Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Literatura de Cordel quarta, 19 de setembro de 2018

HISTÓRIA DA PRINCESA DA PEDRA FINA (FOLHETO DE LEANDRO GOMES DE BARROS)

 

 

HISTÓRIA DA PRINCESA DA PEDRA FINA

Leandro Gomes de Barros

 

 

 

No Reino da Pedra Fina

Havia uma princesa

Misteriosa, encantada

Uma obra da natureza

Com ela duas irmãs

Que eram a flor da beleza.

 

Naquela linda princesa

Só era em que se falava

Nesse lugar também tinha

Um pobre que trabalhava

Com três filhos no roçado

Com isso se sustentava

 

Chamavam-se os três meninos

João, Antonio e José

José que era o caçula

Do tamanho dum bebé

A sua mãe lhe estimava

Nunca deu-lhe um cafuné

 

Disse o marido à mulher:

- vou trabalhar no roçado

os meninos também vão

pra ajudar-me doutro lado

você cá mate um franguinho

apronte-o, leve-o guisado.

 

Estando o velho cansado

Com os filhos a trabalhar

Às duas horas da tarde

Diz ele: - Vou descansar

Meus filhos tenham paciência

Não tarda mamãe chegar.

 

Pegou Antonio a brincar

Fazendo riscos no chão

Dizendo: - Estou com vontade

De comer muito feijão

Misturadinho com bredo

Acho melhor do que pão

 

Aí respondeu João:

- Eu desejava comer

muita banana com casca

até a barriga encher

ambos mandaram José

dar também seu parecer.

 

De modo misterioso

Respondeu o Cazuzinha:

- O que tenho no pensamento

nenhum dos dois adivinha

então será um segredo

ou do rei ou da rainha.

 

Disse José: - Eu descubro

Creio que não me incrimina

Não é pra mim bem vocês

É pra quem Deus determina

Eu queria ver as pernas

Das moças da Pedra Fina

 

- Oh! Atrevido menino!

(respondeu o pai deitado)

e levantou-se dizendo:

- Cachorro, bruto, safado

não respeita as princesas

querer morrer enforcado?

 

Levantou-se o velho irado

Dizendo por este jeito:

- Você ainda acha pouco

os males que me tem feito?

Assim nós todos iremos

Sofrer pelo seu respeito!

 

Aí deu umas lapadas

No seu caçula Zezinho

Nisto foi chegando a velha

Que já vinha no caminho

- Meu velho, pra que fez isto?

Pra que deu no bichinho?

 

- Porque foi muito atrevido

minha velha Umbelina

ele buliu com as pessoas

tão altas que nos domina

desejando ver as pernas

das moças da Pedro Fina.

 

- Se eles souberem disso

nos mandariam chamar

nos metiam na prisão

mandavam a ele matar

eu só dei essas lapadas

para o exemplo ficar.

 

Ai a velha zangou-se

Começou logo a chorar:

- Vamos pra casa meu filho

para seu pai não lhe dar

inda a princesa sabendo

não lhe manda degolar.

 

José sempre se lembrava

Do pai o que tinha feito

Dizendo que a família

Sofria por seu respeito

Saiu vagando no mundo

O qual por Deus foi aceito.

 

Esse inocente menino

Saiu, só levou um pão

Não tinha um vintém no bolso

Só quis do pai o perdão

Da sua cara mãezinha

A sua santa benção.

 

A mãe partida de pena

Abençoou o menino

Vendo o filho tão pequeno

Sair como um peregrino;

- Rogo a Deus como bom pai

que zele por teu destino.

 

O Cazuzinha era novo

Porem era destemido

Já fazia mais de um mês

Que ele tinha saído

Chegou na beira de um rio

Medonho e desconhecido

 

Ficou com bastante medo

No atravessar do rio

Só ouvia urros de fera

No pé dum monte sombrio

Porem tinha pouca água

Por ser tempo de estio

 

Ele atravessou o rio

Quando em terra pisou

Sentiu que estava com sede

Água no chapéu tirou

No chapéu veio uma pedra

Que muito lhe admirou.

