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Prédio foi vendido em leilão: má gestão levou à concordata, em 1991
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Arrematado por R$ 93 milhões, o Hotel Nacional de Brasília, um dos símbolos da arquitetura e da história da capital, será reformado e modernizado, mas sem perder as características principais. É isso que garante a Incorp, empresa de incorporação e imobiliária que comprou o prédio. “Ele será adaptado de maneira moderna, mas sem alterar a arquitetura”, assegura o advogado da companhia, Saulo Mesquita.
A Incorp representa dois grupos responsáveis pelo comando de 10 hotéis na capital, o Fenícia e a construtora Luner (dona do Quality Hotel). “Como são dois grupos com experiência na área, queremos fazer com que o Hotel Nacional volte a ser o ícone que merece”, diz Mesquita.
O advogado explica que o processo de arrematação precisa passar por algumas etapas antes de a propriedade ser integrada ao grupo. “Temos de esperar os prazos recursais e a emissão de uma carta de arrematação antes de fazer qualquer coisa em relação ao prédio”, esclarece. Depois, o setor de engenharia do grupo fará o projeto de reforma. “Vamos manter a fachada e o interior. Toda a estrutura será modernizada, porque o local está em estado de decadência”, ressalta o advogado. Ele prevê de um ano a um ano e meio para a conclusão da reforma.
O Hotel Nacional foi a leilão três vezes neste ano, por meio do site Mega Leilões. Na primeira tentativa, em 29 de outubro, o lance inicial era de R$ 185 milhões. Após duas semanas sem propostas, o preço mínimo para arrematar o hotel baixou para R$ 130 milhões, em 12 de novembro. Ele continuou sem receber nenhum lance. Em 27 de novembro, o valor de caiu para R$ 93 milhões.
Antes de o certame ser encerrado, a Incorp I Empreendimentos Imobiliários Ltda., com sede em Brasília, fez a oferta de R$ 93 milhões. Ela se comprometeu em pagar o valor de forma parcelada, que deve ser quitado por completo em junho de 2021.
Tombamento
O Hotel Nacional não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), apesar de estar inserido no conjunto urbanístico de Brasília — este, por sua vez, tombado como patrimônio nacional e distrital. O novo dono da edificação teria a liberdade de, por exemplo, demolir a estrutura, desde que respeitasse a volumetria dos edifícios. A Incorp garante que isso não será feito. O Iphan pode ajudar nos estudos para a reforma. “O Iphan se coloca à disposição para orientar e contribuir na qualificação de qualquer projeto de intervenção do prédio, ressaltando que se deve sempre cumprir as regras de tombamento”, informou o instituto, por meio de nota.
A arquiteta e urbanista Emília Stenzel alerta que qualquer intervenção no Hotel Nacional requer cuidados. “Tanto do ponto de visto econômico quanto cultural, é um dos prédios mais marcantes da história de Brasília, mesmo que não esteja formalmente tombado. É um ícone da arquitetura moderna brasiliense”, comentou.
A reportagem tentou entrar em contato com os atuais donos do Hotel Nacional, mas nenhum concedeu entrevista. A notícia do leilão preocupa os funcionários do estabelecimento. “Não sabemos se quem vai entrar dará continuidade ao que é feito atualmente. Tenho medo de que mude tudo. Estamos apreensivos”, disse um funcionário do prédio, que não quis se identificar. Há oito anos trabalhando no hotel, ele teme a perda do emprego. “Venho de Sobradinho todos os dias. São mais de 40 quilômetros. É aqui que ganho a vida e consigo o sustento para a mulher e meus quatro filhos. Se me tirarem isso, não sei o que fazer”, contou.