1. Na capital pernambucana, Teatro Santa Isabel, certa feita exibiu-se uma companhia de revista que exibia um espetáculo musical chamado Les Girls, onde todos os seus integrantes eram travestis belíssimos, de corpos fascinantes. Como éramos, à época, menores de 18 anos, ficamos impossibilitados de assistir. Mas logo uma ideia brotou em nossas cabeças presepeiras: assistir, após o espetáculo, a saída das “meninas” do teatro. O que foi feito, ensejando comentários no café da manhã da família do dia seguinte, na presença de nosso pai. E o comentário dele até hoje ressoa em nossa memória: “Aprendam que, na natureza humana, existem todas as cores. E todas elas merecem nosso respeito, posto que são originárias da Criação. Respeitem para serem respeitados.”
2. Recentemente, diante das agressões homofóbicas acontecidas nos quatro cantos do mundo, procurei me inteirar mais consistentemente sobre o assunto, até para tratar com afeto e carinho os diversos parentes que possuem uma afetividades diferenciada da minha, alguns deles já convivendo com seus companheiros(as) há bastante tempo, dois deles com adoções já devidamente resolvidas pelas instâncias judiciárias.
Consultando um amigo médico, hétero radical, integrante da AMEMG – Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, dele recebi a orientação de ler textos especializados no assunto. E a primeira indicação foi um trabalho consistente, amplamente reconhecido por todo o país: Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal, Andrei Moreira, Belo Horizonte MG, Editora AME, 2012, 414 p. Um livro dedicado “a todas as pessoas homossexuais que lutam por compreender sua experiência evolutiva atual e fazer dela um caminho de auto-encontro, responsabilização pessoal, amorosidades e crescimento espiritual em busca da felicidade.” Com uma declaração do notável psiquiatra Carl Jung: “Nunca pergunte o que uma pessoa faz, mas como o faz. Se o faz por amor, ou seguindo o os princípios do amor, está servindo a algum deus. E não cabe a nós estabelecer quaisquer julgamentos, por se tratar de algo nobre.”
A segunda indicação foi a de outro livro espírita também de bom calibre técnico: Homossexualidade, reencarnação e vida mental, Walter Barcelos, Votuporanga SP, Editora Espírita Pierre-Paul Didier, 2005, 238 p. Páginas que apresentam análises feitas pelo Allan Kardec, André Luiz e Emmanuel sobre as inclinações sexuais das criaturas, no corpo e fora dele, suas exigências morais de responsabilidade e amor.
3. O meu amado pai era um católico conservador, nunca reacionário, de mente sempre antenada para os amanhãs que se configuravam ao longo dos caminhos de todos. Admirava muitíssimo o amado Dom Hélder Câmara, embora sempre não tivesse vontade de integrar o corpo progressista militante do arcebispo, posto que se achava muito distanciado dos últimos documentos religiosos. Um dia, entretanto, ele nos disse: “Tenham sempre certeza disto: “O uso de bens da Terra é um direito de todos os homens! Esse direito é consequente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo”. (O Livro dos Espíritos, 711). E ele não era espírita. O livro era do meu avô Severiano, pai de minha mãe.
4. Certa feita, numa reunião familiar, se comentava algumas falcatruas cometidas no Serviço Público Federal. Meu pai, que era muito sensato, disse para os dois filhos menores presentes: – A vê-los ladrão, eu prefiro vê-los mortos. E a lição foi sempre entendida e seguida. Infeliz de uma família que tem parentes próximos envolvidos em operações financeiras que desonram histórias e caminhadas.
5. Uma outra lição de pai, uma das últimas, já perto de eternizar-se: – Os judeus nunca foram culpados da morte de Jesus Cristo. Quem o crucificou foi a dominação romana que à época imperava.
Um grande pai, o Antônio Carolino, 1,60 m, sempre sereno, mariano fervoroso, apaixonado pela sua Maria Luiza, mãe do Zé Carlos e minha. Que comemorou, no último dia 13 deste mês, 103 anos, lá na Mansão do Pai.