Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo sexta, 02 de outubro de 2020

JANIS JOPLIN: 50 ANOS SEM A CANTORA

 

Janis Joplin falava pelas mulheres e as fez falar por si mesmas', diz biógrafa

Para Hollis George-Warren, a cantora que completa 50 anos de morte no dia 4 provocou uma revolução, mas teve a faceta de artista inteligente e trabalhadora ofuscada pela da entertainer
 
A cantora americana Janis Joplin Foto: Don Hunstein / Divulgação
A cantora americana Janis Joplin Foto: Don Hunstein / Divulgação
 
 

RIO - Primeira mulher a atingir o estrelato no rock, a americana Janis Joplin morreu há quase 50 anos, em 4 de outubro de 1970, aos 27, de uma overdose acidental de heroína – isso, poucos dias depois de o guitarrista Jimi Hendrix (o maior ídolo negro do rock de sua época) ter tido o mesmo destino, com a mesma idade, depois de misturar álcool e barbitúricos.

Na época, a americana Holly George-Warren tinha 13 anos e vivia na sulista Carolina do Norte, em uma cidade tão pequena e isolada que “a rádio local saía do ar às seis da tarde”. Nas emissoras de Chicago e Nova York que conseguia sintonizar, tarde da noite, chegou-lhe a música de Janis — uma revolução pessoal à qual ela enfim fez justiça com “Janis Joplin: sua vida, sua música”. O livro de 2019, cuja tradução acaba de ser lançada no Brasil pela editora Seoman, acrescenta novas camadas às biografias já publicadas sobre a cantora.

Em entrevista por Zoom, a escritora (que passou quatro anos — o mesmo tempo que a cantora teve de sucesso — debruçada sobre o livro) fala sobre a mulher muito à frente do seu tempo que Janis foi: bissexual assumida, defensora da satisfação do desejo feminino, antirracista ferrenha, multicultural (esbaldou-se no Rio, no carnaval de 1970) e voz de blues que influenciaria até mesmo machos alfa do rock como Robert Plant (Led Zeppelin) e Steven Tyler (Aerosmith).

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— Janis criou uma persona, a da entertainer na qual a mídia vai pular em cima. Mas isso acabou escondendo a faceta de artista inteligente e trabalhadora. Pouco antes de morrer, ela estava estudando produção musical, tenho certeza de que ela viraria uma das primeiras mulheres produtoras — conta Holly nesta entrevista.

 
O quanto Janis Joplin afrontou os americanos quando apareceu na cena?

Ela tinha uma missão: a de não se conformar com os padrões de beleza correntes naqueles dias, de que uma estrela tinha que ter um visual arrumado. Era uma época em que as mulheres ainda eram consideradas subservientes, mesmo dentro do rock. A revista “Vogue” dizia que a pele de Janis parecia uma pizza... e os jornalistas homens a chamavam de atarracada, quando na verdade ela tinha um corpo muito bonito.

Hoje em dia, seria um motivo de vergonha para as pessoas terem escrito e dito coisas assim. E Janis também foi uma das primeiras brancas nos Estados Unidos a dançar no palco e não só ficar parada, cantando. Aquilo era inaceitável. Hoje, é imprescindível.

Como Janis quebrou as barreiras da indústria para as mulheres que cantavam rock?

Simplesmente chutando a porta. Janis tinha fãs homens e fãs mulheres. Mas, particularmente para as mulheres, Janis era uma performer tão incrível, tão transparente, que parecia estar vivendo as letras daquelas canções, e isso deu a elas liberdade para expressar os seus sentimentos em vez de ter que vestir máscaras o tempo todo. Janis falava pelas mulheres, e as fez falar por si mesmas.

 

 
Detalhe da Capa do livro "Janis Joplin: sua vida, sua música", de Holly George-Warren Foto: Divulgação
Detalhe da Capa do livro "Janis Joplin: sua vida, sua música", de Holly George-Warren Foto: Divulgação

Como ela lidava com os tabus em relação ao sexo?

Janis morava em uma cidade portuária (Port Arthur, no Texas), com muitas prostitutas, e não havia problemas para os meninos se eles quisessem pagar para fazer sexo. Já se descobrissem que uma menina transou, a sua reputação estava arruinada. Mas ela não dava a mínima e resolveu mostrar que as mulheres poderiam se divertir tanto quanto os homens, chegando para um cara e dizendo: “eu quero trepar”. Era algo muito novo. Janis teria ficado horrorizada quando a Aids apareceu. E só Deus sabe como estaria lidando com a Covid-19. Provavelmente, fazendo um monte de ligações de Zoom...

