COMENTÁRIO DA MADRE SUPERIORA TERESA CRISTINA SOBRE A MATÉRIA EM EPÍGRAFE, ACESSÁVEL CLICANDO-SE NESTE LINK:
Madre Superiora Teresa Cristina
Primo Raimundo Floriano, já havia feito um comentário onde ressaltava a pessoa de meu avô paterno, João Ribeiro da Silva, como um dos pioneiros no desenvolvimento de Santo Antônio do Balsas. Falar dele, de sua esposa, minha avó Maria Ribeiro da Silva, é sempre encontrar mais fatos a serem observados. A maravilhosa casa em verde e branco, com detalhes de esmerado bom gosto, a primeira da cidade construída em tijolo de argila, quando o costume da época era construção de adobe ou adobo, tijolo grande de barro, seco ou cozido ao sol, às vezes acrescido de palha ou capim para torná-lo mais resistente, que progresso! Não bastasse este ousado empreendimento, homem bem sucedido que era, conheceu o Gasômetro a Carbureto e logo o levou à casa dele e sua família, sendo, então, a primeira com iluminação a gás. Aperfeiçoou e se informou mais e adquiriu um outro gasômetro, de fabricação alemã. Desta feita, melhorou a iluminação de sua residência, bem como instalou pontos de luz em vários lugares, tornando a praça da Matriz bem iluminada. Comprar a máquina de escrever Underwood, para espanto da população, me faz reforçar a imagem que dele tenho: um visionário inteligente e muito bem informado do que ocorria no mundo, léguas de distância dos grandes centros do nosso imenso Brasil. Parabéns ao irmão dele, meu tio Cazuza, que logo se tornou um exímio datilógrafo. Papai, meu querido Pedro José da Silva Néto, tinha uma excelente máquina de escrever, anterior a 1939. Também datilografava com enorme rapidez e eficiência, o que nos encantava. E o que dizer do primeiro carro dos dois irmãos?! Como gostaria de estar pelas ruas de Santo Antônio do Balsas e assistir ao motor do Ford 1929 a circular pela cidade! Que máximo! Geniais! E outros irmãos, o Emigdio Rosa e João Clímaco, também unidos e em ótima orientação. Falemos um pouco da idade em que ele, com 31 anos, em 1910, já com um filho, o Ribeirinho, partia para o Balsas, como desbravador, ao lado de sua esposa, de apenas 17 anos, rumo ao desconhecido, mas, com certeza, com antecipados planejamentos e avaliações, características de ousados e corajosos pioneiros. Já mencionei a enorme admiração e espírito de união e solidariedade quando, em situação de progresso e já bem-sucedido, se lembrar dos irmãos e os convidar para a colonização do Balsas. Sua vitória precisaria ser compartilhada. Parabéns, vovô! Caráter e afeição, generosidade e altruísmo são legados mágicos “tatuados" em seus filhos, netos, bisnetos e a todas as gerações que vierem. Obrigada! Com certeza, seus irmãos, já sócios no trabalho, o tinham nesta mesma admiração. Através de livros escritos pela família ou mesmo no de Magnólia Furtado, você enviava à Fazenda do Brejo aquilo que lá não havia. Que nobreza de atitude! Ao mesmo tempo, percebo que tinha estima por Isaura, a segunda esposa de seu pai. Merecido carinho. Ela cuidou de você e de seu irmão Mundico, o Raimundo, desde pequeninos, pela morte de sua mãe, Otilia Raimundina. Com 23 anos, ela se casou com seu pai, meu bisavô, o Cap Pedro, já com 39 anos. E mais 17 filhos ela teve a se juntar a vocês dois. Não é brincadeira! Muito orgulho! Muita coragem! Vou falar um pouco da sempre citada como exigente e brava Vovó Marica. Não me é desconhecida esta face dela No entanto, se a olharmos com certa atitude empática, compreenderemos a dureza de vida. Sair da casa paterna, uma menina de 16 anos, e se casar com um homem de 30 anos, sem conhecimento, na certa, sobre realizar sonhos e saber como é a vida de casada? Ano a ano só fez ter filhos .... E se não bastasse, com 37 anos, fica viúva com 10 filhos? Oito homens e duas mulheres? (Meu avô morreu no dia do aniversário de meu pai, 17 de dezembro). Papai já estava encaminhado, como aluno da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, que, a partir de janeiro de 1944, se transferiu para Resende-RJ, AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras. Ribeirinho era formado em Farmácia, e Zenóbia, professora. Felizmente, todos se encaminharam bem, mas “Dindinha” teria uma árdua tarefa pela frente para bem formar seus outros 7 filhos. Um pouco impossível ser serena e terna com este enorme desafio. Era muita amargura. Consta também que muitos sobrinhos e sobrinhas foram morar em casa dela quando se mudou para Teresina, seis anos após a morte do marido, 1936. Enviou filhos para estudarem em São Paulo. Alguns adoeceram. Ela só acompanhava de longe até que se viu um tanto obrigada a morar em São José dos Campos, para tomar as rédeas da situação com os filhos no Estado de São Paulo e cuidar destes. Retorna a Fortaleza e fica até o final de seus dias . Tive muitos contatos com vovó e pude ouvi-la em sua retrospectiva de vida. Vi uma outra mulher. O lado exigente e muito temido, sabia através de papai, outros irmãos dele e muitos parentes. De minha avó, apesar de tantas conversas, doce de abóbora no cal, vatapá maravilhoso, carne pendurada no varal e deliciosos pratos, não me saiu da memória o convulsivo pranto dela ao adentrar nossa casa, em 1962, gritando e, em desespero, a chamar por seu Pedrinho, que acabara de morrer. Ela ainda não havia completado 69 anos e velava seu jovem filho, Cel Silva Néto, ao lado de nós, filhos de todas as idades, onde o mais velho tinha 21 anos.... e minha minha mãe, como vovó se desesperou ao vê-la grávida de 7 meses! Outra jovem viúva de 39 anos. A vida é pra valer e não é fácil não. Que Deus e o Sagrado Coração de Jesus e Maria nos expliquem algum dia o que todos seguramos pela fé. Quem não? Teresa Cristina da Silva Néto. 22 de agosto de 2020.