Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Fernando Antônio Gonçalves - Sem Oxentes nem Mais ou Menos segunda, 16 de setembro de 2024

LEITURA RESTAURADORA (CRÔNICA DO COLUNISTA FERNANDO ANTÔNIO GONÇALVES)
Recomendo com vivo entusiasmo, para os que se distanciarão dos feriados momescos que se aproximam, a leitura do livro de um físico consagrado mundialmente, apaixonado por questões que até bem pouco tempo não eram consideradas científicas, sempre seguro de que é a curiosidade que se agiganta em nosso interior, nos erguendo acima das mediocridades do cotidiano e das banalidades que asfixiam os despreparados imediatistas ao longo das suas existências nulificantes.

O livro se intitula A simples beleza do inesperado: um filósofo natural em busca de trutas e do sentido da vida, Marcelo Gleiser, Rio de Janeiro, Record, 2016, 194 p. Que homenageia “a truta que não peguei e a equação que não resolvi”, ratificando um pensar famoso do filósofo Heráclito de Éfeso (535 a.C. – 475 a.C.), um pré-socrático: "Não entramos nos mesmos rios, pois as águas que fluem são sempre outras. 

O talentoso cientista brasileiro Marcelo Gleiser é articulista da FSP desde 1997, escrevendo semanalmente uma coluna onde explica a ciência para milhares de leigos, inclusive eu. Na Universidade de Dartmouth, EUA, leciona a disciplina “Física para Poetas”, atraindo centenas de pessoas que não possuem nenhuma ligação com a Física. Suas explanações se caracterizam por relatos da História da Ciência e dos seus principais cientistas, sempre com explicações elucidativas sobre os fundamentos dos experimentos científicos demonstrados em sala de aula.

Em 1997, lançou, no Brasil, seu primeiro livro, A Dança do Universo, tratando da origem do Universo sob as vertentes científica e religiosa. O livro, dirigido a um público não especializado, logo tornou-se um marco da divulgação científica em nosso país.

Declaradamente agnóstico, Marcelo Gleiser possui uma postura equilibrada, afastado dos radicalismos religiosos paspalhões, que enervam e multiplicam agnosticismos idiotizantes por uma mídia distanciada léguas das posturas centradas no bom senso e na razão. Eis duas opiniões dele: “Para mim, não há absolutamente nenhuma dúvida de que o sobrenatural é completamente incompatível com uma visão científica”; “Se sou ateu, só fico transtornado quando vejo a infiltração de grupos religiosos extremistas nas escolas, querendo mudar o currículo, tratando a ciência em pé de igualdade com a Bíblia; se concordo que o extremismo religioso é um dos grandes males do mundo; se batalho contra a disseminação de crenças anticientíficas absurdas como o design inteligente e o criacionismo na mídia, por que, então, critico o ateísmo radical de Dawkins? Porque não acredito em extremismos e intolerância. É essa crença ignorante que deve ser combatida. É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve ser combatida, não a fé em si.

Gleiser reconhece o papel que a fé desempenhou e desempenha nos contextos socioculturais, históricos e de definição do ser humano, posicionando-se contra o radicalismo tanto religioso quanto antirreligioso. Em suas palavras: “Nós conhecemos o mundo por causa de nossos instrumentos… O problema é que toda máquina tem uma precisão limitada. É impossível criar uma teoria final porque nunca vamos saber tudo. Temos de aprender a ser humildes com relação a nosso conhecimento de mundo, que sempre será limitado.

No seu livro, Gleiser reproduz a metáfora por ele construída no seu livro A Ilha do Conhecimento: os limites da ciência e a busca por sentido, Rio de Janeiro, Record, 2014: “Considere que o conhecimento que acumulamos através dos séculos forme uma ilha. À medida que aprendemos mais sobre o mundo, a ilha cresce. Como toda boa ilha, essa também é cercada por um oceano, no caso, o oceano do desconhecido. Entretanto – e aqui vem a surpresa -, quando a ilha cresce, cresce também o perímetro que a separa do desconhecido. Com isso, ao aprendermos mais sobre o mundo, acabamos de criar mais ignorância: as novas perguntas que podemos fazer que, antes, não podiam ser antecipadas. Ou seja, o conhecimento gera novos desconhecimentos.

A honestidade intelectual do Gleiser sensibiliza todos aqueles que possuem um mínimo de bom senso: “Nada melhor para um jovem com aspiração de ser cientista do que ser forçado a entender de cara que devemos confiar na razão como guia, mas não exclusivamente. O Universo é racional, mas sendo uma ‘estrutura magnífica que podemos compreender apenas imperfeitamente’, nosso pensamento não pode abrangê-lo em sua totalidade.” E declara, sem titubeios: “No Brasil, o kardecismo – a doutrina espírita baseada na obra de Allan Kardec – conta com milhões de adeptos. Tenho vários amigos cientistas que se proclamam espíritas sem ver qualquer conflito entre sua ciência e sua crença no mundo do além.

Confesso que relerei o livro brevemente. Para rabiscá-lo ainda mais, admirando a beleza intelectual de um cientistas brasileiro amplamente desfrescurizado, que não se imagina o ó-do-borogodó, mas que confessa ser um desafio enfrentar, sem destemor nem corporativismos, o grande vão espiritual da contemporaneidade, onde inúmeros ainda não perceberam, sempre proclamando que “o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos”, embora o triângulo nunca tenha sido retângulo.

PS. A dedicatória do livro já sensibiliza de saída para a leitura: “Para a truta que não pequei e a equação que não resolvi.


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