Este é o título de um clássico do cinema italiano, dos anos 70, “relativamente esquecido, mas terrivelmente atual.”
Elenco: Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Massimo Foschi
A trama mostra a dificuldade que tem as instituições competentes, na hora de proceder inquéritos, que envolvam figuras importantes do meio político.
Trata-se de um filme italiano, de 1970, dirigido por Elio Petri e escrito por Elio Petri e Ugo Pirro.
Em um momento de perturbação política interna na Itália, um Inspetor do alto escalão da polícia italiana, com reputação ilibada, fama de incorruptível, mas reacionário, recebe a tarefa de reprimir os dissidentes políticos. Dentre eles está sua amante Augusta Terzi (Florinda Bolkan), que é por ele assassinada, por motivos outros.
Ele começa a testar os limites da polícia, vendo se irá ser acusado pelo crime. Assim, começa a plantar pistas óbvias que o identificam como o assassino da mulher, e vê seus colegas ignorando-as, seja intencionalmente ou não. Nenhum colega seu acredita que seja ele o assassino. E desviam o curso das investigações.
O filme é levemente baseado em Crime e Castigo, de Dostoiévski e aborda o abuso e corrupção do poder e da moral.
Uma denúncia nua e crua do que acontece e permanece chocante até hoje.
A opinião pública, nem de longe admite que o Inspetor seja o assassino da amante, mesmo com indícios plantados por ele próprio. Ele atravessa o inquérito incólume.
Enquanto isso, um jovem esquerdista é incriminado pela morte da amante do Inspetor, justamente pelo policial responsável pelas investigações do verdadeiro assassino. O Inspetor assiste ao desenrolar dos fatos, perplexo diante da facilidade com que se usa a impunidade no alto escalão.
O Inspetor foi transferido da Seção de Homicídios para o Gabinete Político. Entre as salas em acesso da população civil no departamento de polícia, por duas vezes se pode ver uma placa azul com a frase, “No Estado Democrático, a polícia está a serviço dos cidadãos.”
Pouco antes, ele havia assassinado Augusta Terzi, sua amante. Ela gostava muito de simular os casos de homicídio que o Inspetor acompanhava em seu trabalho. A festa de troca de cargo foi comemorada com champanhe que o Inspetor roubou da geladeira de Augusta, após tê-la matado.
A partir daí, começa a espalhar amplas evidências de sua culpa na cena do crime e assiste cada vez mais confiante à descoberta delas, sem que ninguém da polícia o interrogue. A instituição prefere acusar o marido de Augusta, que o próprio Inspetor diz que é inocente.
Quando a polícia chega ao apartamento de Augusta e começa a analisar os indícios, um dos policiais diz que o assassino é um cretino e o Inspetor também concorda e repete “um cretino”.
Em flashback, Augusta e o Inspetor simulavam situações onde ele a interroga, como se ela estivesse presa, desempenhando o papel de pai substituto. Quando explica para Augusta que a polícia atua sobre os sentimentos de culpa dos cidadãos, que se tornam crianças quando confrontados com o Estado, ela diz que dos homens que conheceu, ele é o mais parecido com uma criança. O inspetor se irrita. Antônio Pace, o rapaz que o viu sair do prédio, é preso como agitador político de esquerda e ameaçado pelo Inspetor – até porque Augusta queria se separar dele e justificou, chamando-o de sexualmente incompetente e dizendo que Pace, o vizinho do andar de cima, era seu novo amante.
Durante o interrogatório, a coisa foge ao controle do policial, quando Pace demonstra saber que o encarregado da repressão de Estado é um assassino, e ameaça denunciá-lo.
Depois da discussão com Pace, o Inspetor (que seus pares chamam de doutor e a amante chamava de comissário) se entrega a um de seus subordinados através de uma carta onde confessa a autoria do assassinato de Augusta.
Em seguida, se fecha em sua residência, até ser acordado em sua cama por um colega, que o avisa da presença de figurões, que o esperam na sala. O Inspetor insiste em declarar-se culpado, apresentando uma após a outra as provas que o incriminam. Reiteradamente, o grupo de senhores nega a existência de provas, como por exemplo, no caso do fio de sua gravata que ele colocou na unha da vítima. Quando lhe pedem a gravata, ele diz que a destruiu porque ficou em dúvida entre confessar ou utilizar seu poder para encobrir o fato.
O Inspetor falou de uma doença contraída por aqueles que fazem uso permanente e prolongado do poder: “uma doença profissional, disse ele, comum a muitas personalidades que tem nas mãos as rédeas da nossa pequena sociedade.”
Ridicularizado e agredido, o Inspetor termina concordando com a versão dos fatos de acordo com os colegas, e brinda o seu retorno ao rebanho, com uma frase lapidar:
“CONFESSO MINHA INOCÊNCIA.”
Todos se retiram.
A história termina com a citação da frase de Franz Kafka em O Processo (1925, capítulo 9):
“Não importa a impressão que nos dê, ele é um servidor da Lei, portanto pertence à Lei e escapa ao juízo humano”.