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Irmã Dulce dedicou a vida aos mais pobres. Aos 13 anos, começou a ajudar mendigos e enfermos pelas ruas da cidade natal
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“Miséria é a falta de amor entre os homens”. Essa é uma das frases de Irmã Dulce, a freira que dedicou a vida ao trabalho social nas ruas de Salvador e será proclamada a primeira santa nascida no Brasil e será chamada de Santa Dulce dos Pobres. Um decreto assinado ontem pelo papa Francisco reconhece o segundo milagre atribuído à religiosa, um pré-requisito para que o Vaticano proclame um santo ou santa.
O segundo milagre que foi reconhecido se refere a uma pessoa que dormiu cega e acordou enxergando. Ainda não foi divulgado, porém, quando e quem foi a pessoa que recebeu a graça. O primeiro milagre foi reconhecido em dezembro de 2010, que se referia ao caso de uma mulher, em Sergipe, que havia sido desenganada pelos médicos após sofrer uma hemorragia durante o parto, mas a hemorragia parou, de repente, depois da intervenção da religiosa.
A informação sobre o reconhecimento do segundo milagre foi divulgada pelo canal oficial de comunicação do Vaticano. Dos cinco santos considerados brasileiros, apenas o paulista Frei Galvão nasceu no país. Irmã Paulina, canonizada em 2002, foi a primeira santa brasileira, mas nasceu na Itália. De acordo com o site do Vaticano, a canonização será feita em uma “solene celebração”, em data que ainda não foi divulgada.
Irmã Dulce nasceu em Salvador, em 1914, e foi batizada como Maria Rita Lopes de Sousa Brito. Ela ficou conhecida como “Anjo Bom da Bahia” por prestar assistência à comunidade nas favelas e bairros alagados. Ela fundou a União Operária São Francisco, considerado o primeiro movimento cristão operário de Salvador, o Círculo Operário da Bahia, que proporcionava atividades culturais e recreativas, e uma escola de ofícios.
A obra mais conhecida de Irmã Dulce, porém, é a Associação Obras Assistenciais Irmã Dulce (OSID) que ela fundou em 1959, antes de peregrinar por mais de 10 anos em busca de um local para abrigar pobres e doentes que ela recolhia nas ruas de Salvador. De acordo com o OSID, as raízes da associação datam de 1949, quando Irmã Dulce, sem ter para onde ir com 70 doentes, pediu autorização a sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio. “O episódio fez surgir a tradição de que o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro”, diz o site da associação. Atualmente, a entidade filantrópica abriga um dos maiores complexos de saúde, com cerca de 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais por ano, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Irmã Dulce é considerada uma das mais influentes e notórias ativistas humanitárias do século 20. Suas obras de caridade são referência nacional e foram reconhecidas pelo mundo. Em 1988, o então presidente José Sarney indicou seu nome para o Prêmio Nobel da Paz, mas ela não ficou com o título. Em 2011, ela foi beatificada pelo enviado especial do papa Bento XVI, dom Geraldo Majella Agnello. A beatificação é o último passo antes da canonização.
Aos 13 anos, Irmã Dulce começou a ajudar mendigos e enfermos e chegou a ser recusada pelo Convento de Santa Clara do Desterro, por ser muito jovem. Mas a família consentiu que ela transformasse a casa onde vivia em um centro de atendimento às pessoas necessitadas. A casa ficou conhecida como “a portaria de São Francisco”. Em 1933, ela entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristovão, em Sergipe. Foi quando recebeu o nome Irmã Dulce, uma homenagem a sua mãe.
Santos brasileiros
» São Roque González de Santa Cruz: o padre jesuíta nasceu no Paraguai e morreu em 1628, no Brasil. Foi declarado santo em 1988 pelo papa João Paulo II. Morreu em sua missão de evangelizar o catolicismo entre os índios guaranis.
» Santo Afonso Rodrigues: também jesuíta, nasceu em Zamora, na Espanha, e morreu em Caaró, no Sul do Brasil, em 1628 junto com São Roque. Também foi canonizado pelo papa João Paulo II, em 1988.
» São João de Castilho: o padre espanhol chegou ao Brasil em 1616 para catequizar indígenas, também no Sul do país. Também foi canonizado em 1988, pelo papa João Paulo II. Assim como são Roque e Santo Afonso, é considerado um dos mártires do Rio Grande do Sul.
» Santa Paulina: conhecida como Madre Paulina. Veio para o Brasil com a família italiana, em 1875, e morou em Santa Catarina e em São Paulo. Foi canonizada em 2002 pelo Papa João Paulo II. É considerada a primeira santa brasileira.
» Frei Galvão: único santo católico nascido no Brasil, em São Paulo. Uma das figuras religiosas mais conhecidas do país, famoso por seus poderes de cura. Foi canonizado em maio de 2007, pelo papa Bento XVI
» São José de Anchieta: o jesuíta espanhol foi um dos fundadores da cidade de São Paulo. É conhecido como o “Apóstolo do Brasil”, por ter sido um dos pioneiros na introdução do catolicismo no país. Autor da primeira gramática em língua tupi, foi declarado santo em 2014 pelo papa Francisco.