Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Coluna do Calixto - Onde Reminiscências, Viagens e Aventuras se Encontram quarta, 31 de agosto de 2022

LONDRES, 2005 – PARTE FINAL (CRÔNICA DO SACRISTÃO ROBSON JOSÉ CALIXTO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

Londres, 2005 – Parte Final 

Robson José Calixto

 

Jean Charles de Menezes – Assassinato Sem Muitas Explicações 

            Jean Charles de Menezes nasceu a 7 de janeiro de 1978, no município de Gonzaga, a nordeste de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. Entrou no Reino Unido em 2002, obtendo, a seguir, um visto de estudante até junho de 2003. Jean Charles passou a viver ilegalmente no Reino Unido após esse período, já que não solicitou a revalidação do seu visto. Realizava trabalhos de eletricista para garantir seu sustento.

 

            As informações sobre o que aconteceu são, até hoje, muito contraditórias e, provavelmente, nunca se saberá a verdade, por inteira, mas no dia 22 de julho de 2005, a polícia metropolitana estava “caçando” quatro suspeitos dos quatro atentados à bomba do dia anterior. Por volta das 09:30 h daquela manhã, policiais encontravam-se de tocaia em Tulse Hill, procurando homens de aparência etíope ou somali, quando avistaram um homem de tez morena saindo da entrada comum do bloco. Era um dos seus moradores: Jean Charles de Menezes. Um dos oficiais compara a fisionomia de Jean Charles com as fotografias da CCTV sobre os suspeitos dos atentados do dia anterior, indicando que seria interessante mantê-lo sob vigilância até uma confirmação positiva. O Comando Dourado, de caráter estratégico, autoriza, então, os oficiais a manterem vigilância do suspeito.

 

Um dos trens da Linha de Victoria que passa em Stockwell

Foto: Robson José Calixto 

            Jean Charles caminhou até a parada de ônibus de Tulse Hill, onde toma o Ônibus de No. 2 em rumo da estação do Metrô de Stockwell, juntamente sobem policiais à paisana que continuaram a perseguição. Durante o percurso, de aproximadamente 20 minutos, por algum motivo Jean Charles desceu do ônibus por alguns momentos e, a seguir, retomou a viagem - é possível que algum instinto de sobrevivência tenha aflorado nele ao estar sob vigilância. Segundo consta os três oficiais de tocaia estariam satisfeitos por perseguirem o alvo correto “porque ele teria olhos de mongol” e, contatam o Comando Dourado, informando que a aparência de Jean Charles casava, “potencialmente”, com as de dois suspeitos dos atentados do dia anterior. O Comando Dourado, então instrui os oficiais para que detivessem Jean Charles, tão logo que possível, evitando que entrasse na Estação de Stockwell e tomasse um trem, transferindo, a seguir o controle da operação para o Comando de Operações Especializadas da Polícia Metropolitana – SO19 (“Specialist Operations - SO19” ou “Specialist Firearms Command - CO19”).

 

Estação de Metrô de Stockwell. Foto: Google Earth.

 

Guarda Metropolitana

Foto: Oli Scarff/Getty Images – The Guardian 

            A partir daí as informações disponíveis são desencontradas, mas Jean Charles conseguiu entrar na Estação, por volta das 10:00 h, pegar um dos trens e sentar em um dos bancos disponíveis. Com a chegada dos oficiais armados do SO19, um dos que estavam de tocaia bloqueou a porta do trem, para que essa não fechasse, indicando onde Jean Charles estava. A fuzilaria se impôs, Jean Charles foi atingido por sete tiros na cabeça e um tiro no ombro, disparados por dois atiradores do SO19, de forma que, se estivesse carregando uma bomba no corpo, não pudesse detoná-la. Sim, eles pegaram alguém. Cerca de trinta passageiros testemunharam o assassinato.

