Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho sexta, 07 de junho de 2024

*INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA* (CRÔNICA DA COLUNISTA MADRE SUERIORRA VIOLANTE PIMENTEL)

 

“INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA”

Violante Pimentel

Este é o título de um clássico do cinema italiano, dos anos 70, “relativamente esquecido, mas terrivelmente atual.”

Elenco: Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Massimo Foschi

A trama mostra a dificuldade que tem as instituições competentes, na hora de proceder inquéritos, que envolvam figuras importantes do meio político.

Trata-se de um filme italiano, de 1970, dirigido por Elio Petri e escrito por Elio Petri e Ugo Pirro.

 

Em um momento de perturbação política interna na Itália, um Inspetor do alto escalão da polícia italiana, com reputação ilibada, fama de incorruptível, mas reacionário, recebe a tarefa de reprimir os dissidentes políticos. Dentre eles está sua amante Augusta Terzi (Florinda Bolkan), que é por ele assassinada, por motivos outros.

Ele começa a testar os limites da polícia, vendo se irá ser acusado pelo crime. Assim, começa a plantar pistas óbvias que o identificam como o assassino da mulher, e vê seus colegas ignorando-as, seja intencionalmente ou não. Nenhum colega seu acredita que seja ele o assassino. E desviam o curso das investigações.

O filme é levemente baseado em Crime e Castigo, de Dostoiévski e aborda o abuso e corrupção do poder e da moral.

Uma denúncia nua e crua do que acontece e permanece chocante até hoje.

A opinião pública, nem de longe admite que o Inspetor seja o assassino da amante, mesmo com indícios plantados por ele próprio. Ele atravessa o inquérito incólume.

Enquanto isso, um jovem esquerdista é incriminado pela morte da amante do Inspetor, justamente pelo policial responsável pelas investigações do verdadeiro assassino. O Inspetor assiste ao desenrolar dos fatos, perplexo diante da facilidade com que se usa a impunidade no alto escalão.

O Inspetor foi transferido da Seção de Homicídios para o Gabinete Político. Entre as salas em acesso da população civil no departamento de polícia, por duas vezes se pode ver uma placa azul com a frase, “No Estado Democrático, a polícia está a serviço dos cidadãos.”

Pouco antes, ele havia assassinado Augusta Terzi, sua amante. Ela gostava muito de simular os casos de homicídio que o Inspetor acompanhava em seu trabalho. A festa de troca de cargo foi comemorada com champanhe que o Inspetor roubou da geladeira de Augusta, após tê-la matado.

A partir daí, começa a espalhar amplas evidências de sua culpa na cena do crime e assiste cada vez mais confiante à descoberta delas, sem que ninguém da polícia o interrogue. A instituição prefere acusar o marido de Augusta, que o próprio Inspetor diz que é inocente.

Quando a polícia chega ao apartamento de Augusta e começa a analisar os indícios, um dos policiais diz que o assassino é um cretino e o Inspetor também concorda e repete “um cretino”.

Em flashback, Augusta e o Inspetor simulavam situações onde ele a interroga, como se ela estivesse presa, desempenhando o papel de pai substituto. Quando explica para Augusta que a polícia atua sobre os sentimentos de culpa dos cidadãos, que se tornam crianças quando confrontados com o Estado, ela diz que dos homens que conheceu, ele é o mais parecido com uma criança. O inspetor se irrita. Antônio Pace, o rapaz que o viu sair do prédio, é preso como agitador político de esquerda e ameaçado pelo Inspetor – até porque Augusta queria se separar dele e justificou, chamando-o de sexualmente incompetente e dizendo que Pace, o vizinho do andar de cima, era seu novo amante.

Durante o interrogatório, a coisa foge ao controle do policial, quando Pace demonstra saber que o encarregado da repressão de Estado é um assassino, e ameaça denunciá-lo.

Depois da discussão com Pace, o Inspetor (que seus pares chamam de doutor e a amante chamava de comissário) se entrega a um de seus subordinados através de uma carta onde confessa a autoria do assassinato de Augusta.

Em seguida, se fecha em sua residência, até ser acordado em sua cama por um colega, que o avisa da presença de figurões, que o esperam na sala. O Inspetor insiste em declarar-se culpado, apresentando uma após a outra as provas que o incriminam. Reiteradamente, o grupo de senhores nega a existência de provas, como por exemplo, no caso do fio de sua gravata que ele colocou na unha da vítima. Quando lhe pedem a gravata, ele diz que a destruiu porque ficou em dúvida entre confessar ou utilizar seu poder para encobrir o fato.

O Inspetor falou de uma doença contraída por aqueles que fazem uso permanente e prolongado do poder: “uma doença profissional, disse ele, comum a muitas personalidades que tem nas mãos as rédeas da nossa pequena sociedade.”

Ridicularizado e agredido, o Inspetor termina concordando com a versão dos fatos de acordo com os colegas, e brinda o seu retorno ao rebanho, com uma frase lapidar:

“CONFESSO MINHA INOCÊNCIA.”

Todos se retiram.

A história termina com a citação da frase de Franz Kafka em O Processo (1925, capítulo 9):

“Não importa a impressão que nos dê, ele é um servidor da Lei, portanto pertence à Lei e escapa ao juízo humano”.


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