Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 16 de novembro de 2019

LEILA DINIZ: 50 ANOS DA CÉLEBRE ENTREVISTA

 

Leila Diniz: coragem, liberdade e o privilégio que é dar para quem se tem vontade

No aniversário de 50 anos da célebre entrevista da atriz ao "Pasquim", como encarar a mulher que se tornou símbolo de contestação feminina
 
 
Leila Diniz virou símbolo da liberdade feminina e de um novo comportamento sexual Foto: Arte de Nina Millen sobre reprodução
Leila Diniz virou símbolo da liberdade feminina e de um novo comportamento sexual
Foto: Arte de Nina Millen sobre reprodução
 
 

O ano era 1969. Emílio Garrastazu Médici assumira a presidência do País em outubro, inaugurando o período mais violento da ditadura militar, que foi chamado pelos historiadores de “os anos de chumbo”, tantas foram as torturas e mortes. Mas, para não dizer que não falei das flores, no mês seguinte à posse, houve Leila Diniz em “O Pasquim”.

 

 

A atriz respondeu sobre quase tudo — da perda de sua virgindade ao trabalho com o cineasta Nelson Pereira do Santos — em uma conversa que fez dela “a imagem da alegria e da liberdade”, como diz o lead da entrevista. Depois de muita sinceridade e dos 72 asteriscos que substituíram seus palavrões, Leila perdeu trabalhos, teve que se apresentar ao DOPS , e a ditadura instaurou a censura prévia à imprensa, que passou para a História como “o decreto Leila Diniz”.

Mas, 50 anos depois de a entrevista arrepiar os cabelos dos militares, da "tradicional família brasileira" e até mesmo do movimento feminista, como encarar o mito Leila Diniz?

Voltemos ao “Pasquim”: a atriz foi entrevistada por seis homens brancos, uma falta de diversidade que, hoje, seria impensável até mesmo na “Playboy”. O resultado foram mais de 20 perguntas relacionadas à sua vida amorosa, entre elas “Quantos casos você já teve?”; “Vai ter strip tease?”; “Há alguma diferença sexual do negro pro branco?”; "Você deixou de ser virgem quando?" e “Você deu pro seu analista?”.

  Leila ainda é chamada de “mulherzinha do Domingos” (o diretor Domingos de Oliveira, com quem ela teve um relacionamento de três anos) e “professorinha”. A este último, ela rebate: “Professorinha uma (*). Fui professora.” E é justamente aqui que reside seu fascínio: ela não se intimida, conversa de igual para a igual, passa por cima do machismo e se afirma com coragem e liberdade.

“ “Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra””

LEILA DINIZ
em entrevista a "O Pasquim"

 Liberdade que Leila esbanja ao tratar de sua sexualidade: “Na minha caminha, dorme algumas noites, mais nada”; "Quando eu quero, eu vou com o cara" e “Você pode amar muito uma pessoa e ir pra cama com outra”. Para entender a importância do discurso de Leila, basta pensarmos no que se diz ainda hoje sobre uma mulher que fala de sexo como algo tão essencial e natural. Reflitam.

Aqui vale um parêntese. O comportamento libertário de Leila Diniz foi criticado por integrantes do movimento feminista. Explica-se: a pauta da segunda onda feminista, que começou nos anos 1960 e se estendeu até a década de 80, estava concentrada na conquista de um lugar para as mulheres no mercado de trabalho e no combate às desigualdades legais, políticas e econômicas existentes no País e à violência doméstica. Em meio ao machismo e à misoginia dos ambientes profissionais e acadêmicos, a foi preciso afirmar a competência intelectual das mulheres. Pasmem.

Mas não só: a chegada da pílula anticoncepcional, em 1961, trouxe novas questões como direitos reprodutivos, planejamento familiar e a necessidade de uma legislação que protegesse os direitos das mães trabalhadoras. No fundo, Leila e as ativistas feministas tinham mais em comum do que sonha a nossa vã filosofia. Na entrevista ao "Pasquim", ela declara: "Eu resolvi ganhar meu dinheirinho, ter meu apartamento, ter o homem que eu quiser, pagar as minhas contas, eu trabalho. E gosto".

 

Virginia Woolf escreveu que as mulheres devem matar “o anjo do lar”, a voz interior que faz com que elas anulem suas personalides, desejos e vontades pelo bem do marido, do casamento e da família. De muitas formas, foi isso que Leila Diniz fez: liberou um grupo de mulheres para terem voz e desejo próprios — o que é muita coisa, sobretudo no contexto histórico em que viveu.

Mas o lugar de onde Leila fala não é para todas. A quarta (e atual) onda feminista nos ensina que é preciso pensar as diferenças de raça e de classe, como escreveu Angela Davis. As mulheres negras, muitas delas em situação econômica precária, formam a maioria da população brasileira. Vivendo em uma sociedade que nunca as colocou no papel de "anjo do lar", não é difícil entender que tenham outras prioridades como ficarem vivas no país em que são elas as principais vítimas do feminicídio e da violência sexual.

Diante disso, Leila Diniz segue revolucionária. Não é toda mulher que pode, mesmo em 2019, enfrentar o machismo de igual para igual ou mesmo desfrutar o sexo com liberdade. Frente às desigualdades que separam as mulheres brasileiras, ela vem lembrar a uma parcela de nós sobre o imenso privilégio que é ter um apartamento, um trabalho bem-remunerado, poder falar o que se pensa, dar para quem se quer e exibir a gravidez na praia de Ipanema.


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