Aproveitando a oportunidade que me dá o escritor Luiz Berto Filho, autor palmarense do notável O Romance da Besta Fubana, por mim lido e rabiscado mais de duas vezes, já às vésperas de uma nova edição pela Editora Bagaço, Recife, para comentar, abaixo, alguns pontos que dariam um ibope descretinoso nos ambientes políticos brasileiros, principalmente nos brasilienses, às vésperas de uma renovação, creia Deus quase integral, nas próximas eleições, com urnas eletrônicas desacreditadas por incultos nada civilizados, embora integralmente isentas de defeitos e incorreções tecnológicas, segundo o eminente Procurador Geral da República Augusto Aras, um nítido conservador culto.
2. Deveras preocupante o atual nível mediocrizante da comunicação nacional em praticamente todas as áreas, salvo algumas honrosas exceções, escritas, faladas e televisionadas. Parece até que o expressivo avanço da tecnologia utilizada no Brasil “escondeu” a criatividade de muitos, acovardando-os mentalmente, deixando-os sem eira nem beira imaginativa, como se não estivéssemos num século, o XXI, que está a exigir um cada vez maior senso crítico dos seus atores e autores. De uma necessária transitividade crítica, a la Paulo Freire, observa-se uma crescente transitividade regressiva, quase debilóide porque recheada de um já-fui-bom-nisso sensaborão, para não dizer ridicularmente desapropriado para o momento histórico.
3. Alguns milagres saltam aos olhos, resguardando-se a identidade dos santos, como manda um dos mandamentos da boa educação. Qualquer pessoa de senso de equilíbrio mínimo percebe, por exemplo, como estão desrespeitando os velhos logo numa época em que a CNBB os reverencia em campanhas várias. Ora é um debilóide que prefere um copo de cerveja, mesmo que deixando a avó no ora-veja, depois de uma caminhada de muita dificuldade. Ora é uma moçoila de telenovela, metida a furico de satanás, que praticamente amaldiçoa os avós que sob um mesmo teto seu habitam, vez por outra sendo roubados, sem a menor cerimônia, pela inscrita no putal da vida terrestre.
4. Como é ridícula a demagógica proposta de cotas para não-brancos nas universidades, diferentemente da sadia instituição de percentagem de ingresso nas universidades dos oriundos das escolas públicas! Razão plena tem a jornalista pernambucana Marilene Felinto, agora colaboradora de revista sulista, quando declarou recentemente: “eu mesma teria arrastado para sempre um complexo de inferioridade atroz se tivesse entrado na USP, a melhor universidade pública da América do Sul, pelo critério de cor da minha pele de mulata”. A demagogia populista, além de não entender bulhufas de abolicionismo social, desastradamente amplia a discriminação contra os não-brancos, nossos irmãos, também filhos amados da Criação.
5. Considero merda em fatia a capacidade de alguém de se desconstruir publicamente para melhor se locupletar das benesses do poder atual, jogando na rua da amargura seus passados, suas caminhadas, suas angústias e suas reflexões. Tudo atulhado num gavetão recheado de ontens não mais lembrados, em nome de um comportamento puxasaquístico, típico dos desescrupulosos. Reconheço que a reforma mais necessária para uma efetiva governabilidade brasileira seria uma ampla reforma política, sem a qual resvalaremos para cenários pouco consistentes, abismais por derradeiro.
6. Outro dia meu nível de indignação se ampliou, quando vi a propaganda de uma determinada marca de automóvel, onde duas crianças solicitavam aos pais uma paradinha fora da entrada da escola porque tinham um carro menos tampa-de-foguete, como se a esmagadora maioria das crianças brasileiras não ficassem rindo à toa ao verem os seus pais possuírem um carrinho, fosse ele de que ano fosse.
7. Receio que determinadas “explicitações comunicacionais” estejam favorecendo construções de cenários pouco democráticos, discriminatórios, como se uma tecnologia ultrasofisticada não tivesse como contraponto o fato humilhante para todos nós: apenas África do Sul e Malaui possuem um grau de desigualdade de renda maior do que o do Brasil.
8. Nos ainda umbrais de um novo século, num contexto impregnado de muito ceticismo, onde se diluem o mito do Estado todo poderoso e o mito do mercado como catapulta do progresso infindo, ampliam-se os anseios por uma ativa e altiva ação comunitária, nunca subordinada às tiranias plutocráticas. E putinocráticas também.
9. A hora brasileira é a da sociedade civil. Sem medo e sem ódio, como dizia Marcos Freire, um talento pernambucano que fez história num partido que, à época, não bajulava o poder, muito pelo contrário.
10. Sejamos sempre arretadamente brasileiros, jamais penicos planetários, descuecados e incultos, ansiosos por um “oi” de poderosos bem mais cagões.
PS. Ser lulista, bolsonarista, cirista ou simonetebista é uma opção de cada eleitor, direito inalienável de escolha nas eleições. Sempre com racionalidade, nunca submetido a diretrizes eivadas de ódio e fanatismo.