Volta e meia, eles mudam de nome. Foram remediados. Viraram pobres. Passaram a miseráveis. Aí apareceram os carentes. Seguiram-se os despossuídos. Depois, os descamisados.
Hoje, os pobres estão em outra. É vez do sem. O desabrigado é sem-teto; o desamparado, sem-justiça; o agricultor que não tem onde plantar, sem-terra. Etc. e tal.
O sem deu filhotes. Ocorreu a manifestação dos sem-terrinha, sem-celular, sem-micro-ondas e sem-carro importado. Enfim, a criatividade anda solta. Mas há um limite.
Os sem – todos eles – são sem mesmo. Sem feminino, sem masculino e sem plural. Como não se confundir? Basta prestar atenção à companhia. O artigo, o adjetivo e o verbo não guardam segredo. Abrem o jogo:
Viviane Pasmanter viveu a sem-teto da novela Anjo de Mim (o a diz que nos estamos referindo a nome feminino singular).
Sem-justiça vão lutar contra a mineradora (o vão não deixa dúvida: o sujeito é plural).
Sem-teto busca resposta para o problema de moradia (o verbo informa que sem-teto é substantivo singular).
Moral da opereta: os sem são os sem-flexão. Nem masculino, nem feminino, nem plural. É tudo igual.