Histórica para o Botafogo, que teve sua maior goleada na história da Libertadores, com o 6 a 0 contra o Aurora, a noite da última quarta-feira também ficará para sempre na memória de Júnior Santos. O atacante marcou quatro gols na partida e se tornou não só o artilheiro da atuação edição da competição, como o maior do Botafogo na história do torneio internacional. Com cinco bolas na rede em dois jogos, Júnior igualou Jairzinho, Dirceu e Pimpão. Um feito e tanto para um atleta que, há pouco tempo, não acreditava que conseguiria sequer virar jogador profissional.
Natural de Conceição de Jacuípe, na Bahia, Júnior migrou para Salvador aos 20 anos para tentar mudar de vida. Apesar de já ser próximo da bola, foi como ajudante de pedreiro do tio que o atual atacante do Botafogo pensou em melhorar sua situação financeira. No entanto, sua história estava interligada co o futebol. Tanto que, mesmo com o emprego, seguiu brilhando nos campos de várzea pela Bahia, o que fez com que ele recebesse propostas para se tornar profissional.
Na época, foram duas, uma do Bahia de Feira, e outra do Fluminense de Feira. No entanto, as ofertas financeiras não compensavam. Enquanto recebia cerca de R$ 3.000 por mês como amador, os clubes ofereceram R$ 800 de salário, além do compromisso de não poder mais atuar na várzea. Júnior, que não acreditava que poderia se tornar de fato um atleta profissional, preferiu seguir nos campos alternativos. Ainda assim, um grande incentivador sempre esteve por perto para não deixar esse sonho adormecido morrer de vez.
— Me emociono muito ao falar do meu pai, porque ele acreditou mais em mim do que eu mesmo. Desde a infância, quando comecei a jogar, ele sempre apoiou muito. Aos 16, eu não queria mais saber de futebol, não queria acreditar, fui uma criança muito rebelde, e ele sempre acreditou. Quando fui para São Paulo, com 23 anos, tive algumas dificuldades e queria voltar. Ele disse que se voltasse, não falaria mais comigo. Eramos do interior, então São Paulo era um mundo. Meu pai nunca tinha ido, nunca tinha saído da Bahia. Então ele foi um guerreiro, acreditou em mim e se estou aqui, ele tem grande contribuição — disse Júnior, emocionado, após marcar os quatro gols contra o Aurora.
No fim das contas, foi um dos destaques de toda a competição e conheceu seu atual empresário, Edivaldo Ferraz. O agente conseguiu um teste para Júnior no Ituano. O atacante foi aprovado , a partir daí, começou a receber um salário fixo que o possibilitou ajudar a família. No entanto, logo depois, um baque. Seu José, pai de Júnior, sofreu um AVC e começou a enfrentar graves problemas de saúde. A morte do patriarca foi em 2021.
Posteriormente, Júnior passou por Ponte Preta, duas vezes no Fortaleza, e no Yokohama Marinos e o Sanfrecce Hiroshima, ambos do Japão, até chegar no Botafogo. Contratado, a princípio, para ser uma alternativa de Tiquinho Soares no comando do ataque, foi levado para a ponta por Luís Castro, que tinha em Júnior um homem de confiança, e não saiu mais dali. Se firmou como uma das principais armas ofensivas do alvinegro.
Um dos destaques do alvinegro em 2023, Júnior foi bastante assediado ao longo da janela de transferências, tendo sido alvo de clubes como Corinthians e Grêmio. O Botafogo, por sua vez, rechaçou a possibilidade de negocia-lo. Nos bastidores, o atacante sempre deixou claro como está feliz no clube.
— Lembro que quando cheguei, falei que quem esperava algo de mim, veria a resposta dentro de campo. Desacreditei de mim por muito tempo. Acreditei que nunca seria jogador profissional, até que falaram na várzea que eu tinha potencial. A chave do sucesso é o trabalho e a confiança em si mesmo. Não ligo pra quem fala de mim ou diz que não vou conseguir. Vou errar, tentar, fazer novamente porque aos 23 anos fui pra São Paulo e ouvi dizer que estava muito velho para o futebol. Mas eu acreditei e cheguei até aqui. Quando a gente acredita e dá o nosso melhor, uma hora as coisas vão acontecer — falou depois da vitória do Botafogo nesta quarta.