Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

DIB terça, 22 de novembro de 2016

INUSITADO GANHA-PÃO

INUSITADO GANHA-PÃO

A. C. DIB

 

                   O causo se passa no interior piauiense, no início do Século XX. Por pudor – e por cautela, eis que o povo lá é bravo – julgamos de boa prudência omitir nomes.

                   Notório coronel da região, influente chefe político e senhor de muitas terras e homens, padecia, há muito, de estranho mal, caracterizado por vertigens, enjoos estomacais, anemia, apatia e calafrios. Queixava-se, ainda, de ouvir pequenos estalos e estranhos zumbidos.

                   Para sua sorte, o coronel contava com prestimoso médico, que o acompanhava quase que diariamente. Noites de sono bem dormidas, boa e saudável alimentação, passeios matinais, boas leituras, pescarias e ligeiras cavalgadas, em lombo de cavalo manso, enfim, o tratamento prescrito pelo devotado discípulo de Hipócrates era o mais prazeroso possível.

                   Praticamente, em todos os dias da semana – respeitado o sagrado descanso dominical, quebrado, apenas, nos casos de emergências −, seguia o bom doutor, montado em sua robusta mula, rumo à fazenda de seu mais ilustre e importante paciente, prestando-lhe o atendimento domiciliar.

                   De fato, no interior, a gente humilde local costumava pagar pelas consultas e diligências médicas com porco, galinha, carne de caça, peixes e cesta de frutos. E isso quando os honorários médicos não eram pagos com um caloroso abraço, um beija mão e um honesto “Deus lhe pague”.

                   O coronel, no entanto, generoso e agradecido, pagava regiamente a dedicação, a presteza e a respeitável sapiência de seu leal médico. Assim, o tratamento do coronel constituía sua principal fonte de renda. Os parcos caraminguás que recebia dos demais pacientes e consulentes, sozinhos, não fariam frente às suas polpudas despesas, já que mantinha seu filho mais velho na Capital da República, estudando medicina.

                   Passados alguns anos, esse estudante de medicina concluiu o curso, bacharelando-se. Apaixonado e idealista, o garboso e jovem médico fez absoluta questão de voltar à casa paterna, para trabalhar ao lado do pai. Tencionava dedicar e dirigir seus conhecimentos científicos aos mais pobres e necessitados, sonhando aliviar os males e sofrimentos da humanidade.

                   Certa feita, já atuando o jovem ao lado do calejado pai, foram convocados para socorrer, com urgência, o coronel, que enfrentava uma de suas mais agudas crises.

                   Como o pai se achava em povoado próximo, prestando atendimento, seu filho não titubeou: reuniu seus apetrechos, tomou da malinha e seguiu, de imediato, à fazenda do coronel.

                   Prestado o atendimento, o jovem regressou ao lar. Deparou-se, ali, com o pai – que, há pouco, também regressara de sua diligência médica −, ligeiramente tenso e ansioso, buscando, avidamente, notícias do ilustre paciente e da consulta.

                   − Não se preocupe, papai! – disse o rapaz, sorrindo e orgulhoso. − Creio que descobri a fonte de todos os malefícios que afligiam o senhor coronel. Após ouvi-lo e examiná-lo, retirei de seu ouvido um enorme e gordo carrapato. Acredito que, agora, eliminamos, em definitivo, suas tonturas, seus enjoos, seu mal-estar e o irritante zumbido que alegava ouvir.

                   − Pois meu filho – disse o pai, lívido – eliminaste, sim, a nossa fonte de renda! Foi aquele abençoado carrapato que custeou teus estudos na Capital. Oh, meu filho! – disse, desalentado. – O que fizeste? Aquele carrapatinho era o nosso ganha-pão! – suspirou.

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