Raimundo Floriano
Luiz Wanderley de Almeida, compositor e cantor, nasceu em Colônia de Leopoldina (AL), a 27.01.1932, e faleceu em Rio Tinto (PB), a 19.02.1992, aos 61 anos de idade.
Teve despertada sua vocação pela Música Popular Brasileira aos l6 anos, quando via e ouvia o sanfoneiro de oito baixos João Luiz, famoso em sua terra natal, tocando no Fuá da Véia Dina. Entusiasmado com as melodias dos oito baixos, e inspirado pela originalidade da música nordestina, Luiz Wanderley rumou para o Rio de Janeiro, a fim de tentar a carreira artística.
Na Cidade Maravilhosa, dentre outras atividades, foi também alfaiate, mas sua verdadeira profissão era a vida artística, participando de espetáculos em circos e shows em parques de diversão.
Antes de firmar-se na carreira, enfrentou muita ralação e passou por severas dificuldades, até o dia em que o Maestro Ubirajara dos Santos o convidou para crooner de sua orquestra no cabaré Novo México, no bairro da Lapa, onde cantava todos os gêneros musicais, sem, contudo, deixar de interpretar os que mais apreciava: coco, xote, baião e até samba de breque, pois era fã incondicional do consagrado Moreira da Silva.
Depois de um ano de permanência na orquestra, o próprio Maestro Ubirajara levou-o à Rádio Tamoio, apresentando-o a Zé Gonzaga, que o aproveitou em seu programa Salve o Baião. Foi o pontapé inicial na mídia.
Dotado de grandes qualidades no gênero interpretativo nordestino, não encontrou obstáculos e foi logo convidado para fazer uma série de programas na referida emissora. Em l954, o radialista Carlos da Rocha levou-o para fazer um teste na Organização Victor Cintra e, entusiasmado com seu talento, não vacilou em contratá-lo para uma temporada de 6 meses na Radio Mundial e na Rádio Mayrink Veiga. No término desses contratos no Rio de Janeiro, Luiz Wanderley rumou para São Paulo, em 1958, onde fixou residência.
Atuou em várias estações de rádio paulistas e cariocas, inclusive na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e apresentou-se constantemente por todo o Brasil, tornando-se um dos artistas mais populares do país. No Carnaval, deixou sua marca com vários sucessos, notadamente em 1961, quando estourou a banca com a marchinha Brigitte Bardot, composição de Miguel Gustavo.
Estreou em disco em 1952, pela gravadora Star, com o samba O Palhaço Chegou, de Rosângela de Almeida e Enzo Passos. Em 1955, gravou, na Polydor, o xote Moça Véia, de sua autoria e Portela, e o baião Pisa, Mulata, de João do Vale, José Cândido e Ernesto Pires. Em 1956, ainda na Polydor, gravou o baião Bebap do Ceará, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, e o rojão O Segredo da Dança, de João do Vale, Onaldo Araújo e Vicente Longo Neto. No mesmo ano, atuou na TV Paulista. Estes foram seus primeiros trabalhos, cuja discografia ultrapassa a casa das 60 gravações, das quais possuo 52 em meu acervo.
Eis algumas capas dos fonogramas que nos deixou:
Estes quatro encontram-se à venda em sebos virtuais. Chama a atenção o detalhe que o primeiro deles, Baiano Burro Nasce Morto, alcançou a cotação máxima de R$380,00:
Luiz Wanderley participou de vários programas de TV, nas emissoras de São Paulo, do Rio de Janeiro e do Nordeste. No cinema, atuou em duas chanchadas da Atlântida, Vai Que É Mole e Só Naquela Base, ambos em 1960, tendo como companheiros de elenco Jô Soares, Otelo Zeloni, Renata Fronzi, Dercy Gonçalves, Ronaldo Lupo, Grande Otelo, Ankito e outros famosos da época.
Em 1959, lançou, de sua autoria e João do Vale, o coco Matuto Transviado, que se tornou, de imediato, grande sucesso em todo o Brasil. Incorporei-o logo a meu repertório de farra, pela beleza da melodia, pelo ritmo fortemente nordestino e pela hilaridade da letra, que assim dizia:
Coronel Antônio Bento
Quando fez o casamento
De sua filha Mariá.
Ele não quis sanfoneiro
E foi pro Rio de Janeiro
E contratou Bené Nunes pra tocar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Todo mundo que mora por ali
Nesse dia não pôde arresisti
Quando ouvia o toque do piano
Se alegrava e saía requebrando
Inté Zé Macaxera que era o noivo
Dançou a noite inteira sem parar
Que é costume de todos que se casam
Ficar doido pra festa se acabar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Oi lêlê, Oi lálá
Nesse dia Bodocó
Faltou pouco pra virar
Meia noite o Bené se enfezou
E tocou um tal de rock and roll
Os matutos caíram no salão.
Não quiseram mais xote nem baião
E que briga se falasse em xaxado
Foi ai que eu vi que no sertão
Também tem uns matutos transviados
Em 1970, quando esse bonito coco estava praticamente esquecido, o cantor e compositor Tim Maia resolveu regravá-lo, relançá-lo, mas com outra roupagem. E que roupagem!
Pra começo de conversa, mudou o título para Coroné Antônio Bento. Não satisfeito, modificou o ritmo e a introdução, tirando-lhe a feição nordestina e forrozeira. E bagunçou a letra, que ficou assim:
Coroné Antônio Bento
No dia do casamento
Da sua filha Juliana
Juliana? Mas que Juliana? Será que o Coronel Antônio Bento tinha mais essa filha? E a rima, onde a rima foi parar?
Pra completar a “parceria”, cortou a segunda parte, a que fala nos matutos!
A partir de então, uma enxurrada de intérpretes, como Cássia Eller e Trio Virgulino, passou interpretar o coco, que não era mais coco, dessa deturpada forma.
Inconformado diante desse descaso, lancei-me na garimpagem, procurando resgatar para vocês a gravação original. Só agora, depois de muita persistência, consegui o registro, extraído de um disco 78 RPM.
Vamos ouvir, então, com Luiz Wanderley, dele e do maranhense João do Vale, o coco Matuto Transviado, lançado em 1959:
Outros sucessos com Luiz Wanderley:
Baiano Burro Nasce Morto, baião, de Gordurinha, lançado em 1959:
Bibape do Ceará, baião, de Catulo de Paula e Carlos Galindo, lançado em 1956:
Carolina, xote, de Cláudio Paraíba e João Barone, lançado em 1960:
O Boi na Cajarana, baião, de Venâncio e Corumba, lançado em 1959:
O Casamento do Cauby, marchinha, Luiz Wanderley e Waldir Ferreira, lançado em 1963: