IVON CURI, O CANÇONETISTA
Raimundo Floriano
Ivon Curi
Ivo José Curi, o Ivon Curi, ator, cantor e compositor nasceu em Caxambu (MG), a 5.6.1928, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 24.6.1995, aos 67 anos de idade. Era filho do comerciante José Kalil Curi e de Maria Curi. Teve oito irmãos, dentre eles os locutores da Rádio Nacional Alberto e Jorge Curi.
Por volta de 1944, começou a cantar sambas-canções e cançonetas francesas em festas, shows e, depois, na rádio de sua cidade, onde estudou o Curso Ginasial. Aos 11 anos de idade, ainda em Caxambu, ganhou um concurso de calouros onde interpretou J'attendrai, música que fazia grande sucesso na voz de seu maior ídolo francês, Jean Sablon.
No início dos Anos 1940, transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde cursou o Científico e trabalhou na extinta Companhia Aérea Panair. Nessa ocasião, cantou diversas vezes no Programa Sequência G-3, comandado por Paulo Gracindo, na Rádio Tupi, porém de forma ainda amadora.
Em 1947, conseguiu seu primeiro contrato, este com a Rádio Nacional, para apresentar-se como convidado nos programas e Emilinha Borba, Marlene, Dalva de Oliveira e Ângela Maria. Em seguida, transferiu-se para a Rádio Tupi.
Ainda em 1947, foi contratado como crooner da Orquestra do Maestro Zaccarias, do Hotel Copacabana Palace, com indicação dos cantores Nuno Roland e Elda Maida. Em 1948, atuou no Programa Ritmos da Panair, da Rádio Nacional. Por coincidência, este programa tinha o patrocínio da empresa onde trabalhara antes de iniciar sua carreira como cantor.
Em 1949, gravou, em dupla com Carmélia Alves, pela Continental, o baião Me Leva, de Hervê Cordovil e Rochinha. Em 1950, participou do filme Aviso aos Navegantes, da Atlântida, e, no ano seguinte, apareceu em Aí Vem o Barão. E 1952, atuou em Barnabé, Tu És Meu. No total, sua carreira contabiliza 12 filmes.
Seu primeiro disco solo acontecera em 1948, pela Continental, com os foxes La Vie en Rose, de R. S. Louiguy, e Nature Boy de Eden Abhez, seguindo-se C’est Si Bon, de Charles Trenet, e Obrigado, de sua autoria, Tá Fartando Coisa em Mim, dele em parceria com Humberto Teixeira, 1950, Humanidade, de sua autoria, Margarida, de Humberto Teixeira e Copinha, 1952, e Orquídeas ao Luar, versão de Cristóvão Alencar, 1952.
Nessa época, modificou seu estilo, passando a fazer mímicas e contar piadas, tornando-se cançonetista, com apreciável repertório nordestino.
Em 1953, lançou, pela RCA Victor, Amor de Hoje, de Ari Monteiro e Bruno Marnet, música que havia interpretado no filme É Fogo na Roupa. Vieram, a seguir, Baião das Velhas Cantigas, de Jair Amorim, Caxambu, de Zé Dantas e David Nasser, Farinhada, de Zé Dantas, Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, além da valsa de sua autoria, João Bobo, e a canção israelita Beija-flor, versão de Caribé da Rocha.
Depois de excursionar pelo Brasil, fez uma temporada pela Europa, entre 1956 e 1957. Em Portugal, adotou, pela primeira vez, o estilo one-man-show, sendo considerado o melhor intérprete de música brasileira por lá.
Em 1961, casou-se com Ivone Freitas, que lhe deu quatro filhos: Ivana, Ivan, Ivna e Ivo.
Com o aparecimento da Jovem Guarda, afastou-se temporariamente da vida artística, reaparecendo, em 1971, com o espetáculo Ivon de Todos os Tempos, no Teatro Casa Grande, apresentando-se como show-man, quando fez uma retrospectiva de sua carreira, lançando um LP com o mesmo título.
Participou da noite carioca como proprietário de diversas casas noturnas, entre elas Sambão e Sinhá, onde sempre cantava e recebia convidados. Em 1987, lançou o LP Ivon Curi Ontem e Hoje e ingressou na televisão como ator humorístico.
Em 1992, participou da série de shows realizada no Teatro do BNDES em celebração aos 70 anos do Rádio no Brasil, ao lado de Dóris Monteiro, Emilinha Borba e do veterano radialista Gerdau dos Santos, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin.
No ano de 1993, foi contratado pela TV Manchete para comandar o Programa Show da Manchete. Neste mesmo ano, realizou o espetáculo A França e 15 Saudades, que se transformou em seu último disco, Douce France.
Sua derradeira participação televisiva foi na TV Globo, no quadro humorístico de Chico Anysio A Escolinha do Professor Raimundo. Participou, em 1995, das gravações do CD João Batista do Vale, lançado pela BMG, em tributo ao compositor João do Vale, na faixa Forró do Beliscão. Esta foi sua última gravação. No dia 24 de junho daquele ano, Dia de São João, viria a falecer.
Em 2002, sua família doou todo seu acervo, composto de discos, troféus e fotos, ao Instituto Cultural Cravo Albin, que passou a disponibilizá-lo para estudiosos e interessados em sua obra e carreira.
Em 2005, relembrado os dez anos de sua morte, foi lançado, pela Revivendo, o CD Farinhada à Francesa reunindo gravações suas realizadas entre 1948 e 1960, dentre as quais os sucessos Farinhada, de Zé Dantas, João Bobo, de sua autoria.
Todos os discos acima citados, relançamentos, coletâneas e 82 títulos remasterizados de gravações em 78 RPM encontram-se disponíveis nos sites de busca especializados. Como pequena amostra de seu trabalho, escolhi estas cinco faixas:
João Bobo, valsinha de sua autoria:
Forró do Beliscão, baião de João do Vale, Ary Monteiro e Leôncio Tavares:
C’est Si Bon, foxe, de Charles Trenet:
Tutti Buona Gente, tarantela de Bruno Marnet:
Farinhada, baião de Zé Dantas: