Vendo a vida atrás das lentes de um ray-bam João rumou à Academia pensando em um dia ser o maioral, músculos e bíceps à la Schwarzeneger. Na mão, o i-phone que lhe mantinha a par de todas as fofocas coloridas da periferia e lhe ofertava os sons mais modernos. Em tempo real. De bermuda suja e rasgada Zé o espreitava na primeira esquina. Mirradinho, a Zé interessava apenas o celular, com suas fofocas de what-zap e sua parada de sucessos e o óculos que tornavam a vida mais verde. De arma em punho, Zé deixava de ser mirrado e tornava-se gigante diante de um João, este sim, agora mirradinho e indefeso. Sem opção, João passou a ver a vida em sua natural cor. Naquele dia não correu cinco quilômetros na bicicleta parada e não pode mandar a foto para seus amigos do Facebook. Restou-lhe apenas, no bolso de trás de sua calça jeans, um carnê da Casas Bahia com duas prestações vencidas.