JORGE VEIGA, O CARICATURISTA DO SAMBA
Raimundo Floriano
Jorge Veiga
Jorge de Oliveira Veiga, cantor e compositor, nasceu em Engenho de Dentro, Bairro do subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), no dia 14.4.1910, cidade onde veio a falecer, no dia 29.6.79, aos 69 anos de idade.
Teve infância de menino pobre, trabalhando como engraxate, vendedor de frutas e pirulitos e biscateiro. Quando adulto, trabalhou como pintor de paredes e, ao cantar durante o serviço, o proprietário da casa comercial que estava pintando percebeu que ele tinha qualidades de cantor e conseguiu que ele cantasse num Programa da Rádio Educadora do Brasil, PRB-7, oportunidade que deu início a sua carreira artística.
Levado ao Programa Metrópolis, estreou, em 1934, cantando no estilo de Silvio Caldas, um dos intérpretes de maior prestigio na época. Por influência do compositor Heitor Catumbi, e, depois, do violonista Gregório Guimarães, resolveu mudar de estilo.
Integrante do elenco da Rádio Tupi, a partir de 1942, o cantor firmou-se, sobretudo, como intérprete de sambas malandros e anedóticos e também de sambas de breque, cacacterística de seu repertório, merecendo de Paulo Gracindo, em cujo Programa atuava, o título de Caricaturista do Samba.
Estreou no disco com a gravação do samba Iracema, de Raul Marques e Otolindo Lopes, grande sucesso no Carnaval de 1944. Nos anos seguintes, alcançou novos êxitos, interpretando os sambas Rosalina e Cabo Laurindo, ambos de Haroldo Lobo e Wilson Batista, e Na Minha Casa Mando Eu, samba de Ciro de Souza, em 1945; Vou Sambar em Madureira, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e Pode Ser Que Não Seja, samba de Antônio Almeida e João de Barro, em 1946.
No Carnaval de 1947, sua interpretação da marchinha Eu Quero É Rosetar, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, alcançou estrondoso sucesso.
Na Rádio Tupi e, depois, na Rádio Nacional, ficou famoso pelo bordão criado pelo ator, radialista e compositor Floriano Faissal, com o qual iniciava seus programas:
“Alô, alô, senhores aviadores que cruzam os céus do Brasil, aqui fala Jorge Veiga, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Estações do Interior, queiram dar os seus prefixos para guia de nossas aeronaves".
Como compositor, lançou, em 1955, em parceria com Zé Violão, o samba Aviadores do Brasil, entre outros.
Durante a Década de 1950, obteve seus maiores sucessos com os sambas Sou Flamengo, de Pedro Caetano e Carlos Renato, Estatutos da Gafieira, de Billy Blanco, lançado em 1954, e Café Soçaite, de Miguel Gustavo, em 1955. O grande sucesso desse samba gerou um LP apenas com músicas de Miguel Gustavo, todas de sátiras ao “Café Soçaite” da época. Em decorrência, Jorge Veiga resolveu adotar, com magnífica aceitação, no Rádio e na Televisão, a imagem do malandro grã-fino, apresentando-se sempre de smoking.
Ainda em 1955, lançou o Hino da Torcida do Flamengo, de Getúlio Macedo e Lourival Faissal. Em 1956, gravou os sambas Solução, de Raul Sampaio e Ivo Santos, Fora da Jogada, seu, em parceria com Haroldo Lobo, e, em dueto com Carmen Costa, Obsessão, de Mirabeau e Milton de Oliveira. Em 1957, gravou, de sua autoria, em parceria com Zé Violão, o samba Em Boi Morto Até Eu Bato, a marchinha Marcha da Feira, de Paquito, Romeu Gentil e Rubens Machado, e os sambas Palhaço, Fernando Lobo e Ari Cordovil e Samba de Itaguaí, seu, em parceria com Raul Marques.
Em 1958, lançou, para o Carnaval, a marchinha Vamos Pra Brasília, de Átila Bezerra, Sebastião Gomes e Valdir Ribeiro, e o samba Falador Passa Mal, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. No mesmo ano, gravou mais uma música alusiva ao futebol, o samba Torcida Organizada, de Gordurinha e Francisco Soares.
Anda em 1957, lançou, também no mesmo ano, o LP O Caricaturista do Samba, incluindo os sambas Recado Que a Maria Mandou, de Haroldo Lobo e Wilson Batista, Rei do Samba, de Arino Nunes e Miguel Lima, Faustina, de Gadé e Sambista no Céu, de sua autoria.
