O Alzheimer de Papai o faz esquecer de muitas coisas. De alguns nomes, de muitos momentos, de pessoas… Até deste filho que, para ele, aos poucos, tem virado o seu irmão Chaguinha, falecido em 1978.
“Ô Chaguinha, chegou agora de onde? Passou por Acary? Foi lá em casa?”
Cada vez mais alheio à realidade, Papai vai se distanciando de suas lembranças e dos seus prazeres.
A maior parte do tempo, não reconhece sequer a casa onde mora há mais de meio século.
Dia após dia, reclama de não viver mais em nossa amada Acary.
Hoje, me fez prometer que amanhã iremos por lá, digo, visitar Acary.
Depois da promessa, eu tive a curiosidade de lhe perguntar como se chama a cidade (de sua imaginação) onde ele está vivendo. Para minha surpresa, ele respondeu: “Rockefeller”.
Meu Deus! De onde surgiu esse nome na memória de Papai?
Aí, se pôs a comparar a sua megalópole Acary “com essa porcaria de cidade, que nem igreja tem”.
Papai vai esquecendo das coisas. No entanto, eu ainda lembro de não esquecer alguns prazeres dele. E, como não podia deixar de ser, não esqueci de trazer o seu “pão italiano da Bauducco” para o Natal.
Aliás, o Alzheimer não conseguiu ainda fazer com que Papai esqueça essa satisfação. Esse sabor da vida.
Amanhã, nosso café em Rockefeller será mais gostoso. E com esse prazer na alma iremos, ele e eu, à Acary que Papai não esquece.
PS.: Com a satisfação de viver o prazer de Papai, desejo a todos os melhores votos de Boas Festas.
Um Feliz Natal. Um Próspero 2023.
Que Deus nos abençoe sempre.