Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sábado, 10 de junho de 2023

JOIA RECUPERADA: IGREJA DO SÉCULO XVIII, FECHADA HÁ TRÊS ANOS NO CENTRO DO RI, REABRE APÓS REFORMAS

 

Por Carmélio Dias — Rio de Janeiro

 

A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores
A Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores Custódio Coimbra

Erguida no coração da cidade, num dos pontos mais preservados do Rio antigo, em trecho de ruas estreitas, ladeada por sobrados e pequenos prédios históricos, a Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores não se destaca na paisagem urbana: está integrada a seu entorno. Fruto da devoção de comerciantes da região, sua história começa no início do século XVIII com um singelo oratório dedicado à santa, improvisado num pequeno beco que hoje chamamos, não por acaso, Travessa do Comércio. Em 1747 surgem as primeiras obras da igreja, cuja fachada fica no número 35 da Rua do Ouvidor. Com estilo entre rococó e barroco, tornou-se uma joia arquitetônica capaz de condensar história, cultura e fé. Fechada há três anos, após longo período amargando certo abandono, a igreja reabre hoje, às 18h, com missa solene celebrada pelo cardeal Orani João Tempesta.

 

— A Arquidiocese tem uma grande preocupação com todo o patrimônio histórico da nossa cidade. E mesmo quando alguns locais não são de nossa propriedade, mas pertencem a irmandades, temos procurado encontrar caminhos alternativos para a restauração. Poder reabrir para o culto público e ao mesmo tempo com toda a história, a beleza da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores, é uma grande alegria. Agradecermos ao comissário, que está, em nosso nome, trabalhando bastante nesse sentido e pedimos a Deus que nos ajude cada vez mais para continuarmos trazendo para o uso da comunidade muitas igrejas que fazem parte da história do Brasil e do Rio — diz Dom Orani Tempesta.

 

‘A igreja está linda’

 

A reabertura começou a ser desenhada em março, quando Claudio André de Castro foi nomeado pela Arquidiocese do Rio comissário administrativo da irmandade responsável pela igreja. Em pouco tempo, Claudio, que é diretor da Sérgio Castro Imóveis, mobilizou equipes profissionais e voluntários. O primeiro objetivo foi alcançado com obras de recuperação da fachada, cujo estado precário de conservação havia levado o prédio a ser interditado por questões de segurança.

Em seguida foram realizadas reformas nas instalações elétrica e hidráulica, além de descupinização. A vegetação que brotou em colunas e paredes saiu de cena. As intervenções restauraram um dos primeiros bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio.

— Nós assumimos a responsabilidade e fizemos o reparo todo. A igreja está inteira como foi construída. Toda a recomposição foi feita como mandam as normas do Iphan. Hoje a igreja está linda — comemora Claudio.

No livro “Barroco e rococó nas igrejas do Rio de Janeiro”, lançado pelo Iphan em parceria com o Programa Monumenta, em 2008, as autoras Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira e Fátima Justiniano descrevem assim as impressões de quem entra na Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores: “A sensação produzida no primeiro contato com o interior da igreja é de surpresa e encantamento. No espaço envolvente, iluminado por fonte de luz vinda do alto, o olhar é atraído de imediato para a lanterna, no centro da qual plana a pomba do Espírito Santo”.

A recuperação, promovida em pouco menos de três meses pelo novo comissário da irmandade, passou pela recomposição de parte importante do acervo iconográfico e ornamental.

— A igreja tinha perdido muitas das suas peças, por razões que eu não sei quais, as coisas não estavam mais por aqui. Não tinha mais nenhuma peça de metal, por exemplo, nada. Recebi uma visita do pessoal do inventário da Arquidiocese e fiz um comodato para trazer peças de família e recompor o ambiente — disse Claudio André de Castro.

— Revirando cada cantinho eu descobri esses pouco mais de 70 negativos que mostram como a igreja era na década de 20, um negócio espetacular. Aí eu pude ver o que tinha e o que não está mais lá. Depois fui ao acervo da minha família, que coleciona arte há mais de 100 anos, para ver o que a gente podia ceder — explica.

As peças da coleção particular serão coadjuvantes de luxo para obras originais que restaram. Estão lá, por exemplo, as imagens de Santana com a Virgem Menina e São Joaquim, introduzidas de forma solene na igreja, em 1766, e descritas no livro “Barroco e rococó nas igrejas do Rio de Janeiro” como “peças portuguesas de excelente qualidade, possivelmente da região de Lisboa”.

 

Atingida por bala de canhão

 

A imagem de Nossa Senhora da Lapa, que ocupa o nicho principal, também é original. Já o altar foi arrematado em leilão por Claudio e doado pelo comissário. Na missa de reabertura, hoje, receberá a bênção de Dom Orani. Há algumas semanas, quem passa pelo local já pode escutar o badalar do sino, silenciado há anos, que ganhou operação automatizada bancada por comerciantes locais: nada mais condizente com o espírito colaborativo que deu origem ao templo.

— Reformar é importante, mas é preciso saber cuidar. Ali onde a igreja está era o epicentro do comércio do Rio colonial e imperial. Hoje a gente quer ver o Centro recuperado e é exatamente esse tipo de trabalho do Claudio que faz muita falta. Não basta o poder público, as pessoas precisam ter atenção e cuidado com os pequenos detalhes da cidade. Ainda falta essa escala do carinho, do cuidado, que não é pequena — analisa Washington Fajardo, arquiteto e urbanista que ajudou voluntariamente no trabalho feito na igreja.


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