 

Era um brilhante encantado

Mas ele não conhecia

Julgando não ter valor

Pouca importância fazia

Depois guardo-o no bolso

E pensou no que fazia.

 

Saiu por ali afora

Quando foi no outro dia

Entrou num grande reinado

Que ele não conhecia

Sem ter um vintém no bolso

Tomou uma hospedaria

 

O rapaz aperreado

Já vendo a hora sofrer

Tirou a pedra do bolso

Começou a oferecer

Dizendo: - Quem quer comprar?

Eu tenho é pra vender.

 

José muito aperreado

Sem jeito com que passar

Deu a pedra a um lojista

Perguntando: - Quando dá?

Respondeu: - É um brilhante

Eu não a posso comprar.

 

- Em todo este reinado

(lhe respondeu o caixeiro)

o senhor vá procurando

até pelo estrangeiro

para comprar esta pedra

bem poucos terão dinheiro.

 

Disse também o lojista?

- Esta jóia é um primor

só quem a pode comprar

é o nosso imperador

só ele terá dinheiro

com que pague o seu valor.

 

O rapaz saiu pra rua

Com a tal pedra na mão

Assim que o rei a viu

Ficou com tanta ambição

Mandou chamar o rapaz

Comprou-a por um milhão.

 

Deu-lhe mais um palácio

E um posto de capitão

Pelo seu merecimento

Todos lhe davam atenção

Era um estrangeiro nobre

Filho de outra nação.

 

Na corte tinha um barbeiro

Que no reinado vivia

Também era conselheiro

Em tudo se intrometia

Disse logo a todo mundo

Que a pedra o rei a possuía.

 

O rei mandou colocar

A pedra em sua coroa

Como era um brilhante

De uma espécie muito boa

Servia de ornamento

Pra sua nobre pessoa.

 

O barbeiro quando viu

Disse muito admirado

- Isso só ficava bem

tendo outra em cada lado

tendo mais uma na frente

fica um rei mais respeitado.

 

Lhe disse o imperador:

- Aonde vou encontrar

outra pedra como esta?

É asneira procurar....

- O moço que lhe vendeu

é quem pode lhe arranjar.

 

- Rei senhor, mande chamar

ele não dirá que tem

lhe mostre pena de morte

veja se a pedra não vem

pois ela não há de tê-la

só rei senhor, mais ninguém.

 

- Sim senhor, está muito bem!

Mandou logo procurar

Dali saiu o barbeiro

Ver se podia encontrar

Quando encontrou foi dizendo:

- Rei senhor manda chamar.

 

Veio o moço e o barbeiro

Para a presença do rei

Lhe disse o imperador:

- sabes pra que te chamei:

porque preciso outra pedra

igual a que te comprei.

 

Disse o rapaz ao rei:

- Outra eu não posso arranjar

ainda eu tenho dinheiro

não tenho aonde comprar

eu achei esta no rio

porém sem nunca esperar.

 

- O senhor vá ver a pedra

me chegue aqui qualquer dia

peça por ela o que quiser

não resgatei a quantia

porém chegando sem ela

morrerá no mesmo dia.

 

Saiu José muito triste

Pensando de qual maneira

Poderia se livrar

Dessa cena traiçoeira

Foi sair no mesmo rio

Aonde achou a primeira.

 

Foi pelo mesmo lugar

Aonde tinha passado

Seguiu pelo rio adentro

Procurando com cuidado

Uma pedra que igualasse

A que ficou no reinado.

 

Ele já estava cansado

De por ali procurar

Bebeu água sem ter sede

Nada de poder encontrar

Desenganado da vida

Pegou sozinho a falar.

 

Dizia ele consigo:

- Eu sei que vou morrer

essa pedra que procuro

é impossível obter

me acabo aqui afogado

não dói gosto ao rei me ver.

 

José pegou a ouvir

Uma coisa que estrondava

Chegando ao pé da serra

Ainda mais intimidava

De repente viu o fogo

Que perto dele brilhava.

