RIO - Só de lobby, são 3 mil metros quadrados. Junto à decoração clean, figuram obras de arte originais, como o painel de 300 blocos esculpidos pelo artista Carybé. Mas, nesse espaço grandioso do Hotel Nacional , cujo piso cor de areia dá a ideia de extensão da praia, o vaivém é quase todo de funcionários. Do lado de fora, o tempo chuvoso dos últimos dias também não ajuda: a Piscina da Sereia — uma escultura de Alfredo Ceschiatti voltada para o mar de São Conrado — parece mais de enfeite. É que o icônico hotel em cilindro assinado por Oscar Niemeyer , depois de 21 anos fechado e de uma reabertura “relâmpago” entre o final de 2016 e o início de 2018, voltou às atividades há menos de dois meses.
E volta com um desafio à altura: o gigante de 33 andares e 413 apartamentos quer inovar para atrair, em meio à crise, turistas e também cariocas, com a ideia de resort urbano. A filosofia do hotel, que já foi um símbolo de luxo, é passar a ser visto como um espaço “divertido” para famílias e integrado ao bairro. Um plano já está no papel: abrir os jardins de Burle Marx, com suas espreguiçadeiras, para a população.
— Queremos criar um acesso para os jardins que não interfira na privacidade do hóspede e que seja prático aos moradores do bairro. Nossa intenção é que ali seja uma praça, com shows, feiras, entretenimento. Estamos trabalhando para isso com foco no verão — diz Alexandre Zubaran, diretor do grupo brasileiro WAM Hotéis, responsável pela operação do Nacional.
Há um projeto para esse acesso, mas falta levá-lo aos órgãos competentes (o hotel é tombado pelo município).
— O hotel só vai prosperar se o transformarmos num negócio divertido para crianças, adolescentes e adultos. Hoje, ele é só um hotel lindo e maravilhoso — diz Zubaran. — A gente quer que as pessoas curtam a praia, uma balada, a gastronomia. Não temos que ocupar camas para ganhar dinheiro. Para ter sucesso, precisamos transformar aquele quarteirão, transformar o bairro.
A aposta é alta e arriscada. O Hotel Nacional, inaugurado em 1972, renasce remando contra a maré do setor, muito dependente de eventos. As tarifas contrastam com o cenário cinco estrelas: um casal, dependendo do dia, consegue se hospedar hoje desembolsando menos de R$ 450, com café da manhã e taxas incluídos e podendo dividir em dez vezes. O hotel ainda dá cortesia para duas crianças. Para quem se interessou, fica a dica dos quartos com banheira de frente para o mar.
Um dia de relax
Quando o empreendimento voltou à cena em 2016, a diária mais barata custava R$ 745. Dos 413 apartamentos, 112 seguem em reforma, mas deverão ficar prontos até o réveillon. Há outros projetos saindo do forno. Um deles é instalar no rooftop, hoje fechado, um bar até as férias de julho. Outro é movimentar a praia em frente. O hotel pensa até em contar com um quiosque na orla, o que depende de negociações. Já o centro de convenções está passando por obras estruturais, e ainda não tem data para reabrir.
Enquanto a praça de Burle Marx não é aberta, há outras formas de os cariocas desfrutarem do hotel. Uma delas é com o day use, que dá direito a mergulhos na piscina, uso das saunas, da academia e de um apartamento (sem pernoite). Sai a R$ 295. Fora isso, o spa já pode ser aproveitado por não hóspedes. Um banho aromático de 30 minutos dentro de uma jacuzzi custa R$ 68. Já a “experiência casal”, de duas horas, que alia banho de jacuzzi com cristais de sais marinhos e óleos essenciais e massagem com pedras quentes, tem preço de R$ 505. Programas que já atraem a vizinhança são a feijoada de sábado no restaurante A Sereia e o brunch de domingo.
No passado, o hotel abrigou o FreeJazz e o FestRio, festival de cinema que contou com nomes como Wim Wenders e Pedro Almodóvar. Michael Jackson, quando ainda era do The Jackson 5, se hospedou com os irmãos lá, assim como Ray Charles, B.B.King, Nina Simone e Liza Minnelli.
Durante o Rock in Rio, o hotel ficou completamente ocupado, mas agora a taxa gira em torno de 30%, o que explica a sensação de vazio.
— Para o nosso tipo de agressividade nas tarifas, é um percentual inaceitável — afirma do diretor do WAM Hotéis, que tem uma meta: chegar até o fim de 2020, quando a cidade sedia o Congresso Mundial de Arquitetos, com uma taxa de 60%.
Setor hoteleiro investe em eventos para combater crise
Este ano, a taxa média de ocupação do setor hoteleiro no Rio (incluindo hostels) está em 60%, sendo que no percentual calculado pela Associação de Hotéis do Rio (ABIH-RJ) ainda não foi incluído o período do Rock in Rio. As festas de fim de ano devem aumentar essa taxa, que já mostra uma recuperação em relação ao ano passado. Em 2018, auge da crise no estado, a média anual ficou em 52%. Alfredo Lopes, presidente da associação, diz que o fundo do poço do setor foi junho do ano passado, quando as diárias chegaram a valer 35% a menos que no período anterior à Olimpíada. Este ano, os preços já estão de 5% a 6% maiores.
—Mais de 60% da ocupação hoje no Rio são formados pelo público de convenções e eventos. Se não tem centro de convenções, fica difícil — avalia Lopes sobre a estratégia do Hotel Nacional. — Turismo de lazer não tem o ano inteiro.
O comando do Nacional pretende transformar o centro de convenções num local de programação para a cidade, com shows e exposições, recuperando a tradição de eventos como o Free Jazz. Sobre a possibilidade de construção de uma torre comercial ou residencial, ideia que gerou polêmica no bairro no passado, a nova direção diz que o assunto ainda não foi analisado.
Em 1995, a empresa que operava o hotel decretou falência. Somente em 2009 ele foi arrematado em leilão, por empresários de Goiás. O hotel, no entanto, só foi reaberto, sob a bandeira Meliá, após os Jogos. Quando as atividades foram encerradas no ano passado, uma das justificativas era a falta do centro de convenções.