Estava recentemente em uma mesa com amigos, comendo, bebendo e conversando, quando um deles pronunciou a frase que me inspirou a escrever hoje:
– Aí ele jogou uma verde, né?
Não lembro qual assunto levou àquela afirmação por um dos comensais, mas isso agora já não importa. O que importa é que todos ali entenderam do que se tratava. Embora nosso amigo tenha usado apenas a forma abreviada da expressão – “jogar uma verde” – todos ali sabiam que sua forma completa é “jogar uma verde pra colher maduras”, sujeita a variações que não lhe alteram o sentido.
Ou seja, falávamos de uma situação na qual alguém, manipulando dados escassos ou pouco relevantes dos quais tinha conhecimento, tentava obter de outrem as informações que realmente interessavam.
Ultimamente, outra expressão, de significado semelhante, tem ganhado espaço nos noticiários e nas redes sociais: fishing expedition. Há registro inclusive de que a frase em inglês correspondente a “ele está jogando verde” seria “He’s just fishing”.
Deve-se, no entanto, lembrar, que a prática conhecida como fishing expedition trata de algo mais específico que um simples “jogar verde”. Nela, autoridades com poderes investigativos utilizam-se de indícios frágeis de práticas supostamente criminosas para obter dados amplos e sigilosos sobre alguém que de antemão pretendem punir. Assim, a investigação é aberta a pretexto de se elucidar um crime, mas o verdadeiro objetivo é tentar descobrir crimes outros, de preferência mais graves.
No fim das contas, acaba havendo mesmo semelhança com o ato de “jogar uma verde para colher maduras”, na medida em que a investigação parte de dados superficiais ou pouco relevantes em busca de fatos capazes de incriminar alguém.
Nada obstante essa breve divagação jurídica, nossa crônica não é sobre investigações, crimes ou autoridades. Aqui, nossa atenção se volta para situações cotidianas, até mesmo banais, dignas de serem tratadas em mesas de bar. Então, prossigamos!
Naquele dia, enquanto estava com meus amigos, a própria expressão usada na conversa tornou-se o assunto em pauta, quando alguém perguntou:
– De onde surgiu essa história de “jogar verde”, hein?
Era a deixa que eu precisava para exibir meus conhecimentos sobre a origem das coisas.
Deixando o celular sobre a mesa, para não pensarem que eu expunha conhecimentos extraídos em tempo real do Google, expliquei tudo:
Essa expressão vem de uma história ocorrida no tempo do Brasil Imperial, quando um estudante que morava na cidade, mas era filho de um fazendeiro, descansava à sombra de uma das muitas mangueiras que havia na propriedade do seu pai.
Recuperava-se de uma forte ressaca, causada pelo vinho em excesso, consumido na noite anterior, em uma casa de prostituição. Enquanto descansava, observou um menino, filho de escravos, nascido já na vigência da Lei do Ventre Livre, usando uma vara para colher mangas.
Estavam nisto, quando o menino pegou uma manga verde, encontrada no chão, e a arremessou contra o cacho de mangas maduras de um galho mais alto, além do alcance da sua vara. Com o impacto da manga verde, as maduras logo vieram abaixo, sendo imediatamente recolhidas pela criança.
Mais tarde, o estudante foi à casa da noiva, para lhe fazer a corte, mas esta conversava de modo estranho, dando a entender que havia sido informada das peripécias do rapaz na noite anterior. E ele, percebendo que a noiva o cercava com perguntas e insinuações, vaticinou:
– Vejo que você está me jogando uma verde para ver se colhe maduras!
A moça surpreendeu-se com a maneira de falar do noivo, mas, percebendo que sua estratégia para tentar obter uma confissão havia sido descoberta, mudou de assunto.
A partir daquele dia, a frase foi passando de boca em boca, chegando aos dias de hoje com o significado que se lhe atribui.
Fui aplaudido. Nenhum dos presentes conhecia essa história. Nem eu. Mas, como sempre digo, o importante de uma história não é ser verdadeira; é ser bem contada!