Um look branco, usado num momento histórico, nunca é uma escolha aleatória. Na noite de sábado, durante seu primeiro discurso como vice-presidenta eleita dos Estados Unidos, Kamala Harris apostou na cor, recheada de significado. Branco é o símbolo da luta pelos direitos da mulher desde que o National Women’s Party, em 1913, o colocou ao lado do dourado e do roxa na bandeira sufragista.
A cor também esteve presente em outro evento crucial da política americana. Em 1978, Gloria Steinem e Betty Friedan lideraram milhares de mulheres numa marcha em Washington para apoiar a Emenda pela Igualdade de Direitos. Primeira candidata à vice-presidência dos EUA, Geraldine Ferraro usou um terno branco ao aceitar a nomeação do Partido Democrata, em 1984. Em 2016, Hillary Clinton fez o mesmo ao ser indicada para concorrer à presidência.
Ou seja: o terno branco (Carolina Herrera) de Kamala, primeira mulher negra eleita vice-presidente dos Estados Unidos (mas não a última, como ela mesma disse em seu discurso no sábado), não foi mera coincidência. "Ela é o símbolo perfeito da mulher 50+ do século XXI. Ativa, independente e que não guarda nostalgia da imagem feminina madura do século passado, a não ser pelo gosto por joias mais delicadas e colares de pérolas, um clássico entre primeiras-damas e mulheres na política em geral", diz Paula Acioli, pesquisadora de moda. "A explicação pode estar no fato de pérolas serem símbolos da irmandade, grupos existentes nas universidades americanas (Alpha Kappa Alpha, que ela integrou na juventude)."
Entre as principais características do estilo de Kamala, Paula destaca o gosto pela alfaiataria, que ela utiliza de diferentes formas, de acordo com a ocasião e a mensagem que quer transmitir. "Quando veste em tons escuros ou em looks monocromáticos, quer passar seriedade. Pense no evento em homenagem a George Floyd. Se veste em branco e em tons neutros e claros, pede paz e serenidade. Se combina com com jeans, camiseta e o icônico tênis All Star (ela é fã do modelo Chuck Taylor), a ideia é passar descontração e conexão com o público mais jovem, importante alvo durante a campanha eleitoral vitoriosa."
Paula conclui: "Kamala vai do All Star ao Scarpin; da alfaiataria a vestidos superjustos; da simplicidade ao brilho; da sobriedade à descontração e até mesmo a sensualidade, com naturalidade e propriedade. Poucas mulheres atuantes na política possuem essa segurança e versatilidade em termos de estilo."