 

De repente aquele fogo

Transformou-se num leão

Brigando com uma serpente

Troando que só trovão

Saia fogo dos dentes

De faiscar pelo chão.

 

José nem pode falar

Vendo aquela tempestade

O leão falou com ele

Pedindo por caridade:

- Mata-me esta serpente

que dou-te a felicidade.

 

Respondeu sem ter maldade

A serpente: - Criatura

Mata o leão que dou-te

O que tu andas à procura

Depois te farei feliz

Que sou uma virgem pura.

 

Ele atirou no leão

Aquela fera valente

Com um tiro muito certeiro

Morrei instantaneamente

Morto que fosse o leão

Desencantava a serpente.

 

Era uma moça encantada

Uma excelente menina

A origem do encanto

Foi para cumprir a sina

Era essa a tal princesa

Do reino da Pedra Fina.

 

Ele com ela abismou-se

Somente pela beleza

Perguntou-se: - Quem sois vós?

Disse ela: - A princesa do

Reino da Pedra Fina

Que venho em tua defesa.

 

Dali saiu a princesa

Com José acompanhando

Desceram de rio abaixo

Ambos juntos conversando

No lugar que procurava

Ela parou lhe falando:

 

- Se teu ferro está cortando

anda cá, vem me ferir

corta este dedo ao meio;

mas ele não quis ouvir

disse ela: - Corta logo

que o sangue vem te servir.

 

José sem querer cortar

Julgando ser uma asneira

Mas quando cortou-lhe o dedo

Corria sangue em biqueira

Do sangue saíram duas pedras

Do formato da primeira.

 

Disse ela: - Está ao

O que você procurava

Esteve aqui há pouco

Procurando e não achava

Porque estava brigando

E o leão me arranhava.

 

Daí foram para casa

Que o rei tinha lhe dado

Ia em companhia dela

Porem muito embelezado

Pela sua formosura

Esqueceu-se do mandado.

 

Passando mais alguns dias

A princesa lhe falava:

- José, vai levar a pedra;

o rei a tempo esperava

José respondeu a ela:

- Eu disso nem me lembrava.

 

Ele aí pegou a pedra

Foi levar ao rei senhor

Que gratificou a ele

Com dois tantos do valor

E lhe fez mais um presente

De um titulo superior.

 

O rei disse ainda a ele

(quando entregou-lhe o dinheiro)

- Como eu te considero

inda mais que um conselheiro

vou mandar-te fazer a barba

pelo meu próprio barbeiro.

 

No palácio de José

Quando o barbeiro chegou

Entrou respeitosamente

Dizendo o cumprimentou:

- Vim fazer a vossa barba

que o monarca mandou.

 

Estava fazendo a barba

Quando a princesa sorriu

O barbeiro admirou-se

Da formosura que viu

Assim que findou a barba

No mesmo instante saiu.

 

Quando chegou no palácio

Foi dizendo: - Rei senhor

Agora vi uma moça

Mais linda que uma flor

Na casa do coronel:

Pra mim tem todo valor!

 

- Rei meu senhor, se apronte

não perca esta ocasião

vá lá no palácio dele

e preste bem atenção

pois a moça que vi lá

faz render um coração.

 

O rei mandou vir um carro

E perguntou: - Como é?

Você me diz essas coisas

Porem eu não tenho fé;

À tarde foi passear

Onde morava José.

 

Passando o carro por baixo

Avistou logo a princesa

Debruçada na janela

Em traje de camponesa

Deu um ataque e caiu

Quando viu a boniteza.

 

Ai pegaram o rei

Pensando que ele morria

Deram-lhe medicamento

Porem ele nem bebia

Levaram ele pra corte

Foi tornar no outro dia.

 

No outro dia o barbeiro

Foi ao rei aconselhar

Dizendo: - Não desanime

Eu tenho jeito pra dar

Tenha mais perseverança

Que sempre vem a gozar.

 

Disse o barbeiro ao rei:

O moço, seu coronel

Talvez com essa invenção

Nos caia a sopa no mel

Mande ele no reinado

Das laranjas de Babel.