Janis Joplin era uma mulher branca que cantava blues, a música dos negros, em um tempo e um lugar de grande segregação. O que ela teve que enfrentar?

Janis foi criticada pelos dois lados. Os racistas diziam: “Por que você iria querer cantar como uma negra? Você é branca!” E alguns afro-americanos reclamavam de ela ser como Elvis, alguém que se apropriou da música de uma outra cultura. Eu argumentaria que Janis Joplin foi única, que ela canalizou muitos tipos de música e os “janisou”. A música negra foi, de longe, a que mais falou ao seu coração, mas se você vê a sua obra, você ouve o country & western do Texas. Além disso, ela sempre deu crédito às vozes negras que cantaram antes as músicas do seu repertório, como Big Mama Thornton, Etta James e Bessie Smith. Não a considero alguém que explorou os negros.

 

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Janis morreu dias depois de Hendrix, meses depois dos assassinatos da atriz Sharon Tate e de seus amigos pelos seguidores de Charles Manson... uma época de bad trip para a juventude, não?

E outra coisa horrível nos EUA que aconteceu naquela época foi Kent State (universidade em Ohio), quando sob o governo Nixon, estudantes foram alvejados por balas e mortos quando protestavam contra a Guerra do Vietnã. Foi uma época muito difícil, que mostra como aqui as coisas boas acontecem, parece que estamos indo para a frente, mas de repente tudo vem abaixo. Cá estamos nós, 50 anos depois, e ainda vemos grandes artistas morrendo por causa de opióides, como Prince (em 2016) e Tom Petty (2017). É algo terrivelmente sintomático dos ciclos da nossa cultura: damos cinco passos para a frente e depois três para trás.

A escritora americana Holly George Warren Foto: Divulgação
A escritora americana Holly George Warren Foto: Divulgação

Em fevereiro, pouco antes de morrer, Janis veio ao Rio de Janeiro para o Carnaval, e depois para a Bahia. Você diz que essa foi uma das ocasiões mais felizes da sua vida.

Janis enfrentou a depressão, sim, mas ela tinha um lado muito alegre. Ela adorava o mar, adorava dançar, e o Brasil lhe deu tudo isso. Li os telegramas que ela mandou ao seu assessor de imprensa em Nova York, dizendo que estava sendo tratada como Brigitte Bardot! E foi aí que ela conheceu (o namorado) David Niehaus, um americano muito cool que esteve viajando pela Amazônia e que, por estar há bastante tempo fora dos Estados Unidos, não sabia que ela era uma estrela. Ela adorava que ele tivesse sido atraído pelo que ela era, não pelo estrelato. Além disso, a música afro-brasileira que ela viu no Rio e na Bahia a afetaram muito.

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Você ouviu falar de Serguei (1933-2019), o cantor brasileiro que dizia ter namorado Janis quando ela esteve no Rio?

Sim, vi até uma foto, ele parece muito com Steven Tyler. Eles podem ter tido uma ficada rápida logo que ela chegou, porque ela logo conheceu David, dois ou três dias depois de chegar, e não acredito que ele fosse o tipo de cara a fim de compartilhá-la com outros! Janis era uma pessoa muito amigável, afetuosa e física, pode ter sido algo que começou com beijos, uma esfregação... e acabou evoluindo para algo mais. Fiquei triste de não ter falado com Serguei para o livro

Dá para imaginar Janis Joplin hoje, aos 77 anos?

Eu vejo contemporâneas suas, como Joan Baez(de 79 anos) e Maria Maldaur (de 77), e elas são mulheres poderosas, que ainda estão muito bem, fazendo shows e, no caso de Joan, muito ativas politicamente. Maria acabou de gravar um disco de blues buliçosos dos anos 20 e 30 (“Don't you feel my leg: The naughty bawdy blues of Blue Lu Barker”, de 2018). Acho que Janis ainda estaria por aí fazendo shows, teria produzido um monte de discos... ela estava aprendendo a tocar piano e adorava Nina Simone, quem sabe ela fizesse algo mais jazzy. Eu acho que ela ia adorar essas mulheres todas, de Lady Gaga a Cardi B. E tenho certeza de que ela voltaria ao Brasil muitas outras vezes, e até trabalharia com artistas brasileiros.

"Janis Joplin: Sua Vida, sua Música"

Autora: Holly George-Warren

Tradução: Martha Angel e Humberto Moura Neto

Editora: Seoman

Preço: 69,90

Páginas: 432


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