RIO - Um dos maiores expoentes do romance regionalista, o paraibano José Lins do Rego, que completaria 120 anos nesta quonta-feira, 3, dizia que o mundo fabuloso de seus livros era composto por “rudes homens do cangaço” e “sertanejos castigados”. Mas se o autor de dois dos maiores clássicos da literatura brasileira do século XX, “Menino de engenho” e “Fogo morto”, foi celebrado principalmente por suas narrativas sobre o Nordeste, algumas de suas facetas menos conhecidas começam a ressurgir na academia e no universo editorial.
Semana de Arte Moderna de 1922:Especialistas põem em xeque hegemonia historiográfica do evento
O romancista que retratou a vida privada dos engenhos do Nordeste e a decadência da economia açucareira foi também um arguto cronista da vida urbana do Rio. O homem que voltava sempre às “terras tostadas de sol” de sua aldeia natal foi também um viajante cosmopolita, em contato com a cena literária internacional. Esse outro escritor, aliás, é o destaque de “As melhores crônicas de José Lins do Rego”, que sairá neste semestre pela Global, e reunirá textos do paraibano publicados na imprensa, muitos deles ainda inéditos em livro.
O turista aprendiz: Uma viagem pela cultura popular inspirada nas pesquisas de Mário de Andrade
Como explica o organizador Bernardo Buarque de Hollanda, a obra tem como objetivo apresentar às novas gerações a produção cronística de Zé Lins, morto em 1957. Os mais jovens talvez conheçam a sua relação com o futebol (em especial sua paixão pelo Clube de Regatas Flamengo, cantada em milhares de textos na imprensa), mas não acompanharam suas colunas da época.
Poucos sabem, por exemplo, que ele chegou a ser uma espécie de crítico de cinema no GLOBO, jornal em que publicou mais de duas mil crônicas entre 1944 e 1956. Escreveu sobre Chaplin, Buster Keaton, Walt Disney e Branca de Neve. O autor também manteve a coluna fixa “Conversa de lotação”, inspirada em papos que ouvia no transporte público.
— Eu diria que 95 por cento dos textos publicados no GLOBO ainda estão inéditos em livro — diz Buarque de Hollanda. — Seus romances foram todos republicados dezenas de vezes (“Fogo morto”, por exemplo, está em sua 84ª edição), mas as coletâneas de crônicas nunca tiveram reedições. Neste novo volume, selecionei algumas das crônicas que já haviam saído em coletâneas como “Gregos e troianos” (1957) e juntei com outras nunca publicadas antes. Considero os escritos de “Conversa de lotação” fundamentais por trazerem essa observação da vida urbana carioca.