Em 1991, nas oitavas de final, o Flamengo até teve tranquilidade para fazer 5 a 0 no Deportivo Táchira, da Venezuela, na partida no Maracanã. Porém, no jogo de ida, fora de casa, triunfo foi por 3 a 2. Em 2008, a vantagem mais expressiva veio com gosto amargo na sequência. O rubro-negro derrotou o América, no México, por 4 a 2, mas perdeu por 3 a 0, em casa, e acabou eliminado.
Nem por este placar o Olimpia muda o cenário das quartas de final. Com a vitória do Flamengo por 4 a 1 no Paraguai, o rubro-negro só será eliminado se for superado por 4 a 0 ou três gols de diferença, mas a partir de 5 a 2. Antes, pelas oitavas, o time já sob o comando de Renato Gaúcho despachou o argentino Defensa y Justicia, com 1 a 0 fora de casa, e 4 a 1, no Mané Garrincha.
Time não tira o pé e roda mais
No mata-mata da atual edição, entra em cena a boa relação do novo treinador com a comissão técnica do clube, que ganhou mais importância no trabalho de Renato Gaúcho. Ela permite que o Flamengo dose mais o seu elenco e mantenha o ímpeto ofensivo na maior parte dos 90 minutos. O trabalho passa muito pelo perfil motivador de Renato, que não deixa que os atletas tirem o pé. Com ajustes táticos que deram mais liberdade aos jogadores de ataque, o resultado é uma equipe que procura a movimentação e torna o jogo mais dinâmico, mas correndo certo. O que causa menos desgaste ainda.
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Por trás do campo e bola, o departamento médico analisa o nível de cansaço dos atletas antes, durante e depois das partidas, e tem entrado em cena para sacar jogadores desgastados sobretudo quando o placar está bem construído. Tornou-se comum Renato fazer mexidas em atacado, tirando quase meio time, e renovando as energias sem que o Flamengo recue. A estratégia tem servido ainda para manter a confiança em alta de atletas considerados reservas.
O Departamento de Saúde e Alto Rendimento (Desar) entende que, pelo fato de o Renato não ter trazido um preparador, mostra que já veio abastecido de informações e confiando no trabalho feito no clube. Quando chegou no Flamengo, o técnico demonstrou que já sabia um pouco como funcionavam as metodologias. Isso ajudou no rápido entendimento do dia a dia da área de performance do futebol.
O auxiliar Alexandre Mendes, embora preparador físico por formação, não se intromete nas questões físicas e médicas diretamente. O foco é nas partes técnicas e principalmente táticas com o treinador. O resto é tratado diretamente entre Renato e o doutor Márcio Tannure. O técnico escuta muito o gerente de saúde e alto rendimento do futebol.
A comunicação direta ajuda. Com Jorge Jesus ocorria o mesmo. Apesar de uma comissão numerosa, os portugueses dialogavam bem. Além disso, o preparador Mário Monteiro comprou a ideia do Desar e estava alinhado em todos os processos. O mesmo aconteceu na época de Rogério Ceni, e de Danilo Augusto, preparador físico. Com o Dome, por outro lado, a comunicação entre comissões não fluiu, pois seus auxiliares não entendiam muito bem os processos e não passavam as informações da maneira mais correta para o técnico.
Renato age como facilitador
Por conta de sua experiência como técnico e jogador, Renato sabe que os atletas precisam estar bem para produzir o melhor. No caso do momento, Isla foi poupado apesar de o médico do Flamengo dizer que o jogador está bem clinicamente, mas com fadiga muscular. Com isso, ficou combinado que o atleta faria um programa de trabalhos específicos a fim de manter o ritmo intenso de treino, como se estivesse jogando, e fortalecer o que precisar.
A troca tem sido tão interessante, e o técnico tem entendido tão bem a importância dos controles feitos pelo clube, que já começou a “cobrar”. Quando Thiago Maia e Gustavo Henrique testaram positivo pra Covid-19, Renato pediu que fosse feito um programa para cada um, pois temia que ficassem muito tempo parados. O departamento médico enviou aparelhos para a casa dos atletas e preparou uma planilha de treinos, que é comandado de maneira on-line por Rafael Winick.