18 de dezembro de 2019 | 03h00
Jair Bolsonaro termina 2019 com recorde de impopularidade para um presidente em primeiro ano de mandato, mas também como favorito para as eleições de 2022.
Trata-se do presidente com a menor base parlamentar desde a redemocratização. Por isso, recordista em vetos derrubados, medidas provisórias caducadas e decretos derrotados. Mas também, apesar disso, o único que conseguiu aprovar uma reforma da Previdência em dez meses.
Ao mesmo tempo que aumenta a rejeição graças a uma série de posturas, ações e declarações voltadas contra minorias, chefes de Estados de outros países, a esquerda e quem mais chegar, o presidente fideliza um clube de convertidos graças justamente a essas mesmas razões.
Para se entender o que foi o primeiro ano de Bolsonaro e tentar projetar o que serão os próximos, bem como o cenário de 2022, é preciso aceitar que, da mesma forma que sua vitória foi algo que contrariou os compêndios de como se vencia uma eleição até aqui, sua Presidência também não será analisada no futuro com base nas premissas anteriores, cada vez menos aplicáveis para entendê-lo e prever quais serão os resultados que vai entregar.
Por ora, a única variável constante, que valeu para os governos anteriores e vai se mostrando poderosa para ele também, é o desempenho da economia. Mesmo que devagar, quase parando, a recuperação dos indicadores, da confiança no Brasil e na capacidade do governo de propor reformas vai criando uma avenida em que a caravana do bolsonarismo avança, a despeito de suas alas claramente autoritárias, incompetentes, folclóricas ou todas as alternativas anteriores.
O ano acaba com o time do Planalto tendo experimentado todas as posições e sem que nenhuma funcionasse. Onde está Onyx Lorenzoni, que tomou chá de sumiço nos últimos meses? O general Luiz Ramos é um poço de simpatia, empenho e boa vontade, os parlamentares o consideram gente boa, mas não acreditam que ele resolva os problemas mais sérios. Na reta final do ano, é o ex-subchefe de Assuntos Jurídicos, promovido a secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira, quem está dando pitacos na articulação política.
Ainda assim, os projetos avançam, graças a uma circunstância em que Câmara e Senado elegeram agendas próprias e querem dar visibilidade a elas. Ontem os deputados concluíram, com atraso de alguns meses, a votação do novo marco do saneamento, abrindo o setor à iniciativa privada. Mais um caso em que os ventos da economia enfunam as velas do bolsonarismo, como também é o caso do boom das exportações, da boa vontade das agências de risco e de outras notícias benfazejas da economia.
Errarão os opositores e críticos do presidente, portanto, se forem analisar só seus números carrancudos nas pesquisas e imaginar que será fácil batê-lo no voto – eletrônico ou impresso, já que fora da economia vivemos uma regressão diária e embaraçosa.
Bolsonaro pode se beneficiar, além de todos os paradoxos aqui enunciados, da repetição do filme ruim de 2018, quando se viu frente a frente com o dragão da maldade do petismo e foi alçado à condição de santo guerreiro por uma narrativa bem construída.
O centro termina o ano com uma profusão de pré-candidatos inversamente proporcional à de projetos e estratégias. Na esquerda, Lula parecia que ia sair causando barulho, mas parece viver o choque de realidade de que não é mais sombra do que já foi. Ainda assim, se precisar arruinar as chances de qualquer candidato de seu campo só para que ele e o PT não percam a hegemonia, o fará, sob aplausos dos teleguiados de sempre.
Nesse cenário, Bolsonaro terá razão se der de ombros para as pesquisas e virar o ano pulando ondinha e fazendo gesto de arminha com a mão.