Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do Calixto - Onde Reminiscências, Viagens e Aventuras se Encontram terça, 08 de novembro de 2016

LONDRES, 2005 – PARTE III

LONDRES, 2005 – Parte III 

Robson José Calixto

 

21 de julho de 2005

 

            O especialista em poluição marinha do Ministério do Meio Ambiente, logo ao chegar à Organização Marítima Internacional - IMO, vai direto para o Grupo de Trabalho sobre Desmanche de Navios. Durante o intervalo do almoço (12:30 – 14:00 h) encontra, descendo a escada da ala dos delegados, o Engenheiro Ricardo Maia, um dos Representantes da Agência Nacional de Transporte Aquaviários - ANTAq na 53a. Sessão do Comitê de Proteção do Ambiente Marinho (MEPC). Ricardo o informa que ocorreram vários os atentados à bomba em Londres, naquele dia, e estava tentado avisar a sua família que estava tudo bem com ele.

 

            Na ala dos delegados o especialista vê, pelo vidro, que uma faixa amarela e preta cobria uma área de exclusão em frente a IMO. Os outros colegas da delegação brasileira confirmaram o atentado. O próprio Secretariado da Organização anunciara, na sala da Plenária, o acontecimento. Uma aura de expectativa circulava entre as salas da Organização. Todos desejavam informações adicionais, as salas de acesso à Internet lotaram. O especialista consegue ligar para a esposa no trabalho, que ao ouvir as notícias lhes passada começa a chorar, pedindo que ele vá para o hotel. Ele sorri, diz que está tudo bem com todos e o melhor lugar para ficar era ali onde estava, no prédio da IMO. Ademais, tudo estava parado e teria dificuldades para chegar ao hotel. Consegue achar um computador “vazio” para enviar notícias a pessoas amigas que sabiam que ele estava em Londres e poderiam ficar preocupadas.

 

Estações de Metrô de Londres que sofreram atentados

 no dia 21 de julho de 2005 - Ilustração: BBC News

 

Mapa das estações de Metrô de Londres – Zona 1, com indicação dos

atentados de 21 de julho de 2005. Observem a linha azul,

da Linha de Victoria - Fonte: http://www.declarepeace.org.uk

 

            Pela Internet descobre, e de noite confirma, que ocorreram quatro explosões: nas estações de Shepherd’s Bush, Warren Street e Oval, do Metrô, e em um ônibus em Bethnal Green. Ninguém ficou ferido no ônibus. As explosões no Metrô foram de pequena dimensão – não maiores que fogos de artifício - e poucas pessoas também ficaram feridas. Nenhum dos terroristas morrera nos atentados. Testemunhas relatavam um “cheiro estranho no ar” antes das explosões. Os investigadores descobririam, posteriormente, que um dos suspeitos havia gastado, no dia 7 de julho, 900 libras em perfume. Presume-se que fora uma tentativa de disfarçar o cheiro acre dos explosivos químicos utilizados, em decomposição. Uma fatalidade maior não ocorrera por que os detonadores utilizados falharam na ignição dos artefatos. 

Foto: Getty Images

 

            Mais tarde um quinto artefato é descoberto debaixo de alguns arbustos ao norte de White City e Shepherd’s Bush. Um endereço seria identificado entre o material dentro de uma das bolsas que não explodiram, indicando um prédio de três andares e nove “flats” em Scotia Road, Tulse Hill.

 

Imagem: Google Earth

 

Foto: Getty Images

 

            Como o Metrô e os ônibus estavam suspensos ou com circulação muito restrita na cidade, a sessão daquele dia na IMO foi encerrada um pouco mais cedo, para que todos pudessem retornar às suas residências ou hotéis. O Representante do MMA, o Engenheiro Ricardo Maia e o Décio Cunha da ANTAq, o Engenheiro Nilton Marroig da Petrobras Transporte S.A. - Transpetro, o biólogo Celso Aleluiah do Cenpes, bem como o Comandante Edson Pinho Sobrinho da Secretaria-Executiva da Comissão Coordenadora dos Assuntos da IMO (SEC-IMO) são obrigados a caminhar da IMO até os seus hotéis em Paddington e Bayswater – não havia outra opção. Pela Albert Embankment, na marcha forçada, margeiam o rio Tamisa, no lado oposto ao Parlamento, passando em frente ao Hospital St. Thomas e à Roda Gigante conhecida como “Olho de Londres” (“London Eye”) e alcançando a Ponte de Westminster nas proximidades do Big Ben, para cruzar o rio.

 

Comandante Edson Pinho Sobrinho (sentado)

 Fonte: Linkedin

 

Pessoas caminhando em Londres tentando voltar para casa

 ou seus hotéis no dia 21 de julho de 2005 - Foto: Getty Images 

            O Representante do MMA percebe, em todo o trajeto, claramente nos Londrinos e nos próprios brasileiros, algo bastante significativo: ninguém queria parar, apesar do terror. Sim, o terror chegou e se instalou, mas todos estavam determinados a continuar. A cidade já demonstrara por inúmeras vezes a sua coragem. As pessoas comentavam sobre o que poderia ter acontecido, as motivações, as justificativas ou a insensatez, mas todos tinham no olhar um brilho da resistência, um sentido de retornar à normalidade do dia-a-dia. A cidade resistia. Talvez fosse devido à atmosfera de uma cidade que superara os ataques da Força Aérea alemã na Segunda Grande Guerra ou, mesmo, os diversos ataques terroristas do IRA. A vigilância aumentaria, o medo afloraria à pele; contudo, a resistência à sucumbência também persistiria.

