RIO - Um sopro de música vem arrebatando os cariocas. Trompetes, trombones, saxofones e tubas, outrora instrumentos “de poucos amigos”, agora arrastam multidões em blocos de carnaval, festivais de fanfarras e festas — e conquistam o coração e a dedicação de quem nunca tinha pensado em tocar nem caixa de fósforo. Gente como Ana Melo, de 32 anos, designer que, há um ano e meio, também pode ser chamada de trompetista.
A chegada ao Brasil de instrumentos de sopro vindos da China, que, na internet, são vendidos a R$ 700 (menos de um terço do valor dos nacionais, americanos e europeus), ajudou a popularizá-los no Rio. Mas a “mãe” do fenômeno é mesmo a Orquestra Voadora. Em 2008, amigos que já tocavam juntos no carnaval resolveram se unir em um bloco de música instrumental com ritmos que iam além das marchinhas.
— Queríamos tocar em qualquer lugar, sem precisar de amplificação, nos movimentando no meio do público — conta o saxofonista André Ramos, um dos fundadores da Orquestra Voadora.
O primeiro cortejo da trupe no carnaval, em 2009, reuniu 4 mil foliões nos jardins do Museu de Arte Moderna (MAM), no Parque do Flamengo. O de 2010 atraiu 15 mil. A reboque do sucesso da iniciativa, foram surgindo outros blocos e bandas de fanfarra, como Amigos da Onça, Damas de Ferro e Fanfarra Black Clube. O boom foi tamanho que, este ano, o desfile da Orquestra Voadora arrastou 100 mil pessoas pela pista do Aterro ao som dos 13 instrumentistas do grupo, além de outros 400 que se incorporam informalmente durante a folia. Boa parte é formada na oficina criada por eles em 2013, a pedido dos próprios foliões.
— A galera que viajava no carnaval começou a ficar no Rio, e muitos não se interessavam mais por participar dos blocos apenas como foliões. Queriam tocar também — observa o percussionista Marcelo Azevedo, da Orquestra Voadora e da TechnoBrass.
JAZZ COM FOLIA
Formada por sete músicos da cena jazz e do carnaval alternativo do Rio, a banda TechnoBrass aumenta essa onda. O grupo pilota uma festa de mesmo nome que mistura instrumentos de sopro com o batidão da música eletrônica. Virou um hit da noite carioca.
— Adoro música eletrônica e aprendi a gostar de fanfarra nas festas. A junção das duas e a presença dos músicos animando a plateia fazem você querer dançar ainda mais — diz a publicitária Julia Vasconcelos, que foi às duas primeiras edições do evento e já se prepara para a próxima, no dia 7 de dezembro, em lugar da Zona Portuária ainda não revelado.
Outra festa de estilo parecido é a Manie Dansante, nome inspirado no fenômeno europeu “dancing mania”, ocorrido entre os séculos XIV e XVII, em que grupos de pessoas dançavam até a exaustão. Na pista, predomina o electroswing, mescla da música eletrônica com o swing jazz, tocado por DJs, um trompetista e um saxofonista.