Um pequeno questionário, enviado por aluna de um educandário de minha admiração, me chega às mãos pelo e-mail. Uma das perguntas – Que livros mais o impressionaram nos últimos tempos, desde sua fase pré-universitária? – me possibilita dar uma resposta pública, sob a égide editorial deste Jornal da Besta Fubana arretado demais, símbolo de uma imprensa preocupada com os amanhãs brasileiros de grande porte, com uma independência crítica sempre presente, sob a batuta do escritor Luiz Berto, autor do inesquecível O Romance da Besta Fubana, que conclama todos para uma enxergância social mais consequente, binoculizadora por derradeiro. Um dos livros relidos e trelidos da minha caminhada terrestres. Um romance hors-concours, fora de série, que não deixa ninguém com os concours de fora.
A ordem explicitada abaixo nada tem a ver com a importância do livro. Apenas revela leituras que calibraram minhas posturas comportamentais ao longo dos anos, sempre me fazendo perceber um ser inconcluso, cheio de defeitos, a necessitar sistematicamente de mais páginas esclarecedoras. Pois nunca me senti dono do mundo, muito embora seja filho do Dono, sem perder a esperança jamais.
Um livro que muito me impactou, logo depois de graduado em Economia, foi A Revolução da Esperança, de Erich Fromm, relido algumas vezes. Escrito em 1968, A Revolução da Esperança se destina aos que pouco se aperceberam da imperiosa necessidade do fortalecimento da construção de um novo futuro planetário, onde as tecnologias se posicionem ajustadas ao bem-estar integral do ser humano, independentemente de credo, raça, gênero, região, sistema político ou nível socioeconômico, tamanho do pinto e das orelhas.
Considerado “revisionista cultural de Freud”, Erich Fromm nasceu em Main, Alemanha, em março de 1900, oito dias depois do nascimento de Gilberto Freyre, ocorrido em 15 daquele mês e ano. Sua formação humanística, edificada num ambiente de profunda devoção judaica, recebeu influência das ideias de Spinoza, Goethe, Marx e do próprio Freud, sendo Fromm atualmente considerado como um dos profetas da vida humana corrente.
Radicalmente contrário a todo e qualquer regime de exceção, seja de que lado for, sempre social-democrata nunca liberaloide, senti profunda repugnância pelo III Reich, Adolf Hitler e seus cúmplices. Daí, ter ficado ainda mais oposição àquele regime, quando da leitura de História Ilustrada do Nazismo, Alessandra Minerbi, SP, Larousse, 2009, 194 p. Livro-síntese que descreve a construção de um sistema baseado na discriminação racial e na prática de um antissemitismo obsessivamente assassino.
Embora não seja marxista, busco ler muito sobre temas que defendem a redução das desigualdades sociais nos quatro cantos do planeta. De um mesmo autor, talento docente da Universidade de Londres, filósofo mundialmente aplaudido, dois livros provocam releituras minhas quase semanais. O primeiro é O bom livro: uma bíblia laica, A.C. Grayling, RJ, Objetiva, 2014667 p. Um apanhado de pensares de vários autores. Uma leitura que provoca harmonia e muita reflexão. O segundo livro é A arte de questionar- a filosofia do dia a dia, A. C. Grayling, SP. Fundamento Educacional, 2014, 320 p. Perguntas provocantes e respostas que desafiam à inteligência, incentivando caminhadas mais objetivas na direção amanhãs mais dignificantes para todos.
As leituras acima são recomendadas para todos aqueles que, politicamente situados e datados, buscam horizontes compatíveis com a dignidade que merecem todos os filhos da Criação.
Penso: se o caminho se faz andando, saibamos bem recuperar os tempos perdidos, com imaginação, desassombro, paixão e solidariedade para com todos aqueles que, na opulência ou penúria, não estão enxergando as saídas redentoras, todas elas amplamente respaldadas num desrespeitadíssimo “amai-vos uns aos outros”, princípio norteador de um Nazareno que muito amo.