Uma cerimônia com diversos elementos fazendo referência à cultura do Peru, incluindo até cavalos de uma raça típica do país, abriu na noite desta sexta os Jogos Pan-Americanos de Lima. Com o início oficial do evento, fica a expectativa para que as competições esportivas passem a despertar a atenção da população.
Em Lima, praticamente em todas as casas e edifícios se vê a bandeira do Peru. Pode parecer um nacionalismo incentivado pelo Pan, mas não há relação com o evento, e sim com as “Festas pátrias”, nome dado às comemorações pela Independência do país. Elas ocorrem nos dias 28 e 29, domingo e segunda, mas o feriadão já começou ao meio-dia de sexta, para que a população possa viajar para suas cidades de origem ou relaxar em destinos turísticos.
Os Jogos Pan-Americanos, em si, parecem não ser importantes para os peruanos. Ao menos até agora. Embora a imprensa local trate o evento com destaque (divide as manchetes com a eleição para a mesa diretora do Congresso, a ser realizada neste sábado), a população ainda não comprou a ideia. A campanha peruana do vice-campeonato na Copa América mobilizou mais pessoas. Durante os jogos da equipe de Paolo Guerrero, as ruas de Lima eram tomadas por torcedores a caminho de restaurantes, bares e, principalmente, praças onde telões transmitiam os jogos ao vivo.
Não por acaso, o presidente peruano Martín Vizcarra, quem abriu oficialmente os Jogos durante a cerimônia, escreveu em sua conta oficial no Twitter que "#Lima2019 é uma realidade". Em 2017, parte do Congresso e até mesmo da população defendia que o país abrisse mão de sediar a competição. O motivo era o estrago causado pelas chuvas torrenciais no norte do país. Naquele momento, ganhou força o argumento de que o Governo deveria direcionar todos os seus recursos para reparar os danos sofridos pelos moradores daquela região. Queriam, então, que o dinheiro destinado à organização do evento fosse remanejado.
Passados dois anos, o movimento contrário ao Pan perdeu força. Alguns políticos que defendiam o "não" ao evento até estiveram no Estádio Nacional do Peru durante a abertura oficial. Entre a população, no entanto, se a má vontade com a competição acabou, o que ficou parece ser apenas indiferença.
'Pico y paro'
Na última quinta-feira, a Plaza Mayor, a mais importante da cidade, estava fechada. É lá que foi posto o letreiro “Lima”, onde turistas e mesmo moradores podem tirar fotos no clima dos Jogos. O motivo do fechamento não tinha nada a ver com o esporte: próximo ao local, um grupo de motoristas de ônibus realizava uma manifestação. As linhas que dirigiam perderam a permissão para circular no Centro, e eles foram às ruas protestar. Para evitar que chegassem à praça, onde estão localizadas as sedes do governo nacional e da prefeitura, policiais cercaram os acessos. O que era para ser um local de fotos e de alegria, tornou-se um espaço vazio e frio.
O trânsito, aliás, virou motivo de insatisfação da população. Não o caos tradicional do tráfego, que parece não incomodar os limenhos, mas a política batizada de “pico y paro”: um rodízio de placas nas principais ruas da cidade, como o que já ocorre em São Paulo. O resultado, num primeiro momento, foi de aumento dos engarrafamentos e da insatisfação do povo, em especial dos taxistas e demais profissionais que trabalham com transporte.
É neste cenário que os Jogos surgem. Seu maior desafio é atrair a população e fazer com que os esportes olímpicos mobilizem os peruanos tanto quanto Guerrero e cia. Mas isso apenas a partir de terça-feira. Até lá, o protagonismo é exclusivo das “Festas pátrias”.
Neste sábado, o Brasil pode conquistar suas primeiras medalhas, nas maratonas feminina e masculina, a partir das 10h30. A ginástica artística feminina e o boxe estreiam. O Sportv 3 e Record News transmitem.
O repórter viaja a convite da PromPerú.