Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo domingo, 19 de janeiro de 2020

KOCHI, CALDEIRÃO CULTURAL DA ÍNDIA

 

Um roteiro histórico e gastronômico por Kochi, um caldeirão de culturas à beira-mar na Índia

Antiga colônia portuguesa, cidade atrai atenção de estrangeiros desde as Grandes Navegações
 
 
 
 Dizem que Kerala é a "terra de Deus", reconhecimento da sua beleza natural luxuriante, dos seus remansos sedutores e da riqueza em especiarias que há gerações representa o Santo Graal para tantos navegadores. O slogan turístico chamativo também pode ser um tributo às diversas tradições religiosas que abundam ali, especialmente na cidade portuária de Kochi, há milhares de anos. Graças a uma geografia única – isolada do resto da Índia pelas montanhas ao leste, mas aberta para o mundo pelo Mar Arábico a oeste –, o estado da região sudoeste indiana sempre foi um cadinho cosmopolita de culturas variadas. Hindus, cristãos, judeus e muçulmanos já viviam lado a lado e mantinham uma relação comercial com árabes e chineses muito antes da chegada dos portugueses (era a Kerala que Colombo queria chegar, em 1492, quando se viu nas Bahamas) para estabelecer o primeiro núcleo europeu, em Cochin, em 1500, abrindo caminho para ondas colonizadoras sucessivas de portugueses, holandeses e britânicos.
Atualmente, Kochi, como Cochin foi rebatizada, é uma parada popular de cruzeiros e escala para os viajantes interessados em pegar um dos barcos que cruzam as paragens idílicas de Alappuzha. Seu passado complexo, entretanto, merece uma estada mais longa: passe um fim de semana explorando a histórica Fort Kochi, em cujas ruelas estreitas se vê um legado de milhares de anos de fusão cultural. E, se estiver na região entre dezembro de 2020 e março de 2021, você não pode perder a Bienal Kochi-Muziris, um dos eventos de arte contemporânea mais estimulantes do mundo.

 

Dê uma volta

Fort Kochi é meio que um termo equivocado, já que o forte português original não existe mais; o nome, na verdade, hoje se refere à parte histórica da cidade. Um passeio por ali revela as muitas camadas de influências que deixaram suas marcas. Comece perto das redes de pesca chinesas penduradas sobre os varões de bambu e teca que estão ali, de uma forma ou outra, desde o século XV. Embora hoje existam apenas como pano de fundo para fotos turísticas, é possível entender como os pescadores as usaram como instrumento de trabalho durante séculos. A seguir, atravesse a Praça Vasco da Gama rumo à Igreja de São Francisco, uma das mais antigas da Índia. Erguida pelos portugueses em 1503, foi reconstruída como templo protestante pelos holandeses e depois consagrada como igreja anglicana pelos britânicos. Vasco da Gama foi enterrado ali, antes que seus restos mortais fossem enviados para Lisboa.

 

Faça uma pausa para o chai no charmoso Teapot Café antes de continuar rumo à Basílica da Catedral de Santa Cruz. De lá, perambule pelas ruas ladeadas por construções azuis e amarelas com telhados de terracota, vitrais coloridos e escondidas por buganvílias para chegar ao Museu Indo-Português, que abriga relíquias e resquícios das igrejas antigas locais, como exemplares da Bíblia, imagens da Virgem Maria e até um altar de teca do século XVI. Entrada: 40 rupias.

Drama e dança

Uma performance da tradicional dança kathakali em Kochi, na Índia Foto: Atul Loke / The New York Times
Uma performance da tradicional dança kathakali em Kochi, na Índia Foto: Atul Loke / The New York Times

Kerala é sinônimo do kathakali, a dança clássica conhecida pelas histórias dramáticas de deuses e demônios e as máscaras, maquiagem e adereços elaborados que a acompanham. Para quem não conhece nada dessa arte, o Kerala Kathakali Centre é um bom começo: há uma demonstração às 17h, durante a qual os artistas explicam como a maquiagem é aplicada, como são feitos os passos intrincados e quais são os personagens e as tramas. A seguir, às 18h, é encenado o espetáculo de verdade. Entrada: 350 rupias.

Peixe fresco

Kerala fica na Costa do Malabar, o que significa que os frutos do mar são ingredientes básicos da cozinha local. E uma casa que os prepara de forma primorosa em Fort Kochi é o restaurante do Fort House, hotel de 16 quartos de frente para o mar. Destaque para o peixe com curry de manga verde (420 rupias), o camarão com gengibre e alho (450 rupias) com appams (panquecas de arroz fermentado) e a parotta, o pão chato e folhado comum da região. O jantar para duas pessoas sai por volta de 1.500 rupias.

 
O restaurante Fort House, com suas mesas ao ar livre, na beira do mar, é um dos mais recomendados em Kochi, na Índia Foto: Atul Loke / The New York Times
O restaurante Fort House, com suas mesas ao ar livre, na beira do mar, é um dos mais recomendados em Kochi, na Índia Foto: Atul Loke / The New York Times

Café da manhã artístico

A Kochi histórica já foi dividida em duas partes: Fort Kochi, onde viviam os cristãos, e Mattancherry, onde moravam judeus, hindus e muçulmanos. Saia cedinho para explorar a segunda, que já foi também um centro vibrante de comércio de especiarias. Comece com um café da manhã no Mocha Art Café, que funciona em um galpão de 300 anos. Experimente o appam com cozido de ovos (230 rupias), banana, abacaxi e panqueca de nutella (de 200 a 250 rupias) ou a omelete de queijo keema (270 rupias), acompanhados de uma boa xícara de mocha (190 rupias), é claro. Antes de sair, dê uma espiada nas exposições de obras de artistas locais dispostas nas paredes de tijolo aparente.