Em 1959, conheceu novo grande sucesso com a regravação do samba Acertei no Milhar, de Wilson Batista e Geraldo Pereira, que virou um marco na sua carreira. Também no mesmo ano, fez sucesso com o samba Orora Analfabeta, de Gordurinha e Nascimento Gomes.
Em 1960, lançou os sambas Assunto do Dia, de Zé Violão e Água no Leite, de Ciro Monteiro e Nascimento Gomes, e a marchinha Brigitte Bardot, de Miguel Gustavo, alusiva à famosa atriz francesa em pleno sucesso na época e que, no Brasil, passou uma temporada morando em Búzios, praia do norte fluminense.
Em 1961, fez sucesso com o samba Obrigado Doutor, de sua autoria e Gabilan. No mesmo ano, transferiu-se para a RCA Victor e lançou os sambas O Pugilista da Fama, de Claudionor Martins e Moreira da Silva, e Imaginação de Pobre, de Claudionor Martins e Nelson Maia. Nesse ano, lançou o LP A Volta do Sambista - Obrigado, Dr.!, que apresentava, entre outros, os sambas Aluga-se Uma Casa, samba de Sebastião Gomes e René Bittencourt, Dinorah, de Heitor Catumbi e Benedito Lacerda, e Aguenta o Velho Galho, de Heitor Catumbi.
Em 1962, fez sucesso com a marchinha Garota de Saint-Tropez, de João de Barro e Jota Jr., e gravou, também, os sambas Carta à Brigitte Bardot, de Miguel Gustavo, em outra alusão à atriz francesa, Caixa Alta em Paris e O Marido da Vedete, os dois de Gordurinha, e Na Cadência do Samba, de Ataulfo Alves e Paulo Gesta.
Em 1964, fez grande sucesso no Carnaval com o samba-coco Bigorrilho, de Paquito, Romeu Gentil e Sebastião Gomes, que se tornou depois obrigatório em seus shows. Em 1971, gravou, com Ciro Monteiro, o LP De Leve, pelo selo RCA, interpretando, entre outros sucessos, os sambas Pra Seu Governo, de Haroldo Lobo e M. de Oliveira, Falso Amor, de J. B. de Carvalho, Não Tenho Lágrimas, de M. Bulhões e M. de Oliveira, e Café Soçaite.
Em 1972, gravou o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, e o samba Vou Te Abandonar, de Heitor dos Prazeres, especialmente para o Fascículo Donga e os Primitivos, da série Nova História da Música Popular Brasileira, da Abril Cultural.
Em 1974, gravou, com Roberto Paiva, o LP Noel Rosa x Wilson Batista, dentro da Série Temas e Figuras da MPB, retratando a famosa polêmica entre os dois compositores. Em 1975, saiu, pela Copacabana, o LP O Melhor de Jorge Veiga. Em 1978, a convite do produtor Ricardo Cravo Albin, foi um dos astros, ao lado de Clementina de Jesus, Cauby Peixoto, Fafá de Belém e Marlene, do LP O Dinheiro na Música Popular Brasileira, produzido pelo Banco do Brasil, como brinde de Natal, com larga distribuição em todo o país.
Em 1979, ano de seu falecimento, a CBS lançou o LP O Eterno Jorge Veiga, com um apanhado de seus sucessos, incluindo sambas de sua autoria, como Boi Com Abóbora, parceria com Marinho da Muda, Festival de Bolachadas, parceria com Gordurinha, e Casa Que Tem Cachorro, parceria com Newton Teixeira.
Não há rapaz de minha época que não imitou Jorge Veiga, que não cantou como ele, que não quis ser ele. Eu, por exemplo, até hoje seu fã de carteirinha, possuindo 284 de seus sucessos em meu acervo. Em minha juventude, eu sabia cantar até alguns de seus comerciais, como este:
Eu sou Jorge Veiga
Cantor de samba de breque
Eu faço a barba é com Gillette Tech
Com esse novo aparelho de fazer a barba
Eu me barbeio num instante
Sou um tipo elegante
Guarde este nome de cor:
Gillette Tech!
Taratatá, taratatá!
Sua discografia é extensa e facilmente encontrável nos sites especializados, bem como 301 títulos remasterizadas de bolachões 78 RMP.
Como amostra de seu trabalho, aí vão estas cinco faixas:
Cala a Boca, Etelvina, samba de Antônio Almeida e Wilson Batista;
Baile da Piedade, samba de breque de Jorge Veiga e Raul Marques;
Bigorrilho, samba-coco de Paquito, Romeu Gentil e Sebastião Gomes;
Garota de Copacabana, samba de breque de Zé da Zilda;
Café Soçaite, samba de Miguel Gustavo:
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