A reboque das comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, uma série de hotéis na cidade ganhou forma. O Rio buscava se mostrar moderno para o mundo e sediava a primeira exposição internacional do pós-guerra. A poucos metros do Museu da República, um desses estabelecimentos segue firme e forte: trata-se do Hotel Regina, na Rua Ferreira Viana 29, em funcionamento desde o dia 3 de setembro de 1922, data da sua inauguração.
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A fachada, em rosa claro, é preservada pelo município. E, por dentro, nada de cheiro de mofo: a hospedagem centenária, uma das mais antigas do Rio, passou por uma modernização no começo dos anos 2000, ganhando no terraço um pequeno spa, já de olho nos grandes eventos que a cidade sediaria. Dos seus primórdios, restou apenas uma bonita penteadeira.
De padrão três estrelas, o hotel abrigou em seus tempos áureos, quando era vizinho do poder, o Palácio do Catete, nomes ilustres como o de Juscelino Kubitschek. Além de receber muitos políticos, era palco de bailes de carnaval. Fora da folia, contava com um restaurante onde uma orquestra tocava diariamente. Como mostram anúncios publicados em jornais da época, no primeiro e no terceiro domingo de cada mês recebia famílias cariocas para um “dinner concert”.
De acordo com o sócio José Caamaño, vice-presidente do sindicato Hotéis Rio, o Regina é o segundo hotel mais antigo da capital em atividade. O lugar, com sete andares e 117 apartamentos, só perde para o Riazor, em frente ao Museu da República, no Catete, que também é propriedade de Caamaño e data do século XIX.
— O Regina é contemporâneo do Palácio do Catete, que sediava o governo federal, e entre as décadas de 20 e 40 hospedava muitos políticos. JK foi um dos mais conhecidos, e ficou no Regina quando ainda era deputado — afirma Caamaño, sócio há 25 anos do hotel com Magali Villar (herdeira de outro patrimônio carioca, o Cervantes).
Ele conta que, décadas depois, seria a vez do Regina receber um chefe de estado:
— Na Rio+20 (em 2012), quem ficou no nosso hotel foi o Raul Castro, então presidente de Cuba. Houve um pedido do governo federal para que todos os hotéis do Rio recebessem delegações. Ficamos envaidecidos e trabalhamos muito durante a sua estadia. Fiz amizade com a segurança do presidente e dei a ele um presente: a camisa do Flamengo.
Recuperação gradual
Hoje a ocupação média do Regina, que não parou nem na pandemia, gira em torno de 70%. Aos poucos, o negócio recupera os turistas corporativos, que sempre foram o seu forte. A diária varia entre R$ 230 e R$ 400, dependendo da data. Os melhores apartamentos têm sacada com vista para a Praia do Flamengo. Uma tradição é a hospedagem de atletas: no começo do XX, eram os remadores e pugilistas; hoje, são jogadores de vôlei e de futebol. O técnico de vôlei Bernardinho já passou noites no Regina. No começo do mês, o time sub-17 do Bahia descansava lá da partida contra o Botafogo: os visitantes ganharam por 2 a 1. No total, eram 30 profissionais do clube hospedados.
— Nem parece que o hotel tem cem anos — comenta Edson Oliva, supervisor do Bahia, e que já se hospedou outras vezes, inclusive com o time feminino do clube. —Aqui fica bem localizado e tem a questão do atendimento e da alimentação adequados para quem vem com grupos de dezenas de pessoas. Há atenção aos detalhes.
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O funcionário mais antigo é o gerente Antonio Estevez, de 72 anos, que chegou bem antes da última modernização:
— Não tínhamos garagem, nem sauna e hidromassagem. E passamos a contar com cinco salões de eventos — diz ele, espanhol da região da Galícia, assim como os pais de Caamaño. — Recebemos muitos hóspedes a trabalho de todos os estados do Brasil.
Seu concorrente mais antigo, o Riazor, tem estrutura mais simples. Como é tombado, Caamaño solicita ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional (Iphan) o aval para uma reforma de melhorias: um dos objetivos é colocar sistema de ar-condicionado nos apartamentos de frente e laterais.
Registro de 1870
Na fachada, a data gravada é 1891. Mas, o proprietário encontrou o registro de uma pessoa que se hospedou no endereço em 1870. Originalmente, chamava-se Pensão Schray. Na década de 1960, foi modificado e virou Monte Blanco. O nome Riazor ganhou a fachada em 2001, quando o empresário, filho de espanhóis assumiu o local. Apaixonado por futebol, Caamaño se inspirou no estádio do Deportivo La Coruña, pelo qual jogou o craque brasileiro Bebeto, de quem é fã. Além disso, o La Coruña é o time de seus pais na Espanha.
— O Riazor é a mais bela propriedade histórica do Catete depois do Museu da República — diz o dono.
Perto dali, o Hotel Glória teria completado cem anos em agosto. Outro ícone, o Copacabana Palace, festejará seu centenário em 2023.