BUSCA: Para encontrar outras informações sobre viagens pela Índia, pesquise com a ferramenta de busca do site do Boa Viagem.

História judaica

O Mocha Art Café fica quase ao lado da Sinagoga Paradesi, do século XVI, a mais antiga em atividade da Comunidade Britânica, com influências globais na forma de azulejos azuis chineses pintados a mão, candelabros belgas e um tapete oriental que foi presente do imperador etíope Haile Selassie I. Há apenas um punhado de judeus praticantes na cidade, que contam com os turistas para encher a congregação.

 
O histórico bairro judeu de Fort Kochi é cheio de lojinhas que vendem de tudo Foto: Atul Loke / The New York Times
O histórico bairro judeu de Fort Kochi é cheio de lojinhas que vendem de tudo Foto: Atul Loke / The New York Times

De lá, siga para o Mattancherry Palace, também conhecido como Palácio Holandês, embora tenha sido presente dos portugueses para o rei de Cochin em 1555. A estrutura é uma mescla curiosa dos estilos europeu e indiano e abriga murais elaborados do século XVI que retratam o épico hindu "Ramayana". De lá, explore os mercados de Jew Town que oferecem de tudo, de frascos de perfume a sombrinhas bordadas, passando por montículos de tinta em pó em tons brilhantes. Logo ao lado ficam a loja de antiguidades Ethnic Passage, a contemporânea Via Kerala e a butique do estilista Joe Ikareth.

Almoço sem pressa

De volta a Fort Kochi, almoce no Indian Oven, dentro do Cochin Club, cenário relaxante para uma refeição para lá de tranquila. Além de janelões que dão vista para o mar e o jardim sossegado, há murais extravagantes nas paredes e almofadas coloridas espalhadas nas cadeiras de bambu. Os pratos à base de frutos do mar são imperdíveis, como a lula assada à moda de Kerala e o karimeen pollichathu (crometo verde na folha de bananeira). O almoço para duas pessoas sai por cerca de mil rupias.

Tarde com arte

O David Hall Art Gallery, em Kochi, Índia, exibe obras de artistas de todas as pertes do mundo Foto: Atul Loke / The New York Times
O David Hall Art Gallery, em Kochi, Índia, exibe obras de artistas de todas as pertes do mundo Foto: Atul Loke / The New York Times

É verdade que, durante três meses, ano sim, ano não, a Bienal Kochi-Muziris chama a atenção do mundo da arte para Kochi, mas há um grupo de galerias que valem uma visita em qualquer época. Em Fort Kochi, a David Hall Art Gallery funciona em uma casa colonial holandesa e realiza desde exposições de artistas famosos até leituras, passando por apresentações de música devocional sufi; já o Kashi Art Café apoia os artistas emergentes.

 

Inovações culinárias

O East Indies, restaurante que dá para a piscina do Eighth Bastion Hotel, de inspiração colonial holandesa, é um verdadeiro paraíso da alta gastronomia moderna com ares históricos. No salão contemporâneo são servidas combinações interessantes com apresentações artísticas como o camarão-gigante com gengibre, pimenta, cominho e coco (900 rupias); malli peralan de frango com coentro (700 rupias); camarão com gengibre e alho envolto em papadum (550 rupias); e rabanada com crème brûlée (400 rupias).

Café da manhã ao ar livre

Dois galpões históricos à beira-mar foram transformados em um só para se tornar o delicioso Pepper House, mistura de café ao ar livre, galeria e loja de grife que se torna um dos principais palcos da Bienal. O público é composto de tipos criativos e turistas, todos atraídos pelas mesas espalhadas em um pátio gramado e espaçoso. É uma grande opção para o café da manhã: uma boa pedida é a rabanada com açúcar mascavo e frutas frescas (250 rupias).

Todos a bordo

Um dos melhores meios para circular por Kochi e suas ilhas é pegando as balsas públicas Foto: Atul Loke / The New York Times
Um dos melhores meios para circular por Kochi e suas ilhas é pegando as balsas públicas Foto: Atul Loke / The New York Times

Kochi é conhecida como a "rainha do Mar Arábico", e a água é um elemento intrínseco da cidade. Você pode alugar um barco para fazer o passeio de uma hora nas cercanias do porto, mas, se preferir uma experiência mais genuína, pegue a balsa pública (a passagem custa só 4 rupias). Embarque no pontão da Calvathy Road com o pessoal local para passar por algumas das ilhas que compõem a metrópole – Vypin, Willingdon, Vallarpadam e Bolgatty – antes de desembarcar, 20 minutos depois, na parte mais movimentada da cidade no continente, conhecida como Ernakulam. Subhash Bose Park, com gramados bem cuidados e de frente para o mar, vale um passeio.

 

Onde ficar

Ginger House Museum Hotel. Inaugurado em 2016,  é um oásis opulento no centro de Mattancherry, localizado acima de uma loja de antiguidades e restaurante amplos. Os nove quartos têm detalhes vintage riquíssimos, como os azulejos em art déco de ouro 24 quilates e o teto enfeitado com espelhos com moldura de teca. Diária do quarto duplo a partir de 25 mil rupias.

Forte Kochi. Tem 27 quartos e funciona em uma casa do século XVIII em amarelo vivo, praticamente ao lado das redes de pesca chinesas e de várias das principais atrações de Fort Kochi. Diária do quarto duplo a partir de 14 mil rupias.

Aluguel por temporada. Muitas casas coloniais de Fort Kochi foram transformadas em hotéis e pousadas, o que significa várias opções charmosas pertinho das principais atrações da região histórica. No Airbnb, a diária de um quarto pode variar de US$ 15 a US$ 100.


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