RIO - Foi um caso de amor à primeira vista — e audição. O disco de 78 rotações chegou ao Brasil em 1901, e seu processo de produção, gravado em cera, adaptou-se como uma luva ao calor tupiniquim. Para completar, os músicos locais logo tomaram gosto pela coisa: em 6 meses, 300 gravações foram feitas, e a primeira foi lançada no ano seguinte. Cinco décadas da história fonográfica brasileira estão registradas em cerca de 35 mil disquinhos pequenos, em geral com uma música de cada lado. Nos anos 1950, começou a decadência do formato, que tinha como matéria-prima a goma-laca, pesada e frágil. O LP — um pouco maior, gravado em fita magnética, com 33 rotações por minutos, e feito em vinil, material mais leve e resistente — passou a reinar. As matrizes do antigo rei em muitos casos viraram sucata, vendidas como ferro-velho por ter prata em sua composição. Por isso, o recém-lançado Discografia Brasileira, site do Instituto Moreira Salles (IMS) que reúne significativa parte da produção daquela fase, com 46 mil arquivos de áudio, merece atenção.
Estão lá o disco pioneiro lançado no país (“Isto é bom”, de Xisto Bahia, cantado por Bahiano em 1902), o primeiro samba de sucesso (“Pelo telefone”, de Donga, em duas gravações de 1917, uma instrumental e outra cantada), o disco pioneiro do sistema elétrico de gravação (com “Passarinho do má” e “Albertina”, por Francisco Alves, em 1927), o início da era do baião (“Baião”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, com Quatro Ases e Um Coringa, em 1946), o primeiro rock brasileiro gravado (“Rock n’ roll em Copacabana”, por Cauby Peixoto, em 1957) e o início da bossa nova (com “Chega de saudade”, de João Gilberto, em 1958).