de diagnósticos. Agora que a população está mais vacinada, vemos o retorno aos consultórios. Mas aí o problema surge, porque eles vêm com lesões maiores. Por isso, mesmo durante a pandemia, a gente recomenda e sempre recomendou que não deixem de fazer os seus exames.
* Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira