03 de fevereiro de 2020 | 03h00
Funcionários do banco central dos Estados Unidos, disse Powell, acompanham cuidadosamente a situação, mas é muito cedo para estimar as consequências econômicas do surto de coronavírus. A mesma ressalva foi apresentada no dia seguinte pelo presidente do Banco da Inglaterra
Também com um dia de diferença os dois bancos centrais anunciaram a manutenção das taxas básicas, entre 1,50% e 1,75% nos Estados Unidos e em 0,75% no Reino Unido. Em dezembro, o Banco Central Europeu havia mantido em zero os juros principais da zona do euro, na primeira reunião sob a presidência de Christine Lagarde, ex-diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Taxas para depósitos continuaram em -0,25%
Os economistas do Fundo sugerem a preservação de políticas monetárias favoráveis aos negócios, mas a contribuição dos bancos centrais, acrescentam, chegou ao limite. Estímulos adicionais devem caber aos governos, por meio de facilidades fiscais – maiores gastos públicos, diminuição de impostos ou uma combinação desses dois tipos de ação. A recomendação só vale, naturalmente, para governos em condições de afrouxar suas políticas. Não é, obviamente, o caso do governo brasileiro.
No Brasil, o estímulo oficial de efeito mais rápido deve continuar sendo proporcionado pela política monetária e pela ampliação dos canais de financiamento. O Executivo ainda terá muito trabalho para consertar as finanças oficiais e para controlar a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto. Essa relação se manteve por vários meses, no ano passado, perto de 80%. A redução dos juros básicos, iniciada no fim de 2016, contribuiu para atenuar o custo da dívida e limitar a expansão do passivo do setor público.
Também por isso é importante a manutenção de juros básicos moderados no Brasil. Dinheiro mais barato é importante, no caso brasileiro, para animar a economia, como na maior parte do mundo, e também para limitar o custo e a expansão da dívida pública. O afrouxamento da política monetária acaba servindo, portanto, como elemento auxiliar do ajuste fiscal. Essa possibilidade depende de uma inflação contida em níveis toleráveis.
A economia americana cresceu em 2019, segundo a estimativa inicial, 2,30%, a mesma taxa calculada pelos técnicos do FMI. O governo apresentará mais duas estimativas, baseadas em dados mais amplos, e números diferentes poderão surgir. O crescimento agora estimado foi menor que o de 2018 (2,90%). Se a desaceleração continuar, como se prevê, os dirigentes do Fed terão motivos para manter os juros baixos. Menor dinamismo americano pode ser ruim para o Brasil, mas um aumento de juros pelo Fed poderia criar sérios incômodos a curto prazo. Mais seguro, de toda forma, é o governo brasileiro apressar o cumprimento de sua agenda.
Juros baixos no mundo rico – uma boa notícia para o Brasil – continuam garantidos pelos bancos centrais das maiores economias capitalistas. Dinheiro barato nos principais mercados ajuda a manter a política de estímulo ao crescimento brasileiro. Em Brasília, o Banco Central (BC) decidirá nesta semana se a taxa básica, a Selic, permanecerá em 4,50% pelos 45 dias seguintes. Há quem aposte em mais um corte, para 4,25% ou até para 4%. Nenhuma aposta é segura, porque o quadro internacional é menos claro do que parecia na virada do ano e há mais dúvidas sobre as condições da economia dos Estados Unidos. Um novo fator de insegurança, a nova epidemia chinesa, complica a avaliação das perspectivas globais. As preocupações quanto aos efeitos do coronavírus, ainda imprevistos, foram mencionadas na quarta-feira e na quinta-feira passadas pelos presidentes do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e do Banco da Inglaterra, Mark Carney.