 

- Diga que a sua esposa

desejou muito comer

uma laranja de lá

para o filho não perder

está grávida há seis meses

vive em tempo de morrer.

 

O rei tomou o conselho

Mandou logo chamar

Por esse mesmo barbeiro

Que o recado foi dar

Disse a José: - Apareça

Que o rei quer lhe falar.

 

- Uma laranja mimosa

quero que vá me buscar

no Reino das Laranjeiras

pra em dez dias chegar

se não fizer o que digo

eu lhe mando degolar.

 

O pobre banhado em pranto

Chorando em casa chegou

A princesa comovida

Depressa lhe perguntou:

- O que foi, José?

- Foi o rei que me mandou....

 

- O rei disse que fosse

uma laranja buscar

no Reino das Laranjeiras

como é que posso acertar?

Se não chegar em dez dias

Ele manda me matar.

 

- Não tenhas medo, José

descansa para jantar

enquanto eu existir

algum remédio hei de dar

vou te arranjar um cavalo

que ti possas viajar.

 

Pega ela a ensinar

Como devia fazer

Dizendo: - Pelas três horas

Você irá receber

De um moleque um cavalo

Que vem lhe oferecer.

 

Ele compreendeu tudo

Foi para o ponto esperar

Com pouco viu um moleque

Em um cavalo a saltar

Muito gordo e bem selado

Capaz dum homem montar.

 

Dizendo: - Quem quer comprar

Por cinco contos de réis

Um cavalo muito gordo

Calçado de mãos e pés?

Disse José: - Compro eu

Tu pedes cinco eu dou dez.

 

Ele pagou ao moleque

Aquela grande quantia

Porem todo privilégio

O cavalo possuía

O mesmo estava arreado

Da forma que ele queria.

 

A princesa chamou ele

Tornou a recomendar:

- Daqui lá só são mil léguas

numa hora hás de chegar

porem este teu cavalo

não é preciso açoitar.

 

- Basta que de hora em hora

você dê-lhe uma lapada

corra, siga à toda pressa

não te importes com nada

porem quando chegar lá

encontra a porta fechada.

 

- Fique ali bem escondido

pra ninguém o perseguir

quando bater meia-noite

o portão há de se abrir

entre sem fazer zuada

para ninguém não o vir.

 

- Dentro tem leões e lobos,

ursos, camelos urrando,

cobras, serpentes assanhadas

leão, leoa rosnando

pantera, porco do mato

sobre as laranjas avançando.

 

- Não te importes com nada

porque assim determina

quando entrar vá chamando:

Oh! Laranja tangerina

Me acompanha a um chamado

Do Reino da Pedra Fina.

 

José chamou a laranja

Ela veio, ele levou-a

Fez como a princesa disse

E não deu passada à-toa

Montando no seu cavalo

Corria como quem voa.

 

José dizendo as palavras

Todo bicho se mordia

Para tomar a laranja

Um puxava outro queria

José arribou com ela

Já acabou-se a porfia

 

Correu com essa laranja

Os bichos atrás pra tomar

Numa grande violência

Viu-se o portão se fechar

Nem a cauda do cavalo

Eles puderam pegar.

 

Não é preciso saber

Quanto o cavalo corria

Nem mesmo uma ave rapina

A favor da ventania

Basta dizer que tirava

Umas mil léguas por dia

 

José que vinha contente

Com a laranja na mão

Entregou ela à princesa

Ela prestou atenção

Disse José: - Veja bem

A laranja é esta ou não?

 

Disse ela: - Vou te mostrar

O poder da natureza

Pegou, partiu a laranja

Em cima de uma mesa

Saiu de dentro uma moça

Mais linda que a princesa

 

Disse a princesa a José:

- Esta é a minha irmã

que o leão carregou

um dia pela manhã

depois juntou as bandas

e a laranja ficou sã.

 

Chamava-se Romana

O corpo um tanto delgado

Olhos pretos muito vivos

Nariz bastante afilado

Dentes alvos, boca linda,

Rosto bem feito e corado.

