LONDRES, 2005 – Parte II
Robson José Calixto
10 de julho de 2005
O especialista chegou a Londres, Reino Unido. O avião não estava tão vazio quanto aqueles que tomara rumo à Europa, logo após o 11 de setembro de 2001. A gerente marroquina do hotel em que costumava se hospedar, ainda com imagens vivas na sua retina, contou para o especialista o horror que vivenciou no dia sete de julho de 2005, dia do atentado no Metrô. Era gente ligando de fora do país para cancelar reservas. Outras procuravam hotel porque não sabiam para onde ir ou como voltar para casa. Pessoas feridas, ensanguentadas, aterrorizadas, queimadas, chorando e andando sem rumo. Outras estavam chumbadas nas calçadas, com olhares paralisados e distantes. Os não atingidos tentavam ajudar, consolar e dar esperanças aos marcados pelas explosões, pela fumaça, pelo fogo, pelo calor, pelas queimaduras, pelos estilhaços e pela escuridão dos túneis percorridos. No ar, um sentimento de perda, de dor, de revolta, de não se ter resposta, de não se ter sentido.
A gerente do hotel que o especialista costumava se hospedar, o Athena, comentou que, apesar da necessidade humana que se espalhava nas proximidades, vários gerentes de hotéis próximos majoraram os preços das estadias, para ter um lucro maior, uma vez que a demanda por quartos estava altíssima.
Athena Hotel. Foto: Robson José Calixto.
O especialista rumou até a Estação do Metrô de Edgware. Não conseguiu se aproximar muito, devido a uma faixa policial de exclusão. Rumou até Marble Arch. Percebeu uma contrição no ar. As vozes não estavam tão altas. O burburinho não era o usual. A rua aparentava normalidade, mas nada era normal. Agentes ingleses estavam lá no Cyber usando computadores, mas seus olhos não estavam voltados para as telas dos computadores, miravam, sim, para a antiga livraria árabe Al-Ahram (atualmente existe uma farmácia no local), do outro lado da rua, próxima ao restaurante Al Dar (atual Al Arez). Os árabes, em menor número, continuavam sentando-se em frente aos Cafés e Restaurantes para tomar chá ou fumar narguilé, mas suas testas franziam, suas mãos eram lançadas ao ar em gestos de contrariedade ou de incompreensão. As palavras pareciam entrecortadas por certo silêncio. No alto dos postes, vigilância cerrada. Qualquer pacote qualquer mochila deixada, desatentamente, era motivo para alarde e desconfiança, ou terror. Um déjà vu, não-intencional, do Exército Revolucionário Irlandês - IRA parecia flutuar na atmosfera londrina.
Restaurante Al Arez (Antigo Al Adar)
Foto: Robson José Calixto
12 de julho de 2005
Os trabalhos matinais da delegação brasileira no Grupo Intersecional começaram sem o Comandante de Mar-e-Guerra (CMG) Resano, que estranhamente, não aparecera naquela manhã. A “Mission Officer” Eliane Macedo também não. Ao longo dos trabalhos, nenhum telefonema, nenhuma comunicação... até que Celso Aleluiah, do Centro de Pesquisa da Petrobras – CENPES, resolveu ligar para o Resano e receber notícia que abalaria toda a delegação: – o Almirante-de-Esquadra Souza Pinto falecera naquela manhã, de problemas no coração.
Almirante-de-Esquadra Mauro Souza Pinto (in memoriam)
Fonte: Marinha do Brasil.
13 de julho de 2005
A Polícia Metropolitana de Londres anunciou que identificara os terroristas que realizaram os atentados do dia 7: três mulçumanos de origem britânica e um jamaicano convertido ao islamismo.
O CMG Resano dá uma passada na Organização Marítima Internacional - IMO e detalha aos delegados brasileiros o agravamento da doença do Almirante Souza Pinto, que já se encontrava hospitalizado há mais de quinze dias, com vista a procedimentos pré-operatórios, e, a seguir, a sua morte.
Prédio da Organização Marítima Internacional
Foto: Robson José Calixto.
14 de julho de 2005
Milhares de pessoas se reuniram em Londres, especialmente na praça de Trafalgar Square, ao meio-dia, em memória das vítimas dos atentados à bomba, bem assim em reconhecimento das equipes de emergência que acorreram aos diferentes chamados para prestar socorro. O silêncio estava impregnado de uma mensagem de desafio aos terroristas. Os dois minutos de silêncio também foram respeitados na IMO.
Trafalgar Square
19 de julho de 2005
Por volta desse dia, estudos forenses já indicavam que as bombas teriam sido acionadas manualmente, em vista da dificuldade de uma detonação remota nos profundos, mas nem todos, túneis do Metrô de Londres, onde, dificilmente, se vê alguém falando em telefones celulares quando os trens estão em movimento. Tal conclusão implicava em se aceitar duas hipóteses: ataque suicida, com homens-bomba e bombas plantadas nos comboios, próximas ao chão ou até mesmo debaixo de algum trem. As investigações e testemunhos oculares apontavam para ambas as possibilidades.
Fim da Parte II
(Este texto não é de ficção, mas baseado em fatos reais, sendo parte do Livro Terror & Poder Marítimo, de Robson José Calixto, registrado na Biblioteca Nacional.)
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