Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense segunda, 04 de abril de 2022

LITERATURA: LIVRO TRAZ TRAJETÓRIA DE GRAFITEIRO QUE DEIXOU O TRÁFICO PELAS ARTES

Livro traz a trajetória de grafiteiro que deixou o tráfico pelas artes

Grafiteiro da cidade, Carlos Astro, 45 anos, lança livro sobre as gírias, a rotina e o tratamento durante o tempo que cumpriu pena no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP) por tráfico de drogas

PM
Pedro Marra
postado em 04/04/2022 06:00
 
O grafiteiro Carlos Astro encontrou na literatura e arte um caminho para reintegração social -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
O grafiteiro Carlos Astro encontrou na literatura e arte um caminho para reintegração social - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Conhecida pela cena cultural de movimentos artísticos de rua, como o hip hop, Ceilândia recebe, no período de comemoração dos seus 51 anos, um presente simbólico: o livro O ressocializado — no mundo da lua, atrás das grades, do grafiteiro Carlos Washington Chagas Corrêa, 45 anos, mais conhecido como Carlos Astro. Na obra, o integrante do grupo de grafite 1V2M — Uma Vida, Dois Mundos — relata as memórias dos seis anos que esteve no Complexo Penitenciário da Papuda (CPP), preso por traficar oito quilos de cocaína.

Detido pela Polícia Civil do DF (PCDF), juntamente com outros cinco amigos de uma gangue de Ceilândia Norte, que produziam a droga em um laboratório, Astro criou o hábito de anotar o dia a dia da prisão em papéis de processos de ex-presidiários, que se transformaram nos rascunhos do livro. A mãe do escritor, Marilene Chagas, 68, buscava os escritos quando visitava o filho, a cada 15 dias. "Eu morava em Valparaíso de Goiás, e ia cedo para lá (Papuda), às 4h, pegava dois ônibus para visitar o meu filho", relembra.

A obra conta com 450 páginas e 30 capítulos. O primeiro, intitulado A casa caiu, inicia com o momento em que a polícia invadiu a fábrica clandestina e toda trajetória de Astro na penitenciária inicia. "Fiquei muito triste e, ao mesmo tempo, muito feliz, porque eu sabia que tinha errado e iria conseguir fazer o livro", afirma o autor.

O nome Astro surgiu em uma aula de astrologia na escola. A origem é explicada em uma parte do livro com páginas do alfabeto de A a Z, contendo gírias sobre o vocabulário do dialeto prisional.

O livro conta com duas artes elaboradas pelo desenhista Edmar Cosmo de Brito, 46, o Simpson, do 1V2M, criadas dentro da Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF1), conhecida como Cascavel, um dos presídios que integram a Papuda. O primeiro desenho, no começo da obra, mostra presos em uma cela com o subtítulo do livro acima: "No mundo da lua: atrás das grades"; e a frase "Retrato Carcerário".

 

  • 23/03/2022 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF - Caderno aniversário de Ceilândia. Pollyanna Souza, coordenadora da Biblioteca Pública Carlos Drummond de Andrade em Ceilândia.Marcelo Ferreira/CB/D.A.Press

  • Livro "O Ressocializado" conta a rotina de Carlos Astro e outros cinco presos na PapudaEditora Viseu/Divulgação
 
 

 

Na trajetória de ressocialização de Astro, ele comenta o peso das palavras emprego, profissão e educação para quem pretende não voltar para o crime. "Eu me sinto honrado, pois vão estar sendo expostos alguns trabalhos meus e eternizados em um livro muito bom", emociona-se o artista, que agradece as colaborações que recebeu para publicar o livro. "São muitos anos de parceria, amizade e trabalho", afirma.

Pollyanna adianta que pretende fazer um evento com roda literária ou palestra de Astro para jovens da comunidade local. "Uma história como essa temos que disseminar, em que ele mostra a sua mudança de vida por meio da leitura e escrita", comenta a educadora. Experiência para ministrar projetos sociais é o que o grafiteiro mais adquiriu ao sair da prisão. Em 2006, ele participou do Clube da Ceilândia, juntamente com os rappers de São Paulo, Ndee Naldinho e Mano Brown, na ONG Rebelião Cultural, do grupo 1V2M.
"Reformamos as piscinas, demos aulas de capoeira, futebol, e eu dava aula de dança e arte urbana para 150 alunos de manhã e 150 à tarde", recorda Astro, que se diz 100% ressocializado. "A minha ressocialização é diária", diz. O grafiteiro critica a falta de investimento do governo federal em um programa para reinserir os presos na sociedade. "Nesse dinheiro todo, não temos nenhum valor voltado para a ressocialização", finaliza.

Um dos amigos de Astro na Papuda que conseguiu se reinserir na sociedade é o motoboy Janilson Amaral, 36. O morador do Sol Nascente saiu da prisão em 2010, mas foi preso novamente por tráfico de drogas cinco anos depois. "Quando a gente saiu, ele (Astro) ficou escrevendo o livro, e em fevereiro de 2021, quando saí de novo da penitenciária, ele já estava com o livro pronto", relata.

Janilson se recorda dos momentos que via de perto o processo de produção do livro de Astro dentro do Complexo Penitenciário. "Somos personagens desse livro, e foi um prazer saber que ele conseguiu essa vitória, porque acompanhei ele escrevendo em várias noites, quando chegava na cela e dizia que 'hoje aconteceu isso e aquilo'", detalha o amigo do escritor.

Para Isabel, que foi Secretária-adjunta de Segurança Pública da Paz Social do DF, entre 2015 e 2016, está no ser humano a capacidade de superação. "Criminalizando condutas a torto e a direita, acabamos tendo uma lógica que leva a essa situação de superencarceramento, em que colocamos na mesma cela o ladrão de galinha e o criminoso internacional", contextualiza a especialista do FBSP.


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