 

Elas ficaram falando

Em tudo que se passou

Que o rei queria a laranja

Como de fato, chegou

José foi levar no dia

Que o tempo completou.

 

O rei ficou satisfeito

E lhe deu muito dinheiro

Deu-lhe mais uma medalha

Com honra de brigadeiro

Depois tirou-lhe também

Para ser seu conselheiro.

 

José foi com o barbeiro

Este voltou na carreira

Dizendo ao rei: - Vi agora

Outra moça verdadeira

Lá na casa do José

Mais linda que a primeira!

 

Disse o barbeiro ao rei:

- Todas elas são donzelas

eu nunca vi neste mundo

duas figuras tão belas

rei meu senhor faça tudo

para gozar todas elas.

 

- Ainda temos outro jeito

rei senhor mande chamar

José pra ir no reinado

Das limeiras de Tupar

Ele indo essa viagem

Nunca mais há de voltar.

 

José seguiu para a corte

Fingindo ter paciência

Para acudir o chamado

Que vinha com muita urgência

Cumprimentou os vassalos

Cheio de benevolência.

 

Disse o monarca: - José

Esta vez é a terceira

Para buscar-me uma lima

No Reinado das Limeiras

Já que tiveste coragem

De voltar das Laranjeiras

Disse a princesa: - José

Eu lhe hei de proteger

Preste-me bem atenção

Repare o que vou dizer

Ensinou tudo a José

Como devia fazer

 

Saiu ele à toda pressa

Correndo por uma estrada

Saiu de casa ao meio-dia

Foi chegar de madrugada

Achou o portão fechado

Esperou pela entrada.

 

Chegou, ouviu o sussurro

De muitos bichos que havia

Ele morrendo de medo

Porem não se remexia

Até o próprio cavalo

De medo também tremia

 

Quando batiam seis horas

Ia o portão se abrindo

Ele entrou e foi vendo

Feras de dentes rangendo

Debaixo da limeira

Tinha um leão dormindo.

 

Ele entrou e foi chamando

Pela lima camponesa

- Eu venho aqui te buscar

obrigado a natureza

preciso que não me faltes

ao chamado da princesa

 

José agarrou a lima

Com uma mão segurou

As feras partiram em cima

Porém José se livrou

Quando ia chegando perto

Ai o portão se fechou.

 

Como ele correu com medo

Não podia ter demora

Chegando, entregou a lima

Na mão de sua senhora

Disse ela: - Quero ver

O que vão inventar agora.

 

No reinado tinha uma

Do Reino das Laranjeiras

Depois chegou a caçula

Do Reno das Limeiras

Era a caçula mais bela

Do que as duas primeiras.

 

A lima ficou partida

Ela com jeito fechou

Não tinha nenhum defeito

A José ela entregou

Depois que findou o prazo

Foi quando José voltou.

 

O rei recebeu a lima

Foi tratando de pagar

Deu tanto dinheiro a ele

Que não tinha onde botar

O barbeiro foi com ele

Para seu cabelo cortar.

 

Chegou junto com José

O barbeiro conhecido

Quando viu as três princesas

Foi correndo espavorido

E sem poder dizer nada

Do que tinha acontecido.

 

Disse ele: - Rei senhor

Eu lhe digo com franqueza

Fui à casa de José

E lá vi outra princesa

Que aquela só sendo feito

Pela mão da natureza.

 

- Pra rei senhor gozar nelas

outro conselho vou dou

mande José ao inferno

dizendo que precisou

de saber noticia certa

do finado seu avô.

 

- Rei meu senhor mande logo

fazer um grande alçapão

dizendo: - É este o caminho

vai por debaixo do chão

quando entrar, feche a porta

morrerá sem remissão.

 

Mandaram chamar José

Ele depressa chegou:

- Quero que vá no inferno

o monarca assim falou:

- Para levar um oficio

ao finado meu avô.