 

            Logo se percebe que os Pubs próximos à Estação de Westminster retornavam à normalidade, a cerveja quente já animava seus frequentadores. Para a surpresa a estação estava funcionando, como havia dúvida se os trens estavam parando em todas as outras do trajeto resolveu-se pegar um duplo-deck até Oxford Circus. E naquele aglomerado urbano constatou-se que por mais que houvesse ataques a Londres, a cidade se reconstruiria, seus habitantes retomariam suas rotinas, as lojas abririam, as pessoas olhariam vitrines ou entrariam nas lojas para fazer compras, comeriam “waffles”, “pizza” ou “fish and chips” pelas ruas. Tudo e nada normal. O preto continuaria a predominar nas roupas. O lilás e o malva seriam as cores de camisa mais usadas pelos homens. Russos, romenos, poloneses, árabes, brasileiros, portugueses, paquistaneses, hindus, jamaicanos; todas as descendências continuariam sendo toleradas, mesmo com aumento no nível de segurança.

 

            O Grupo de brasileiros se separou. O Comandante Sobrinho foi o único a se arriscar a tomar o Metrô. O representante do MMA caminhou pela Oxford Street até Marble Arch. Passou pelo cinema Odeon (atualmente fechado), entrou na loja de conveniência árabe “Green Valley” e comprou dois maravilhosos quibes de frango e uma Coca-Cola light sem cafeína. Comendo e bebendo pela rua ruma para a Sussex Gardens. Observa os árabes nas mesinhas dos cafés. Conversavam meio tensos, pareciam contrariados, nervosos, apesar de todos aparentarem normalidade. O chá de menta continuava a ser bebido e o narguilé a ser fumado. Havia menos gente transitando na Edgware Road.

 

            A noite de quarta-feira não estava tão fria em Londres; entretanto, havia um certo calor visível, uma angústia perceptível, um desejo de vingança palatável circulando entre Edgware Road e Marble Arch. A vigilância estava mais cerrada. As CCTVs pareciam perscrutar os pensamentos. Uma atmosfera de observação hindu oprimia os mais sensíveis. Havia policiais por todos os lados, vários à paisana, vários escondidos de tocaia, atrás de pequenos jardins. Eles queriam “pegar alguém”, a densidade do ar denunciava. As prostitutas que algumas vezes faziam ponto nas esquinas das pequenas ruas que entrecortam a Sussex Gardens, como na Southwick Street, em frente ao pub “The Monkey Puzzle”, estavam por lá e atrapalhavam a tocaia. Uma delas foi abordada por um dos polícias, que saiu detrás de um dos jardins na calçada oposta, cruzou a rua e disse que ela não podia ficar ali.

 

O Pub “The Monkey Puzzle” -  Foto: Robson José Calixto

 

22 de julho de 2005

 

            O especialista do MMA sai do Athena Hotel, um pouco atrasado naquele dia em direção à estação de Paddington. Até chegar à Vauxhall, estação que fica a menos de vinte minutos, a pé, da IMO, teria que fazer baldeação em Oxford Circus. Desce em Vauxhall, com saída da estação entre o prédio do MI6 (“Military Intelligence Section Six” - Serviço de Inteligência de Reis e Rainhas do Reino Unido desde 1909) e o prédio que ao final da década de 1990 fora atingindo por um míssil do IRA e que, agora, é de apartamentos, tendo na sua cobertura feições que se assemelham a aviões com hélice. Olha para o relógio: 09:40 h. Já saíra um pouco atrasado do hotel e atrasos adicionais só lhe permitiam chegar naquela hora. O Metrô estava horrível naquele dia. Os trens pararam diversas vezes nos túneis, provavelmente tudo relacionado aos atentados. Direto para o Grupo de Trabalho sobre Desmanche de Navios novamente.

 

Prédio reformado em frente à Estação de Metrô de Vauxhall

Foto: Robson José Calixto

 

Prédio do MI6 - Foto: Robson José Calixto.

 

            Pouco depois do intervalo do “Coffee-Break” (11:00 – 11:30 h) encontra Ricardo Maia que lhe informa as notícias de que um dos terroristas que havia atacado Londres no dia anterior tinha sido pego e morto em estação do Metrô. De noite, na BBC e na ITV, o foco das atenções era o fuzilamento na Estação de Stockwell. 

Fim da Parte III 

(Este texto não é de ficção, mas baseado em fatos reais, sendo parte do Livro Terror & Poder Marítimo, de Robson José Calixto, registrado na Biblioteca Nacional.)

 


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