 

Jean Charles de Menezes caído, após ser alvejado,

dentro de um dos trens do Metrô de Londres. Foto: ITV News

 

23 de julho de 2005 

            A Polícia Metropolitana anunciou que identificara a vítima como Jean Charles de Menezes, adicionando que ele não carregava explosivos, nem tinha qualquer conexão com os atentados do dia 07 ou do dia 21 de julho.

 

Tributos florais do lado de fora da Estação de Metrô de Stockwell

Foto: David Levene para o the Guardian 

            O terrorista fuzilado não era terrorista. O asiático não era asiático. O homem assassinado em Stockwell era um brasileiro. De repente na cabeça do representante do MMA um fluxo de raciocínio se estabeleceu. Reconheceu que aquele sentido de vigilância e perigo percebido no dia anterior tinha sido verdadeiro e legítimo: eles queriam pegar alguém, como exemplo ou não, e pegaram! E erraram. Fora engano. Um inocente fora morto. Lembrou que descera do trem em Vauxhall apenas vinte minutos antes do incidente e que a Estação de Stockwell era, consecutivamente, a seguinte. Podia ter sido ele mesmo vítima daquele terrível engano ou qualquer um dos seus colegas de delegação.

 

            Na delegação brasileira presente à sessão da IMO percebeu-se um sentido de consternação. Vários delegados estrangeiros foram falar com os brasileiros, recomendando cuidado pelas ruas de Londres. Após a divulgação do rosto de Jean Charles, até mesmo a gerente do Hotel Athena, onde se hospedava, veio falar com o especialista do MMA que a vítima poderia ter sido ele, pois se parecia com a vítima do SO19, o que, com exceção da cor da pele, era um exagero.

 

 

Jean Charles de Menezes. Foto: Internet

O autor do presente texto: Robson José Calixto 

Dados Finais sobre o Ataque de 7 de julho de 2005 

            Os atentados infligiram 56 mortes, contando os quatro terroristas. Cerca de 700 feridos. As investigações da Scotland Yard apontaram que nos atentados foi utilizado tri-acetona triperóxido (TATP, conforme sigla em inglês) como explosivo, aliás, muito conhecido pelos homens-bomba pelo nome “Mãe de Satã”, devido ao seu poder destrutivo. O TATP pode ser fabricado a partir de produtos de limpeza e desinfetantes, ainda que a sua elaboração requeira um perito em química para manipulação devido aos seus componentes que são muito instáveis.

 

            Esse entendimento da Scotland Yard não foi unânime, pois especialistas de New York que participaram das investigações disseram que as bombas utilizadas foram produzidas a partir de tintura de cabelo, pastilhas de ácido cítrico e perfumes, ademais o TATP não liberaria calor suficiente para causar danos de importância, o que viria contrariar muito os oficiais britânicos, apesar de especialistas israelenses confirmarem essa hipótese.

 

            A 15 de julho de 2005, o doutor em Química pela Universidade de Leeds, Magdi Asdi el-Nashar, foi detido como suspeito na fabricação das bombas. Após semanas de detenção é liberado, já que as suspeitas não se comprovaram.

 

            A rede Al Jazeera, a 1º. de setembro de 2005, divulgou um vídeo em que aparecia Mohammad Sidique Khan, um dos homens-bomba que morreram no atentado, especificamente no trem que passava por Edgware Road. No vídeo, inter alia, é apresentada a seguinte declaração:

 

“(...) Vocês democraticamente elegeram governos que continuamente perpetuam atrocidades contra meu povo ao longo do mundo. E seu apoio a eles faz vocês diretamente responsáveis, simplesmente como eu sou diretamente responsável para proteger e vingar meus irmãs e irmãos mulçumanos. Até nos sentirmos seguros vocês serão nossos alvos e até vocês pararem o bombardeio, os gases, aprisionamento e tortura do meu povo nós não pararemos esta luta. Nós estamos em guerra e eu sou um soldado. Agora vocês terão o gosto da realidade desta situação.”

 

Fim

 

(Este texto não é de ficção, mas baseado em fatos reais, sendo parte do Livro “Terror & Poder Marítimo”, de Robson José Calixto, registrado na Biblioteca Nacional.)


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