 

- Traga noticia de lá

e volte pra me dizer

isto que estou lhe dizendo

o senhor tem que fazer;

volta José soluçando

na certeza de morrer.

 

A princesa disse a ele:

- O rei faça o que quiser

eles agora vão ver

a força duma mulher

ninguém judia contigo

enquanto eu vida tiver.

 

- Pega estas duas pedras

leva elas duas na mão

elas num lugar escuro

te servem de lampião

lá tu fazes um discurso

na porta do alçapão.

 

Nesta hora por ali

Fica tudo admirado

Afrouxes as pedras da mão

E dás um pulo de lado

O fogo que sai das pedras

Deixa tudo encandeado.

 

José compreendeu tudo

Aprontou-se pra sair

Quando o réu deu o oficio

Pegou ele a discutir

Pulou dentro, saiu fora

Sem ninguém o pressentir.

 

Todos disseram: - Aquele

Nunca mais há de voltar

Que só do pulo que deu

Viu-se o fogo brilhar

Labaredas do inferno

Na porta veio encontrar.

 

José no mesmo momento

Pra sua casa voltou

Chegando mais que depressa

Em um quarto se trancou

A mulher pegou a roupa

No fumeiro desprezou.

 

Todo dia ela queimava

Muito enxofre no fumeiro

Porem sempre às escondidas

Fazia muito ligeiro

Assim foi continuando

Completou um ano inteiro.

 

José como quem está preso

Seu cabelo não cortava

Não lavava pés nem mãos

As unhas nunca aparava

Um banho nunca tomou

Nem nunca se barbeava.

 

Vou dizer o que fazia

O rei com seu barbeiro

Que mostrava no seu carro

Na roupa só tinha cheiro

Iam visitar as moças

Só chegavam no terreiro.

 

No palácio de José

Quando o rei ali saltava

A princesa na janela

Mas nem o cumprimentava

Se o rei subia a calçada

O palácio se fechava.

 

O rei andava de novo

Começava a rodear

Ela deixava a janela

Procurava outro lugar

Depois de desenganou

E não quis mais passear.

 

Vamos tratar de José

De qual forma se arranjou

Lhe disse a princesa um dia:

- Eu vou ver que jeito dou

para o barbeiro passar

pelo que você passou.

 

Quis a princesa vingar-se

Do que o barbeiro fazia

Escreveu uma resposta

Com grande aristocracia

Com letras feias e gregas

Que só o diabo sabia.

 

Dizendo: “Meu caro neto

Eu aqui estou sossegado

Fiquei ciente de tudo

Que me foi participado

Pelo mesmo portador

Lhe comunico o passado.

 

Eu aqui sou um guerreiro

Não me sujeito a ninguém

Mande sem falta o barbeiro

Que por hora aqui não tem

Para cortar meu cabelo

E minha barba também”.

 

Vinha na carta dizendo:

“as suas ordens estou

mande cá o seu barbeiro

bem sabe que lá não vou

aceite mil saudações

do finado seu avô”.

 

Aí José se vestiu

Com a roupa esfarrapada

Fedendo muito a enxofre

A espada enferrujada

Com os cabelos de monge

A barba toda assanhada.

 

Botou a carta no bolso

No mesmo instante levou

Antes de chegar na corte

Ele com a um praça encontrou

Ele era um general

E o praça não se importou.

 

Ele repeliu o praça

Com muita benevolência

Dizendo: - Sou general

Conheço a jurisprudência

Vá mudar de roupa nova

Pra me fazer continência.

 

José entrou no palácio

Foi logo avisando o rei

Que de longe perguntou-lhe:

- Que és que até me espantei?

- Sou o general da carta

que do inferno cheguei.

 

- Ontem cheguei de viagem

ele mandou um oficio

receba ele esta aqui

pra trazer fiz sacrifício

só não fui mal na viagem

porque lá vi um patrício.

 

Quando ele leu o oficio

Pelo assunto primeiro

Viu logo que seu avô

Mandou chamar o barbeiro

Disse o rei: - Vá se aprontar

Pra ir no mesmo roteiro.

