HISTÓRIA DE UNS BEIJOS
Júlio Dinis
Ouvi gabar os beijosDizer deles tanto bemQue me nasceram desejosDe provar alguns também. Esta fruta não é raraMas nem toda tem valorA melhor é muito caraE a barata é sem sabor. Colhi-os dos mais mimososProvei três; mas por meu mal,Ao princípio saborososAmargaram-me afinal. Um colhi eu de uma belaQue era Rosa, sem ser flor,Se tinha espinhos como ela,Dela também tinha a cor. Vi-a a dormir e furtei-lheUm beijo que a acordou.Eu gostei, porém causei-lheTal susto que desmaiou. Logo que a vi sem sentidosFugi sem outro lhe dar,Dois beijos sem ser pedidosNão são coisa para brincar. Porém deste beijo aindaPouco tive que dizer,Pois a tal Rosa, era lindaE tornou a reviver.