RIO — Um prédio fantasma. Para funcionários do Hospital Federal de Bonsucesso, foi essa a transformação sofrida por uma das unidades de saúde de maior importância para o estado do Rio, após deixar de oferecer 28 serviços especializados de média e alta complexidade no prédio 1, para atender exclusivamente casos da Covid-19, por ordem do Ministério da Saúde. Apesar da medida, a unidade tem contribuído com baixa oferta para o sistema de saúde. De 240 leitos existentes — como consta da decisão da Justiça Federal pela destituição da direção por omissão no enfrentamento à pandemia —, neste domingo, apenas 18 pacientes estavam internados com coronavírus e outros 17, na emergência.
— Foi um erro estratégico acabar com o Hospital Federal de Bonsucesso. É uma desgraça. Agora ele não é nem referência em tratamento para Covid-19 nem o hospital que era. Atendemos 35 pessoas hoje (ontem) — avalia o diretor do corpo clínico do hospital, Julio Noronha.
De acordo com funcionários, o coronavírus agravou a situação da unidade. Faltam profissionais para o atendimento da doença — um problema considerado antigo, mas que foi ampliado pelos afastamentos das equipes em razão da Covid-19 — e até respiradores.
— Temos 30 leitos de CTI prontos que não podem ser liberados por problema na planta fixa. Vários departamentos são abastecidos por um único ar-condicionado central, e isso não pode ocorrer no caso do tratamento de uma doença contagiosa. Então, foram montados leitos para internação nas enfermarias, com respiradores. Há outros disponíveis. Mas não tem profissionais. Ainda que o hospital tenha médicos, não são dermatologistas ou oftalmologistas que podem atender os casos que recebemos. Por isso, o anúncio do Hospital de Bonsucesso como unidade de referência no combate ao coronavírus pegou todo mundo de surpresa — conta um enfermeiro.
Em sua decisão, a juíza Carmen Silvia Lima Arruda, da 15ª Vara Federal do Rio de Janeiro, intimou o Ministério da Saúde a destituir a direção do Hospital Federal de Bonsucesso. Segundo o defensor público Daniel Macedo, o prazo para isso é de 24 horas, contadas a partir de hoje. Em audiência realizada na noite da última quinta-feira, a magistrada acusou a diretoria do hospital de omissão no enfrentamento à pandemia, alegando que não houve apresentação de plano de contingência para a situação e nem a compra de equipamentos de proteção e testes de Covid-19 para equipes do hospital.
Julio Noronha afirma que a maioria dos 5 mil funcionários está sem equipamento de proteção individual. Segundo ele, cinco trabalhadores da unidade já morreram. Há preocupação também com o futuro do hospital. Noronha garante que, por falta de concurso, metade da equipe é de Contrato Temporário da União, com vencimento no dia 31 de maio.
Pacientes que eram atendidos na unidade antes da pandemia também sofrem com falta de atendimento. Procurado para falar sobre a situação do Hospital Federal de Bonsucesso, o Ministério da Saúde não se manifestou.