 

- É pra seguir amanhã

não deixe mais demorar

meu avô manda chamá-lo

e eu não posso negar

é para fazer-lhe a barba

e seu cabelo cortar.

 

Disse ele: - Sigo já

Como o general seguiu;

Fez também o seu discurso

Quando o alçapão abriu

Ele, navalha e tesoura

No grande abismo caiu.

 

Ele morreu de repente

Daquela morte fatal

Ficou José descansando

De quem lhe fez tanto mal

Depois morreu sempre o reis

Ficou sempre o general.

 

José que era o rei

De toda aquela nação

A princesa disse a ele:

- Teu pai está na prisão

tua mãe também está presa

junto com o teu irmão.

 

- Pois é bom que saia cedo

vai para aquele lugar

espera pelo teu povo

que eles têm que passar

e os toma dos soldados

quero com eles falar.

 

José foi para o ponto

Com pouco avistou seu pai

Sua mãe e seus irmãos

Dando suspiro e ai

Diz ele às praças: - Este povo

Daqui pra diante não vai.

 

Os soldados responderam:

- Vão todos ao processados

os levamos para o juiz

para ser interrogados;

respondeu José com raiva:

- Dêem meia volta, soldados!

 

José levou todos eles

E entregou à princesa

Ela foi cortou-lhes as cordas

Sentou-se numa marquesa

Ficaram todos com medo

Quando chegaram na mesa.

 

Disse a velha: - Com certeza

Nós todos vamos morrer

Pois o réu não se ocupa

Beneficio nos fazer;

Disse o velho: - E é na forca

Pegaram a se maldizer.

 

Botaram o jantar pra eles

Pra Antonio, feijão com bredo

Pra João, banana com casca

Ficaram todos com medo

Disse a velha consigo:

- Está descoberto o segredo.

 

A primeira disse a ela:

- Vejo tudo amedrontado

minha velha sente-se aqui

me conte o que foi passado

senão disser morre tudo

de um por um degolado.

 

- A senhora me responda

quantos filhos já tem tido?

- Só tenho Antonio e João

outros já têm morrido;

- A senhora não tem outro

que está no mundo perdido?

 

- Conta a história direito

não é preciso negar,

quede José, seu caçula?

Deve inda se lembrar;

Disse a velha: - Essa história

Eu não preciso contar.

 

A velha morta de medo

Sempre lhe fez o pedido

Dizendo: - Eu tive José

Meu caçula querido

Faz dez anos que ele

Anda no mundo perdido

 

- Ele era inteligente

não sei se era por sina

pois desejou ver as pernas

das moças da Pedra Fina

meu marido teve medo

foi com ele à disciplina.

 

Disse a princesa: - O menino

Apanhar não merecia

Se por acaso a senhora

Visse ele conhecia?

Lhe disse a velha: - Conheço

Em qualquer hora do dia.

 

Ela perguntou à velha

(porem lhe mostrando agrado):

- A senhora conhece aquele

que se acha ali sentado?

Lhe disse a velha: - É o rei

Que governa este reinado.

 

José não agüentou mais

Partido de comoção

Abraçou-se com a velha

Chorando pediu perdão

Ajoelhou-se aos pés dela

Para tomar-lhe a benção.

 

José abraçou a todos

Como era bom irmão

Casou Antonio com Romana

A caçula com João

Foram viver no reinado

Na mais perfeita união.

 

Portanto devemos ter

O pensamento adiantado

José, um menino pobre

Trabalhando no roçado

Desejou ver a princesa

Por isso foi castigado.

 

Viveram todos felizes

Gozando mil maravilhas

José como uma estrela

Que no firmamento brilha

Mostrou que ele sozinho

Felicitou a família.


quinta, 21 de fevereiro de 2019 as 21:29:01

Lane Porto
disse:

Ai que linda história de Trancoso 😍 minha infância, quanta saudade, minha mãe na beira da fogueira contando a história da princesa do reino da pedra fina.... Simplesmente perfeita, fico feliz em ter encontrado.. bjs pra todos vocês.


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